Sem parar na pandemia, trabalhadores rodoviários são castigados pela covid-19

Greve da categoria deste ano também focou em saúde e vacinas, após baixas no setor de transporte

Caio Oliveira
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Daniele Rocha sente que teve seus sonhos roubados pela covid-19. No próximo dia 3, ela iria se casar em uma cerimônia na igreja evangélica com o rodoviário Antônio Alfredo dos Santos Horsford, 54 anos, seu companheiro de vida. Os papéis já estavam no cartório e, após uma série de interrupções por conta da pandemia, parecia que, dessa vez, eles teriam a união reconhecida no civil e perante seus líderes religiosos. Mas não deu tempo. Antônio, o Rok, como era chamado pelos amigos, passou a se sentir cada vez pior. Quando chegava das viagens pelas ruas do Distrito Industrial, ele se queixava das aglomerações de passageiros. Um dia, reclamou de dores no peito e não conseguiu sair para trabalhar.

“Ele começou a ter febre, e ficou assim um tempo. Meu marido era de um jeitão meio duro, e não queria fazer teste, até que eu o convenci, pois eu adoeci junto com ele. A gente então ficou em casa, se cuidando, e ele parou de trabalhar. Ele sempre me falava como os ônibus estavam lotados de gente. Não adiantava lockdown com tanta gente nos ônibus. Ele me falou isso várias vezes, até que pegou essa doença”, relata Daniele.

Antônio contraiu covid em março, e tinha dificuldades de encontrar leito para internação nos hospitais devido à lotação. “Eu levava ele nos postos, aí ele se medicava e voltava para casa. Ficamos indo e voltando por três semanas”, disse a mulher, que contou que, com a ajuda do sindicato, conseguiu um leito em um hospital de Marituba e, por causa da gravidade do quadro do marido, ele foi transferido para o Hangar. No hospital de campanha, Antônio ficou internado por sete dias, até não resistir e se tornar mais uma vítima da covid, no dia 11 de abril. A convivência de dois anos terminou de forma brusca, sem que o casal pudesse realizar o que planejaram juntos. Hoje, Daniele mora de aluguel com os dois filhos, frutos de um relacionamento anterior. Tentando sobreviver trabalhando com eventos infantis, ela lamenta a escassez de serviço, em mais um problema causado pela pandemia da doença que levou seu marido.

Ônibus lotados e passageiros sem máscaras

“Fiquei doente, passei muito mal mesmo, quase morro. Não cheguei a me internar porque foi na primeira leva, e não tinha como. Corri para todo lado e não consegui ser internado, então me tratei em casa mesmo”, relata Fábio Pantoja, cobrador que faz a linha Icuí-Presidente Vargas. “A gente pega ônibus cheio todo dia, com passageiros que a gente não sabe se tem doença ou não”, reclama o rodoviário, cuja fala é reforçada por um colega. “Passei mal 15 dias em casa. Eu peguei, minha esposa pegou e os meninos de casa também tiveram sintomas. Eu estou conseguindo trabalhar, mas é perigoso. É muita gente sem máscara nos ônibus. Muitos que não respeitam o direito dos outros, mas eu estou fazendo minha parte”, conta o motorista Edilson Rodrigues.

image Até o momento, em toda Grande Belém, apenas Ananindeua fez ações de imunização da categoria contra a covid-19 (Claudio Pinheiro / O Liberal)

Até o momento, em toda Grande Belém, apenas o município de Ananindeua fez ações de imunização da categoria contra a covid-19, garantindo a vacinação dos rodoviários que moram no município em atendimentos na quinta, 27, e sexta-feira, 28. Contudo, os trabalhadores que moram em Belém e Marituba mas circulam pelos outros municípios reclamam que também deveriam receber a imunização. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) informou que os rodoviários foram incluídos na terceira fase da vacinação, "mas essa data ainda está sendo definida”.

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