Terminais da UFPA: ônibus viram cenário de um drama diário

Voltar para casa, sobretudo à noite, é um desafio para quem depende das linhas para o campus

Victor Furtado
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O transporte público é um problema histórico para quem estuda ou trabalha na Universidade Federal do Pará (UFPA). Alunos que têm a Cidade Universitária como destino, todos os dias, enfrentam um desafio na hora de voltar para casa. Três estudantes que dependem dos ônibus garantem que há má distribuição de linhas, desrespeito aos horários e poucos ônibus na frota. Para eles, problemas que poderiam ser resolvidos se houvesse fiscalização efetiva.

O problema afeta estudantes e trabalhadores que fazem uso de grande parte das linhas que operam nas estações do Campus do Guamá, sentidas por quem mora em Ananindeua e utiliza as linhas Curuçambá/UFPA e UFPA/ Cidade Nova 6, e Marituba, para quem anda de Marituba/UFPA. Há ainda linhas do Satélite (a que enfrenta menos reclamações), da Pratinha e do Tapanã para a universidade. Na semana passada, porém, os usuários da linha UFPA/Icoaraci decidiram reclamar.

“Nem estamos pedindo ônibus decentes, já que há um sucateamento das linhas”, disse o estudante de Geografia Ruan Vilhena, que organizou uma petição eletrônica para cobrar mais ônibus e melhor distribuição de horários para Icoaraci. “Queremos apenas ter ônibus para quem sai no último horário de aulas. Nesse horário, os ônibus são disputados e os usuários ficam desesperados para entrar”.

image Alunos que têm a Cidade Universitária como destino, todos os dias, enfrentam um desafio na hora de voltar para casa. (Cristino Martins / O Liberal)

A estudante Lorena Monteiro, do curso de Ciências Sociais, usa a linha Tapanã/UFPA. Para chegar às 8h na universidade, ela precisa estar na parada às 6 horas. A viagem é sempre desconfortável: a reduzida quantidade de ônibus e o intervalo exagerado entre as viagens - de uma hora, às vezes mais - fazem os carros passarem sempre superlotados. E não importa o quão lotado e insuportável já esteja, diz ela: os motoristas são sempre obrigados a mandar entrar mais gente.

“Quando estudava na Uepa, não tinha tantos problemas”, contou. “A linha tinha uma boa quantidade de ônibus. Mas quando passei pra UFPA, em 2016, passei a viver esses problemas, que deixam a gente cansada pelo desgaste físico”, relatou. No primeiro dia de aula deste semestre, a estudante foi para a estação às 17h30, mas o Tapanã/UFPA só passou às 19h. Ela lembrou, ainda, os problemas com assaltos. “Os rodoviários só saem com o ônibus lotados e às vezes debocham dos usuários”, acrescentou. “A cada ano, a quantidade de alunos da UFPA aumenta, mas a quantidade de ônibus não. A volta sempre é pior. As linhas do Tapanã, Pratinha, Icoaraci, Curuçambá e Marituba são as piores”.

William Silva, estudante do curso de Letras-Inglês, mora em Ananindeua e depende da linha Marituba/UFPA. Como muitos usuários, ele tem uma série de críticas a fazer: desconforto, superlotação, precariedade dos ônibus, falta de acessibilidade — inclusive para pessoas acima do peso — o atendimento e o preço pago pelo serviço, que ele considera péssimo. William aproveitou para criticar o possível aumento da tarifa.

“Se eu perder um ônibus, não posso ficar calmo, pois nem sei que horas sai o próximo. Já fui para a estação às 18h para sair às 20h30”. Nessa noite, contou, nem mesmo pegou o Marituba: subiu em ônibus de outra linha e pegou outro na Almirante Barroso. “Todo dia chego em casa morto de cansaço e estresse. Nem é por causa do estágio ou das aulas. É por causa do transporte”, arrematou.

Petição gera fiscalização e promessa

Depois da petição exigindo providências acerca da linha UFPA/Icoaraci, outros alunos da universidade entraram em contato pedindo ajuda para criar outras petições - até solicitando linhas que não existem, como para Outeiro, por exemplo, e pedindo providências em relação a outras que deixam apenas até a metade do caminho, segundo Ruan. 
Ele disse ainda que do jeito que a linha está sendo operada, os ônibus só andam superlotados. Quem sai da universidade no final do último horário de aulas, às 21h50, não encontrava mais ônibus nenhum. Os últimos saem, geralmente, às 21h15. Em raras ocasiões há viagens além desse limite, mas obrigam os estudantes a ficarem até quase as 23h nos terminais. Com temor evidente de assaltos.

image A má distribuição de linhas, desrespeito aos horários e poucos ônibus na frota são os principais problemas enfrentados por quem utiliza os ônibus que fazem linha para a UFPA (Cristino Martins / O Liberal)

Em menos de uma semana, mais de mil pessoas assinaram a petição sobre a linha para Icoaraci. Isso levou a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) a desencadear uma fiscalização específica nas empresas que operam a linha. A denúncia foi formalizada, também, no Ministério Público do Estado do Pará (MPPA). 
Em nota, a Semob informou que constatou na quarta-feira (3) que as três empresas que operam a linha UFPA/Icoaraci estavam com frota reduzida - um ônibus a menos cada uma. Elas foram autuadas. Ainda segundo a superintendência, todas as linhas citadas na reportagem passarão pela mesma fiscalização ao longo dos próximos dias.

Os canais da Semob são Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU) pelos números 118 (telefone fixo) e 9/8429-0855, e-mail contato.semob@belem. pa.gov.br e seção Fale Conosco no site. Podem ser feitas reclamações de coletivos sem condições de trafegabilidade, atraso, queima de paradas, descumprimento da lei de devolução da passagem ou outro problema qualquer na prestação do serviço. Para denunciar, é preciso informar dia, hora, local do flagrante, placa e número de identificação escrito na lateral do ônibus.

Também em nota o Setransbel (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belém) classificou de inverídica a denúncia de que as empresas obrigam a classe rodoviária a só rodar com ônibus lotados e sair dos finais de linha com a lotação completa. Segundo o sindicato, o dimensionamento da frota e o quadro de horarios é determinado pela Semob e os veículos deixam os terminais nos horários determinados previamente. “Neste período, a chuva e o engarrafamento acabam por atrasar as viagens”, completou o texto.

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