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Viajar à cidade de Portugal que é berço da devoção a N Senhora de Fátima é mesclar emoção e fé

A experiência da visita ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima em Portugal é indescritível

Ana Carla Ribeiro

Foi uma coincidência engraçada. Justamente no dia de conhecer a cidade da “Senhora mais brilhante que o sol”, como assim os três pastorinhos descreveram Nossa Senhora de Fátima, parecia estar mesmo um sol para cada. Não é nada difícil descer do autocarro (ônibus) na rodoviária da cidade de Fátima, em Portugal, e ir ao encontro do seu Santuário. Bastou três minutos de caminhada para que as ruas e rotatórias, comuns como tantas outras, dessem lugar a uma imensa área aberta, repleta de pessoas a balançarem lenços brancos no ar. Era pouco mais de meio dia e, talvez por sorte, era justamente a hora da missa

Não deixa de ser tocante para os nascidos em Belém do Pará, pela intimidade com as devoções do Círio de Nazaré, ver do outro lado do oceano as reverências a Nossa Senhora de Fátima. Afinal, trata-se, no fim das contas, de uma das invocações atribuídas à Virgem Maria. Essa familiaridade, misturada ao sentimento inexplicável (e tão bem conhecido pelo que se sente no Círio) de admiração à fé alheia, talvez tenha sido o que mais marcou: os peregrinos, de joelhos, a irem da Basílica da Santíssima Trindade para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário; e as músicas dedicadas a Nossa Senhora – cantadas por uma gente que, na maioria das vezes, fechava os olhos e parecia nem mais estar ali. De longe já dava para avistar uma fila que parecia ser interminável. Só depois, ao chegar mais próximo da Capelinha das Aparições (local onde a santa mais vezes apareceu aos pastorinhos) é que foi possível entender que, logo ao lado, a fila terminava no local de queima das velas.

image Imagem de Nossa Senhora de Fátima (Foto: Filipe Amorim / AFP)

Estava cheio e o calor não era muito diferente das temperaturas papa-chibés. Mas ninguém parecia ligar muito para isso. Existia ali alguma aura de calmaria. Por ter a volta a Lisboa marcada para o início da noite e compreender que seria impossível desviar da multidão para visitar o interior das duas Basílicas àquela hora, resolvi começar a caminhada de cerca de dois quilômetros (mais ou menos meia hora) rumo à pequena aldeia de Aljustrel, onde ficam as casas dos três pastorinhos que presenciaram as aparições de Nossa Senhora de Fátima no ano de 1917:  Lúcia e os irmãos Francisco e Jacinta. 

Rosas pela aldeia dos pastorinhos

O caminho até a aldeia é interessante. É possível ver traços das devoções dos moradores na decoração das casas, além de placas e pequenos monumentos em homenagens à santa nas ruas e calçadas. Porém, o que mais impactou foram as dezenas de roseiras espalhadas pelo trajeto. Nada é por acaso. Em uma de suas aparições, Nossa Senhora de Fátima se identificou aos pastorinhos como “A Senhora do Rosário”. A própria palavra “rosário” quer dizer um tanto de rosas que se oferece aos céus. Para falar de flores, eu nunca tinha visto tantas rosas espalhadas em jardins residenciais ou mesmo ao relento num mesmo dia - algumas brancas, outras cor-de-rosa, tantas outras vermelhas. 

Cidade de Fátima

Mais próximo de Aljustrel do que do Santuário de Fátima, resolvi parar para almoçar. Lembrei de uma informação importante: as casas dos três pastorinhos estão abertas gratuitamente à visitação, mas fecham das 13h às 14h. Como já era a hora da pausa, repor as energias foi uma estratégia inteligente. Não houve dificuldades para achar um restaurante. Com o turismo religioso, a cidade está muito bem estruturada.

O caminho até a casa dos pastorinhos foi feito com a ajuda do Google Maps, um fiel escudeiro nesses desbravamentos lusitanos. O primeiro ponto visitado foi a casa dos pais de Francisco e Jacinta. Ali, Manuel Pedro Marto e Olímpia de Jesus moraram desde 1930 até falecerem (1956/1957). O casal fez do espaço o seu lar, após terem doado a casa onde nasceram Francisco e Jacinta para as autoridades. Lá, encontram-se uma série de objetos pessoais da família Marto: utensílios de cozinha, de agricultura, vestuário e terços, entre outros muito significativos, como a própria cama onde Francisco morreu.  

Bem pertinho, está a casa onde nasceram Jacinta e Francisco, construída em 1888. Lá está o quarto onde Francisco veio a falecer, em 1919, além do quarto onde os dois irmãos pastorinhos nasceram e onde Jacinta esteve doente, antes de ser transferida para um hospital em Lisboa, onde morreu, em 1920. A cerca de 200 metros da casa de Jacinta e Francisco está a casa de Lúcia. Efetuaram-se lá os primeiros interrogatórios aos videntes. No quintal, existem ainda as figueiras à sombra das quais os três pequenos pastores brincavam e se escondiam quando procurados por curiosos ou peregrinos. Em 1981, a Irmã Lúcia, que faleceu somente aos 97 anos, em 2005, ofereceu a casa ao Santuário, que dela tomou posse apenas em 1986.

Locais de aparições

O Poço do Arneiro está localizado ao fundo do quintal da casa da Lúcia, lugar em que ela, junto aos primos Jacinta e Francisco, costumavam tirar a sesta e brincar. Foi lá que houve a segunda aparição do anjo, no verão de 1916. A primeira e a terceira aparição do anjo aconteceram nesse mesmo ano, no trajeto do Caminho dos Pastorinhos, que integra a Via Sacra de Fátima, conhecida pelos peregrinos que desejam entrar em oração e meditação.

Foi da casa de Lúcia que segui até Valinhos, a cerca de cinco minutos a pé, já no Caminho dos Pastorinhos. Das seis aparições que fez em 1917, Nossa Senhora de Fátima mudou de local (hoje, a Capelinha das Aparições) e de dia (sempre ao dia 13 do mês) apenas uma vez, por ocasião da prisão das crianças pelo Administrador do Concelho – com ‘cê’ mesmo, era o nome dado de uma das figuras pública da administração portuguesa, à época -, pelas possíveis perturbações que as histórias que elas contavam causavam à população. Como elas estavam encarceradas, em Vila Nova de Ourém, no dia 13 de agosto de 1917, a aparição prometida para aquele mês aconteceu só depois que elas foram soltas, no dia 19, em Valinhos. 

Esse é, sem dúvidas, um dos locais mais belos da cidade. Muito arborizado, possui um monumento onde se encontra a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Mesmo com a cidade lotada, por ser um ponto um pouco distante do Santuário, consegui sentar para contemplar as flores e cheguei a ficar muitas vezes sozinha, o que me deu a sensação de ter entrado em certo estado meditativo. Também tive a mesma impressão ao andar sozinha – e inclusive me perder em alguns momentos – pelo Caminho dos Pastorinhos. 

Nem sei exatamente explicar como cheguei à Loca do Cabeço (local da primeira e da terceira aparição do anjo), pois nessa hora o Google Maps não foi muito preciso e precisei andar mais do que devia. Mas, cheguei, com a orientação das poucas pessoas que encontrei pelo caminho.

Feliz pela conquista dos objetivos, retornei o caminho que fiz até o Santuário de Fátima, sem me dar conta de que já estava bastante queimada pelo sol. Faltavam duas horas para que eu apanhasse o autocarro que me levaria de volta para Lisboa, tempo suficiente para visitar o interior das duas Basílicas lá pertencentes. Dessas últimas visitas, destaca-se, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, os túmulos dos três pastorinhos: de Jacinta e Lúcia, à esquerda, e de Francisco, à direita. 

Antes de seguir rumo à rodoviária, já saindo do Santuário, dei uma última olhada para trás. O céu azul turquesa – típico dos dias bonitos em Portugal - ainda contrastava com a alta torre branca da Basílica de Nossa Senhora do Rosário. Havia alguns pássaros, também brancos, a rodearem o mesmo céu. Lembrei-me de todas as rosas apreciadas pelo caminho. Era domingo, e eu poderia estar descansando em casa. Agradeci. Nem os melhores sonos poderiam ter proporcionado tamanha paz.   

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