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Ver-o-Peso abriga a essência de Belém

Surgido da Casa de Haver o Peso, espaço é formado por duas feiras, dois mercados e a Pedra do Peixe

João Thiago Dias
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Com quase 393 anos de história, o Ver-o-Peso, maior complexo de feira livre da América Latina, é uma miscelânea de aromas, cores, sabores, artesanatos, culturas e setores de trabalho em Belém. Inaugurado em 27 de março de 1627, o espaço conta com 1.225 permissionários cadastrados pela Secretaria Municipal de Economia (Secon), número que chega a dobrar se for considerado o número de ajudantes.

A Casa de Haver o Peso foi criada no ano de 1625 e a partir de 1627, ano considerado de fundação do local, o Ver-o-Peso passa a se consolidar como maior entreposto de mercadorias da região Norte, acompanhando o crescimento da cidade e se adequando às modernidades trazidas pelo auge da economia da borracha na capital paraense, já no final do século XIX. 

Atualmente, o complexo compreende a feira tradicional, com 760 permissionários; a do açaí, com 124 feirantes; o Mercado Francisco Bolonha ou de Carne, como é mais conhecido, com 95 permissionários; o Mercado de Ferro ou de Peixe, com 84 vendedores; e a chamada Pedra do Peixe, com 162 permissionários.

image Açaí (Igor Mota / O Liberal)

Personagens, produtos e histórias se entrelaçam diante de consumidores e turistas de vários países. A feira é um dos principais locais de abastecimento da cidade, além de ser um dos pontos turísticos mais visitados. Como grande mercado aberto que recebe a produção agrícola e pecuária vinda do interior, mantém uma relação de consumo e comércio principalmente de gêneros alimentícios.

Na Pedra do Peixe, maior entreposto de comercialização do pescado por atacado do estado do Pará, as mercadorias são trazidas por barqueiros de muitos interiores. O funcionamento é das 2h às 7h, de segunda a sábado, em frente à Praça do Relógio. O trabalho é organizado pelos balanceiros, categoria que atua no espaço como negociadora do pescado. 

De acordo com o presidente da Associação dos Balanceiros do Ver-O-Peso, Daniel Matos, é lá que o dia começa na cidade. "Enquanto muitos estão dormindo, estamos preparando o abastecimento da cidade. Trabalho há 37 anos neste ofício, isso como balanceiro oficial, mas eu ajudava meu pai desde meus 10 anos de idade junto com meus irmãos. Acontece muito de passar de pai para filho. Tem muitos que já faleceram, mas os mais antigos trabalham há uns 45 anos".

Açaí

Na Feira do Açaí, que fica próxima do Forte do Castelo, a movimentação começa no início da noite, quando chegam os primeiros barcos abastecidos com toneladas de açaí colhidos da floresta e ilhas da região. A comercialização geralmente se inicia por volta das 4h e segue até por volta das 9h, com vendedores gritando para oferecer paneiros com a fruta que faz parte da alimentação diária de muitos paraenses.

O marreteiro é responsável pela venda. Para Eder Ferreira, que tem 37 anos no ofício, as madrugadas representam lucro. "Trocamos o dia pela noite para garantir o sustento. Vendemos tudo até o fim da manhã. Aprendi a mexer com açaí na companhia do meu pai, que era carregador aqui. É uma fruta que não pode faltar em restaurantes e nas lojas de batedores, porque vira almoço de muitos", explicou. 

Ervas

Na busca por um amor ou de saúde e prosperidade, visitantes frequentam o setor de ervas do Ver-O-Peso, onde se concentram 80 barracas. As erveiras compartilham conhecimento popular para tratamento natural de muitas enfermidades por meio de banhos e misturas de plantas da Amazônia. Também há perfumes, cremes, sabonetes e outros produtos produzidos com ervas para as mais variadas finalidades.

Bernadete Freire, 69, a Beth Cheirosinha, tem 53 anos dedicados ao ofício de erveira e já se tornou referência de personagem para a imprensa. Com uma coleção de fotos de artistas que já visitaram a barraca dela em busca de alguma mistura de ervas, ela conta que se sente parte dos pontos turísticos da cidade.

image Beth Cheirosinha (Igor Mota / O Liberal)

"Vem turista de todo canto do mundo para visitar minha barraca. Aprendi a mexer com ervas com minha mãe e minha avó, que ajudaram a fundar esse bloco de trabalho. A minha mãe se chamava Cheirosa, por isso meu nome ficou Cheirosinha. Assumi o ofício com 17 anos e já inventei muitas misturas, como o xarope caseiro, o viagra natural e o atrativo do amor, sendo este último o mais procurado. E são ervas vindas dos interiores, ao redor de Belém", contou.

Mercearia

Na hora de preparar a maniçoba, prato indispensável da culinária paraense, muitos consumidores vão ao Ver-O-Peso. No setor de mercearia, o "Grupo Cão", formado pelos vendedores Orivaldo da Silva, Socorro Magno e Marcelo Sagica, se diverte atraindo os fregueses. "A gente vende com humor, fazendo do serviço um lazer. Assim, a gente consegue levar anos na profissão e atrair mais os clientes", disse Orivaldo, conhecido como Irmão.

"A nossa rotina começa umas 4h. Quem trabalha no Ver-O-Peso tem que acordar cedo. Mas temos a felicidade de estar em um setor muito procurado, porque são produtos que vão para a feijoada e maniçoba do paraense. Tem bacon, charque, calabresa, toucinho, rabo de porco e outros. Tem de tudo um pouco para agradar. E o cliente nem precisa procurar em outro lugar", acrescentou Orivaldo.

Frutas

O Ver-O-Peso também é um dos lugares do Brasil onde se pode encontrar as mais diversas frutas típicas da Amazônia. Taperebá, bacuri, pupunha, inajá, biribá, cupuaçu, castanha-do-Pará, bacuripari, tucumã, muruci, piquiá, uxi, mari, dentre outras são vendidas no setor de frutas, que é fonte de renda para a Dona Alzira do Espaço, 77, há 47 anos.

"Tem turista ou até morador daqui que não conhece muitas dessas frutas. Eles param e perguntam se podem provar. Eu morava no interior de Cametá e aprendi a lidar com frutas. Temos facilidade por causa do clima da região, que ajuda nessa diversidade. Dá para fazer suco de todos os gostos. São anos e anos nessa feira. Já me sinto parte da cidade", contou Alzira. 

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Belém
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