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Sustentabilidade e empreendedorismo que vêm da terra

Feira da agricultura familiar que ocorre toda sexta-feira, em Belém, é fonte de renda para produtores do Pará. Itens orgânicos são comercializados pelos próprios trabalhadores, garantindo benefícios para comunidades rurais

Fernando Assunção
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“Quando me casei, eu não tinha nenhum prato de comida, uma lata para fazer café. Tudo o que tenho hoje devo a uma vida de trabalho com a terra. Graças a Deus, primeiramente, e, depois, à natureza, hoje tenho minha casinha, meus pertences, meu terreno”, conta o produtor rural José Cláudio Teixeira, mais conhecido como “Bambu”, que viaja em média 3 horas, de São Miguel do Guamá a Belém, para comercializar, junto com outros 30 agricultores paraenses, seus produtos em uma feira orgânica realizada às sextas-feiras, na avenida Romulo Maiorana, em Belém. No encontro, na capital paraense, os trabalhadores lançam mão do empreendedorismo, que alia exploração sustentável do meio ambiente à fonte de renda, trabalho, sobrevivência e cooperação entre as comunidades.

Dos 68 anos de José Cláudio, 50 são dedicados ao trabalho na agricultura familiar e a venda de produtos na feira de Belém, como milho, macaxeira, feijão, coco, entre outros, em uma produção orgânica e responsável.

image “Tudo o que eu tenho hoje, eu devo a uma vida de trabalho com a terra”, diz José Cláudio (Tarso Sarraf / O Liberal)

“Aqui é só material orgânico, não tem esse negócio de veneno, tudo o que você vê aqui sai direto do produtor”, garante. A preocupação é percebida pelas dezenas de pessoas que passam pela feira todas as sextas. “Eu, como mãe de duas crianças, preciso estar atenta com o que coloco na mesa da minha casa. Por isso, todas as sextas-feiras eu venho na feira e já garanto as compras da semana. São produtos 100% naturais, que também são vendidos a preços mais baixos. Ou seja, além dos benefícios à saúde e ao bolso, também estou estimulando a produção independente”, diz a autônoma Patrícia Miranda, 42.

A feira da agricultura familiar de Belém ocorre sempre nas sextas, a partir das 13h e costuma adentrar a madrugada, enquanto houver produtos disponíveis. São frutas, legumes e verduras de vários tipos, oriundos da pequena produção das mais diversas regiões paraenses e, também, da capital.

image Feira é composta por mais de 30 agricultores do interior do estado (Tarso Sarraf / O Liberal)

No local, Thaise Martins Peniche, 47, que é de Belém, vende cebola, tomate, batata, jerimum, mamão e uva há mais de 40 anos. O trabalho passou a ser a principal fonte de renda da casa, depois que os demais familiares ficaram desempregados. “Moro com a minha filha, meu filho, meu genro e minhas duas netas e, agora, nesse momento, meu genro e a minha filha não estão trabalhando e meu filho só está fazendo ‘bico’. Ou seja, toda a família é sustentada a partir desse trabalho”, diz.

Em meio ao desemprego, agricultura virou alternativa de renda

O produtor Denis Mendonça, 49, lembra que passou por dificuldades há cerca de cinco anos quando foi demitido de uma empresa onde trabalhava como motorista, em Capitão Poço. Diante da situação, ele, que já tinha um plantio de laranja e limão no terreno onde mora, fez da atividade secundária a sua principal fonte de renda e, agora, vende os produtos na feira de Belém.

image Mendonça faz parte da feira da agricultura familiar de Belém todas as sextas (Tarso Sarraf / O Liberal)

“Não tem como não ser agradecido à natureza, porque, poxa, é dela que eu tomo minha cervejinha, pago as minhas contas, boto combustível no meu carro, ajudo lá em casa. A terra é maravilhosa. Tudo que eu pego, eu pago, ajudo os companheiros de feira e assim a gente vai levando”, afirma.

Da terra para a terra: substâncias naturais são usadas para garantir o plantio

Francisco de Albuquerque, 53, natural de Santa Maria do Pará, tem uma vida dedicada à produção familiar. Ao longo dos anos, porém, ele revela que enfrentou pragas naturais da plantação. Mas, para garantir o plantio, que também é seu principal meio de sustento, ele não recorreu a práticas invasivas e que podem contaminar o solo.

“O que a gente usa muito no interior é o tucupi puro, porque ele serve para matar formiga, matar fungo, ou seja, é um veneno natural e está dentro das etapas de produção, ou seja, tu vai fazer a farinha, já apara o tucupi para controlar as pragas. Tudo isso feito sem agredir o meio ambiente, porque o veneno químico mesmo acaba com tudo”, conta.

image Jucivaldo usa tucupi puro para matar pragas da plantação (Tarso Sarraf / O Liberal)

Para garantir a fertilidade da terra, Jucivaldo Souza Galvão, 56, de São Domingos do Capim, também recorre às técnicas naturais.

“Como adubo, a gente usa o esterco da galinha. Para não dar pragas, a gente vai, na medida do possível, trabalhando, limpando, capinando, para não usar o veneno. As pessoas acham que não, mas a gente se preocupa muito com isso, principalmente sobre venenos. Eu não uso por causa da terra. E a gente trabalha com o produto que tem, quando não tem, a gente compra de outro produtor, para manter as famílias. Do pouco lucro que sobra, a gente tenta sobreviver”, reflete.

Cooperação entre comunidades

Além dos produtores que atuam diretamente na venda dos itens, outras famílias do interior são beneficiadas indiretamente com a realização da feira. Com Raimundo Maria, conhecido como Neco, 50, outras três pessoas trabalham como ajudantes na feira: uma prima, um vizinho e o filho do vizinho, todos de São Miguel do Guamá. A partir da cooperação, todo mundo sai ganhando.

“O nosso trabalho é de ‘formiguinha’, a cada semana, pegamos um pouco de cada um e trazemos para vender. Chegando lá, a gente reparte de acordo com o que cada um recebeu. Um olhar pro coletivo. Até porque a gente não dá conta de produzir toda semana o que a gente traz para cá, então a gente pega dos vizinhos também para dar tudo certo”, avalia.

image Além dos produtores que atuam diretamente na venda dos itens, outras famílias do interior são beneficiadas indiretamente com a realização da feira (Tarso Sarraf / O Liberal)

Serviço

A feira da agricultura familiar ocorre todas as sextas-feiras, a partir das 15h, na avenida Romulo Maiorana, próximo à travessa Antônio Baena, no bairro do Marco, e se estende até a manhã do dia seguinte. Nesta sexta-feira (9), mesmo com o feriadão de Corpus Christi, o movimento ocorrerá normalmente, segundo a Secretaria Municipal de Economia (Secon) de Belém.

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