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Usuários já pensam em se 'desintoxicar' da internet por conta de excessos

Detox digital ganha adeptos e acende debate sobre a possibilidade de abrir mão do mundo virtual

Redação Integrada
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Há algum tempo se discute a necessidade de “dar um tempo” das redes sociais digitais nas próprias redes sociais. Inclui-se aí o celular, a TV, os videogames, a internet. Viver mais as experiências, ao invés de fotografar e filmar. Essa prática ganhou um nome aliado às tendências saudáveis da alimentação: detox digital. O segundo episódio da mais recente temporada da série Black Mirror, aborda o assunto. Mas a que ponto dar um tempo da conectividade pode ser um descanso? Faz bem se desconectar bruscamente? Que efeitos isso pode ter?

Quem já começou um processo desses diz que se sente muito melhor. Pela internet, há vários tipos de “desintoxicações” digitais. Alguns, mais brandos, sugerem começar se desligando de redes sociais digitais mais invasivas, sem abandonar de vez a tecnologia. Outras sugerem “jejuns” ocasionais de tecnologia, um dia inteiro ou dois. Os mais intensos recomendam uma viagem e o desligamento total.

Neste período, em que muitos viajam, há um incentivo a experimentar. O psicólogo Alessandro Melo Bacchini, professor doutor e coordenador do curso de Psicologia da Unama, recomenda uma autoavaliação. Se a conectividade está causando algum transtorno pessoal ou incômodo, o tal detox digital pode ser um experimento. Mas ele não fecha essa prática como uma solução específica para determinados problemas. Nem diz que fazer a desconexão total seja obrigatório para uma mente mais saudável. Só deve ser interessante buscar ajuda profissional se, ao tentar se desligar, a pessoa acabar sofrendo.

Bacchini analisa que muitas relações humanas se interligaram ao universo digital: contato com família e amigos, relações amorosas e relações de trabalho. Muitas atividades comuns também se incorporaram aos dispositivos móveis, como leitura, TV e música. Se qualquer uma dessas atividades induzir a alguma forma de descanso e relaxamento, afastá-las totalmente pode não significar descanso.

Uma relação sadia com a tecnologia, durante a folga, diz o professor, é avaliar mesmo se aquela atividade faz bem. Se o aproveitamento de algumas experiências incluir a tecnologia, que assim seja. Quer gravar e fotografar um show? Faça. A menos que seja um show do cantor Luan Santana, que tem estimulado as pessoas a guardar os celulares em determinado momento das apresentações. Gostou de uma paisagem e quer fazer uma foto ou vídeo? Faça. Está num lugar, mas lembrou de alguém e quer falar com ela pela internet? Faça. “É importante que cada um avalie como se sente em relação ao uso destes aparelhos. Afirmamos isto de forma a reiterar o cuidado para não patologizar formas de funcionamento, a priori, como se houvesse uma única norma de funcionamento para a vida”, recomenda Bacchini.

Para ele, não existe uma regra. “Uma única regra adotada para se fazer um detox digital seria justamente um processo adoecedor. Neste sentido, se as exigências cotidianas de relação implicam numa comunicação estritamente pela via digital, seria – talvez, pois depende de cada um – interessante buscar uma variação desta via comunicativa. Podemos considerar que o aproveitamento das férias, em relação ao uso de TV ou smartphone, depende de cada um, nos modos como esta pessoa encontra de lidar com as “novas regras” de comunicação presentes no mundo contemporâneo”, pontua o psicólogo.

Para redescobrir vivências

Se alguém resolver dar um tempo ou excluir totalmente o próprio perfil no Facebook, por exemplo, poderá redescobrir a vivência social e relações humanas. Não haverá a ansiedade por respostas. Não haverá a elaboração de cada palavra para se dirigir ao outro. O afastamento de alguém não vai gerar um efeito tão negativo quanto ver as estatísticas de amigos e engajamento diminuírem. As relações voltarão aos primórdios mais naturais. De certo modo, as “bolhas” sociais continuarão a existir.

Há outros efeitos não psicológicos para alguma forma de detox digital. Quem sofre com dores nas mãos por estar sempre digitando ou jogando, poderá descansar. Se alguém sente a vista cansada pelas leituras constantes, também vai ter o benefício para a vista. Há estudos que apontam que a luz azul das telas dos dispositivos provoca alterações no sono. As dormidas podem acabar sendo melhores. Tudo é questão de avaliação, como reafirma Alessandro Melo Bacchini. “Se – de acordo com Canguilhem (2002, p.183) – ‘(..) o anormal tem verdadeiramente a posse de outras normas’, sejamos um pouco mais indisciplinados quanto à norma de permanecer conectados, para, justamente, sermos ‘anormais’ – portanto, saudáveis”, explica o professor.

Massoterapeuta dá adeus às redes

Um dia, a massoterapeuta Giovana de Lucca, de 25 anos, acordou e decidiu que iria sair das redes sociais digitais. Leu sobre o assunto, levou em consideração as sessões de terapia com a psicóloga e apagou os perfis. Ficou apenas com o WhatsApp e o YouTube, onde diz aproveitar de tudo, “De culinária a unha encravada”. Brincar com isso foi um avanço. A relação com as redes não estava fazendo bem. Foi uma atitude muito pensada. No começo, disse, foi difícil, mas os benefícios começaram a chegar.

Tratando a depressão, em determinado momento Giovanna sentiu como se estivesse viciada em algumas sensações de recompensa que as redes sociais digitais geram. Ficava ansiosa quando não tinha alguma notificação sobre as pessoas que curtia ou sobre os posts que fazia. Isso passou a atrapalhar a vida dela e o tratamento. “As redes sociais podem ser como uma arma apontada para a cabeça de quem tem algum transtorno mental”, afirma.

“Eu senti uma melhora significativa na minha saúde ao fazer essa escolha. Hoje em dia, eu não me estresso e nem fico triste por conta de uma notícia que eu não preciso ver. Ou por comentários maldosos, porque agora eu simplesmente desconheço a maioria deles. Eu me senti aliviada, mas parecia que eu tinha morrido socialmente. E, de fato, para algumas pessoas, parece que você só existe se tiver as redes sociais. Virou uma espécie de identidade, de autoafirmação. Poucas pessoas vieram me procurar, quando perceberam que eu deletei meus perfis e saber se eu estava bem. A sensação que eu tenho é que morri virtualmente para viver a vida real de verdade”, relata.

O detox digital de Giovanna apenas começou. Ela diz que ainda passa muito mais tempo com o celular do que gostaria. Está tentando deixar o aparelho mais de lado e estabelecer horários para usar. Por experiência própria, recomenda a quem tem alguma folga disponível neste verão que tente experimentar a desconexão para curtir mais as experiências em si. “Certa vez meu celular quebrou antes de fazer uma viagem. Não deu tempo de consertá-lo e fui sem celular mesmo. Foi sufocante no início! Mas passei duas semanas lendo livros, conversando olho no olho e curtindo a natureza. Então acho que as férias são a oportunidade perfeita para tentar ter esse tipo de experiência. Eu ainda bato fotos e faço vídeos, mas hoje é simplesmente com a intenção de guardar uma lembrança, ao invés de querer exibir algo”, conclui.

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Belém
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