Belém 408 anos: Apogeu da borracha deu origem ao período conhecido como Belle Époque paraense

Uma série de intervenções urbanas, financiadas pelo boom econômico do período, transformaram a cidade na “Paris n’América”

Ádria Azevedo | Especial para o Liberal
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A Belém de hoje, que completa 408 anos, guarda muito do que foi realizado durante o ciclo da borracha, que deu origem à Belle Époque paraense. Impulsionadas pelo boom econômico oriundo da comercialização do látex, várias obras de urbanização e modernização da cidade foram realizadas, capitaneadas sobretudo pelo intendente (cargo que hoje corresponde ao de prefeito) Antônio Lemos.

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Mas o que foi exatamente o ciclo da borracha e como repercutiu na economia, política, arquitetura, urbanização e cultura em Belém? O que exatamente foi a Belle Époque paraense? E qual o papel de Antônio Lemos para construir traços de uma cidade que é reconhecida até hoje?

A historiadora e professora da Universidade Federal do Pará, Maria de Nazaré Sarges, é uma referência quando se fala desses assuntos. Biógrafa de Antônio Lemos, ela estudou a fundo o período do ciclo da borracha e a atuação do intendente. 

“A economia da borracha foi a grande propulsora da modernização da cidade, haja vista que o excedente da exportação do produto facilitou a implementação das mudanças físicas do espaço urbano. Podemos apontar que, do porto de Belém saía a maior parte da produção amazônica da borracha para o exterior. Esse cenário transformou Belém num centro cosmopolita da região, facilitando a importação de costumes e hábitos de países europeus, como França e Inglaterra”, explica a especialista.

O ciclo

Embora tenha tido outros ciclos, o tempo áureo da borracha na Amazônia aconteceu entre 1879 e 1912, embalado pela Segunda Revolução Industrial e sua demanda crescente pelo látex, para a fabricação de pneus, solas de sapatos, correias e outros produtos. 

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Apesar do látex ser conhecido e utilizado há muito tempo pelas populações amazônicas, extraído da espécie nativa seringueira, suas utilidades foram descobertas pela Europa no início do século XIX. A procura pelo produto, a partir de 1850, aumentou exponencialmente, tornando a Amazônia um grande exportador da borracha, no que se tornou um importante período histórico da economia brasileira. Além dos óbvios ganhos econômicos, o ciclo promoveu reconfigurações, como a intensa migração de nordestinos para trabalhar na extração do látex, e a transformação de cidades como Belém e Manaus.

A “bela época”

Belle Époque foi um período da história europeia, marcado por intensas transformações no modo de vida, que se seguiram a um período sem guerras e de grande desenvolvimento tecnológico na região. Durou do fim do século XIX até o início da Primeira Guerra Mundial e foi reconhecido com uma época de progresso e efervescência cultural. 

Em associação a esse movimento europeu, principalmente francês, o período do ciclo da borracha, e todas as transformações que ocorrem em consequência dele, ficou conhecido como Belle Époque paraense.

“Chama-se esse período de Belle Époque paraense porque foi um momento em que o gestor da cidade de Belém, no caso o intendente Antônio Lemos, procurou espelhar na configuração urbana um modelo europeizado de glamour, luminosidade e civilização”, pontua Nazaré Sarges.

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Inspirados sobretudo pela cultura francesa, políticos e elites locais buscaram transpor para Belém o modo de vida, as manifestações artísticas e as características urbanísticas da Paris da época. É dessa período, por exemplo, a construção de um dos símbolos da cidade, o Theatro da Paz, e suas apresentações culturais ao gosto europeu.

O intendente Antônio Lemos, que administrou Belém de 1897 a 1911, tinha a intenção de transformar Belém em uma “petit Paris”, ou seja, uma pequena Paris, ou ainda uma “Paris n’América” - nome que acabou sendo adotado por uma loja de produtos europeus para a elite endinheirada da época. Daí a construção de ruas largas, chamadas boulevards, e de áreas verdes como o Bosque Rodrigues Alves, aos moldes do Bois de Boulogne parisiense, e a Praça Batista Campos. Tudo isso levava a elite local a se identificar com a elite europeia.

Além disso, também foram importados para Belém avanços tecnológicos, como o bonde elétrico e a iluminação pública, e foi adotado um modelo de sanitarismo europeu, que envolveu a construção de redes de esgoto e de abastecimento de água e o tratamento do lixo, mas promoveu também fechamento de cortiços e outras ações que empurraram as pessoas mais pobres para áreas periféricas e inadequadas.

O fim de uma era

No ano de 1877, ingleses contrabandearam mais de 70 mil sementes de seringueira do estado do Pará. Essas sementes foram utilizadas para o plantio da espécie em colônias inglesas na Ásia que, pela semelhança com o clima amazônico, tiveram sucesso e grande produção. A partir de 1910, a borracha amazônica não teve mais como concorrer com a borracha asiática, que era mais vantajosa economicamente, por ter sido implantada como monocultura. Por isso, o período áureo da borracha chegou ao fim, não sem antes deixar um grande legado para Belém.

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