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Barbárie de Queimadas: sobrevivente fala pela primeira vez, onze anos após o crime

"Velando minha irmã e relatando tudo o que aconteceu", disse a vítima no programa Linha Direta da última quinta-feira (11)

Carolina Mota
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Priscila Frazão Monteiro era o alvo sexual principal dos acusados pela Barbárie de Queimadas, estupro coletivo que foi planejado como um presente de aniversário e fez cinco mulheres vítimas, duas delas sendo mortas no dia 12 de fevereiro de 2012.

Durante o crime, a sobrevivente esteve com medo, porém atenta. No dia seguinte, Priscila velou a irmã e contribuiu de forma decisiva para as investigações da Polícia Civil. Ela falou pela primeira vez, onze anos após o crime, no programa Linha Direta desta quinta-feira (11).

"Não é fácil. Ao mesmo tempo que eu estava velando a minha irmã e a minha amiga, eu tinha que ser forte para relatar tudo que aconteceu de uma forma que eles, enquanto Polícia Civil, acreditassem em mim e fossem prender todos que tinham feito aquilo com todas nós", desabafa Priscila Frazão.

Os motivos do crime só foram desvendados porque Priscila resolveu falar.

Estupro coletivo 

Priscila conta que, no dia 11, foi à casa de Eduardo, irmão do aniversariante Luciano dos Santos, para comemorar o aniversário. "O portão da casa dele estava totalmente aberto, só com o carro com a traseira aberta e o som ligado para dentro da casa", relata.

Em certo momento, todas as luzes foram apagadas e Eduardo foi fechando o portão. Depois, outros foram entrando encapuzados e anunciando um assalto.

"Uns usavam máscara preta, luvas pretas e outro estava usando máscara de carnaval. A gente correu, todo mundo, para trás. Eu, minha irmã e Michele. E eles foram atrás da gente. Mandaram todos sentar no chão, e começaram a encapuzar e a colocar o 'enforca-gato' nas mãos", detalha.

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Numa tentativa de conseguir se soltar depois, Priscila separou um pouco as mãos no momento que a prenderam. Com as mãos amarradas e a boca amordaçada, Priscila só conseguia rezar.

Todas as mulheres que estavam na casa, exceto a esposa de Eduardo e a namorada de Luciano, sofreram abusos.

"Eles me pegaram e levaram para dentro de casa. Eu ouvi quando minha irmã disse assim: 'Eduardo, não, pare que mainha não vai gostar disso'. Eu ouvi e foi bem agoniante para mim. Eu não tinha forças nem para ajudar minha irmã, nem ajudar Michele. Eu também estava ali", desabafa.

Nesse momento, Priscila já sabia que Eduardo Pereira dos Santos, com quem a irmã dela, Isânia Frazão Monteiro, foi casada, estava envolvido no assalto forjado e nos estupros praticados.

"Eu rezava em voz alta, eles me agarrando e me chamando de safada. Foi no momento que eu tentei e consegui soltar as minhas mãos. Comecei a me debater e como eu entrei em luta corporal com eles, eles me deram uma coronhada na cabeça. Eu caí no cantinho do quarto. E quando eu caí, fingi que estava desacordada", conta.

Ao notar um silêncio na casa, Priscila tentou encontrar Izabella e Michele. Procurou por todos os cômodos e não encontrou. Foi quando saiu para os fundos da casa e se deparou com Lilian, esposa de Eduardo, e Sheila, namorada de Luciano. Intocadas. "Elas estavam como se nada tivesse acontecido com elas", revela.

Quando percebeu que a irmã e a amiga não estavam na casa, Priscila correu pra rua e se deparou com Eduardo entrando na casa. "Quero saber onde estão Ju e Michele. Cadê Ju e Michele, Eduardo?". Sem respostas, correu para casa.

"Na minha cabeça, eu já sabia que era ele. Eu disse a mainha: 'assaltaram a casa de Eduardo e levaram as meninas. Eu sei quem foi, mas vamos achar as meninas'. Minha preocupação era acharmos elas e elas estarem bem", diz Priscila.

Cinco mulheres chegaram a ser violentadas sexualmente. Izabella e Michele morreram porque identificaram os agressores. Izabella, inclusive, era ex-cunhada de um dos suspeitos.

Investigação

Priscila Frazão tem participação direta na investigação policial. Ela levou a polícia aos endereços dos acusados um dia após o crime. Mas, para ela, o sentimento ainda era de revolta.

"Na hora eu estava com sentimento de perda, estado de choque e eu queria justiça. Parecia coisa de outro mundo. Quando saí lá da Central, desceram vários carros para Queimadas. Eles me colocaram colete a prova de balas. E aí foram prendendo um por um", lembra Priscila.

Eduardo e Luciano foram presos um dia depois, suspeitos do crime, enquanto acompanhavam o cortejo dos caixões das vítimas para o cemitério.

Combate à violência contra a mulher

Isânia, outra irmã de Izabella e Priscila, assumiu uma luta para combater a violência contra a mulher.

"Eu não queria estar aqui fazendo isso. Eu sei que, de alguma forma, expõe demais, expõe a minha imagem, me deixa, de certa forma, insegura. Mas nesse momento eu não posso me silenciar pelo meu sangue que foi derramado", declara Isânia.

Para Priscila, a força que encontrou para conseguir falar sobre o caso vem da possibilidade sempre a vista de tentar diminuir o número de casos semelhantes.

"É difícil, enquanto vítima, ter que lutar por justiça, buscar a justiça, ter que reviver toda a cena do acontecido, é difícil enquanto vítima relatar várias vezes, mas é necessário. É necessário que a gente se fortaleça, relate, e busque por justiça. É muito importante que as mulheres possam ser fortes e se encoragem para buscar e lutar pela justiça. Fale, sem vergonha nenhuma, mas é preciso falar", finaliza.

Carolina Mota, estagiária sob supervisão de Elisa Vaz, repórter do Núcleo de Política e Economia*

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