Samaumeira centenária encanta visitantes no 'Goeldi' e reforça conexão com a Amazônia
"As samaumeiras são o símbolo da Amazônia e, principalmente, de Belém", diz Leandro Valle Ferreira, doutor em Ecologia e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi
As samaumeiras são o símbolo da Amazônia e, principalmente, de Belém, além de terem uma importância ecológica. É o que explicou Leandro Valle Ferreira, doutor em Ecologia e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi. Segundo ele, as árvores dessa espécie existentes na capital paraense são plantadas ou estão em áreas que antigamente eram igarapés, as quais atualmente são contabilizadas em cerca de 15 indivíduos.
Entre as samaumeiras presentes em Belém, que podem ter centenas de anos, há algumas que estão em locais de bastante fluxo de pessoas ou veículos. É o exemplo das árvores localizadas na praça Santuário, outra na avenida Almirante Barroso com a travessa Curuzu, sendo que essa se encontra em um espaço particular perto de via pública, além também da que está no Parque do Utinga. Entre as mais antigas, duas se destacam: a que vive no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi e a do estacionamento do Parque do Utinga. Para entender o contexto histórico, o especialista lembra que Belém foi terra indígena e, há cerca de 100 anos, era bem arborizada. As samaumeiras que já existiam naquela época viviam em igarapés que, hoje em dia, são aterrados.
“É uma planta de crescimento rápido, conhecida como sendo de madeira branca, e permite que outras árvores fiquem sobre a sombra dela. Também são de floresta de várzea (tipo de vegetação amazônica localizada em áreas de planície, próximas a rios, que são periodicamente inundadas durante a cheia). Ela puxa nutrientes da água e é fundamental para a fauna aquática, já que as sementes dispersadas pela samaumeira têm um alto grau de proteína e muitos peixes se alimentam delas”, explicou Leandro.
Ferreira detalhou também que as samaumeiras podem chegar até 40 metros de altura em um ambiente natural e dependem do vento para dispersar as sementes. “Ela perde todas as folhas e ficam as flores, depois vêm os frutos, como se fossem um algodão. Como estão em uma matriz urbana, com muito sol, vento e temperaturas altas, acabam tendo o seu sistema radicular (parte subterrânea das plantas) comprometido e impedem a respiração das raízes”, afirmou.
Para cuidar desses vegetais, é importante a manutenção constante, para que não ocorram episódios como o que aconteceu com galhos da samaumeira que era localizada no bairro de Nazaré, em Belém, e tombou em 2023.
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“Tem que olhar a condição da copa, ou seja, da árvore, senão ficam podres por dentro devido à infestação de patógenos, como, por exemplo, o cupim. No Parque do Utinga, o Ideflor-Bio (Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará) promove a manutenção e, quando um galho está ruim, eles realizam o corte para fazer o balanceamento de copa e permitir que outros galhos possam crescer. Em Belém, elas se encontram em um ambiente urbano e não cumprem o seu ciclo de vida, por isso temos que preservá-las e mantê-las, porque contam a história da evolução da cidade”, contou.
Visitantes contemplam samaumeira centenária em Belém
No parque do Museu Emílio Goeldi, visitantes falam da fascinação pelas samaumeiras. No parque, há três delas. Duas tem estimados 130 anos. A mais nova, 18 anos. Uma das árvores mais emblemáticas da floresta amazônica, a samaumeira tem despertado fascínio entre visitantes que passam pelo parque do Museu Paraense Emílio Goeldi durante o período da COP 30. Em meio à movimentação de turistas, pesquisadores, empresários e delegações estrangeiras, a árvore centenária se tornou ponto obrigatório de parada, contemplação e registro fotográfico. Profissionais ligados à bioeconomia e visitantes de outras regiões do Brasil relatam a experiência de se aproximar da espécie, conhecida como “árvore da vida”.
O empresário Alessandro Rafael, 33 anos, atua com negócios e bioeconomia na Amazônia e com ecossistemas de gestão corporativa voltados à sustentabilidade. Ele explicou que seu trabalho envolve educar empresas para que entendam modelos de governança que incluam os povos originários, promovam economia circular e garantam que a riqueza gerada seja devolvida ao território amazônico.
E falou sobre o encantamento que a samaumeira desperta: “A Samaumeira é uma árvore da vida. Ela dura centenas de anos e é uma árvore amazônida. Não tem origem necessariamente em Belém, mas está em várias regiões da Amazônia. Ela armazena a vida, que é a água. Ela tem um fascínio incrível”, contou, ao lado da árvore que tem 40 metros de altura.
Ao “Emílio Goeldi”, Alessandro costuma levar amigos e visitantes para conhecer a árvore e sua história. “É um momento de contemplar, ver a beleza, a arquitetura dela, como é feita. Ela tem uma energia própria. Quem está perto consegue sentir”, disse. Ele afirmou que trazer pessoas de fora - inclusive amigos de outros estados e do exterior - é uma forma de apresentar um "pedaço da Amazônia" que existe dentro da cidade de Belém. “Estou trazendo alguns amigos para conhecer nossa vegetação, nossa natureza. No período da COP, isso é muito importante”, disse.
"A Samaumeira é uma das árvores mais emblemáticas da Amazônia. Ela é tão grande e tão imponente que, historicamente, sempre foi chamada de ‘a mãe da floresta’ ou árvore da vida, não apenas pelo porte, mas porque muitas espécies de plantas, animais e até comunidades tradicionais encontram nela abrigo, alimento e proteção assim como centenas de anos de existência e sua capacidade de armazenamento de água", observou. "A samaumeira representa exatamente o que a COP 30 discute: resiliência, impacto climático e interdependência ecológica. O tamanho do tronco e suas raízes mostram como a floresta se estrutura para sustentar a vida mesmo em condições extremas. Ela armazena grandes quantidades de carbono, regula umidade, influencia o microclima e integra cadeias ecológicas essenciais", afirmou.
Durante a visita, ele explicou que acompanhava uma amiga pernambucana e outros conhecidos que vieram para o evento, incluindo profissionais que atuam com impactos sociais. “Sempre trago amigos de fora. Minha esposa é amiga dela, que está aqui fazendo fotos.”
Imponência e surpresa diante da árvore centenária
A jornalista e empresária Catarina de Angola, 38 anos, natural de Recife, também visitou o local e ficou impressionada com a dimensão da samaumeira. Ela contou que, enquanto observava os animais do parque, se surpreendeu ao se virar e se deparar com a árvore gigante.
“De repente, quando eu me virei, eu disse: nossa, que gigante. Eu tenho que tirar uma foto. Ela passa essa sensação de imponência. É incrível estar tão perto de algo que geralmente vemos de longe”, afirmou. Catarina, que vem de uma região dominada pela Mata Atlântica - hoje bastante devastada - e pela caatinga, ressaltou a diferença na vegetação.
“As árvores lá são menores justamente por conta da devastação. Aqui, a sensação é de privilégio: poder ver de perto, tocar nela, entender a história”, disse. Ela buscou informações sobre a idade da árvore, seu significado e sua conexão com a região: “Queria saber há quanto tempo ela está aqui, o que representa para a Amazônia. É um prazer e um privilégio poder vê-la de perto”, contou. Yozo Yamamoto, 90 anos, e a esposa dele, Noriko Yamamoto, 85, também contemplaram a beleza de uma samamueira. De navio, ele saiu de seu país de origem. A viagem até Tomé-Açu durou 40 dias. A cidade no interior do Pará é uma das maiores colônias japonesas do Brasil.
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