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Pesquisa da UFPA investiga plantas da Amazônia para o combate ao câncer

Estudo envolve professores e estudantes, e resultados são animadores para a destruição das células cancerígenas

O Liberal

Como aproveitar a diversidade e a potencialidade terapêutica de plantas da Amazônia no combate a células cancerígenas? A pergunta norteia a pesquisa de professores e estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA), tendo como local de referência nos estudos o Hospital Universitário João de Jesus Barros Barreto (HUJBB). A intenção dos pesquisadores é descobrir de que forma bioativos da vegetação regional podem atuar nesse sentido, inclusive, com menores efeitos colaterais que os tratamentos convencionais. 

André Khayat, professor-pesquisador e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Oncologia e Ciências Médicas da UFPA, atua na coordenação das atividades. Ele explica que o câncer, mesmo com todos os avanços nas pesquisas sobre esta doença, continua a apresentar elevadas taxas de incidência e de óbito no mundo todo. Diante disso, a comunidade científica, preocupada com estes tristes fatos, tem buscado descobrir novas formas de prevenção, diagnóstico e de terapia para esta doença, na tentativa de diminuir essas taxas.

image UFPA: pesquisa de bioativos para eliminar células cancerígenas (Foto: Cristino Martins / O Liberal)

“Agentes para uso terapêutico contra essa doença precisam, de alguma forma, atuar inibindo a viabilidade das células tumorais. Mantendo-se essa premissa, estes agentes podem ser originados de diversas fontes, desde substâncias sintéticas, agentes de ação imunológica, células modificadas, assim como compostos de origem natural. Neste contexto, pesquisadores de diferentes setores da UFPA (das áreas de Biológicas e da Saúde, assim como das Exatas, tais como pesquisadores da Química e da Física) têm buscado extrair e caracterizar substâncias provindas da natureza, e então testá-las quanto ao seu potencial anticâncer, sendo este tipo de avaliação uma das linhas de pesquisa em atividade no Núcleo de Pesquisas em Oncologia da UFPA”, declara Khayat.

O professor relata que a construção da pesquisa é baseada no fato de que o câncer tem 14 características biológicas marcantes (que o fazem ser o que é) e, “diante disso, buscamos realizar testes laboratoriais avançados que permitam avaliar a modulação destas características sob ação de um potencial novo agente terapêutico”. 

“Caso este agente interfira, de modo a mitigar algumas destas características, passamos a outros níveis experimentais, na tentativa de consolidar a função anticâncer da substância avaliada. Objetivando este propósito de encontrar novos agentes anticâncer, com muita satisfação, percebo que a união de diferentes profissionais de pesquisa, dentro da UFPA, tem levantado ótimas informações para auxiliar na luta contra esta temida doença”, assinala.

Abundância

Acerca do uso de bioativos da Amazônia contra as células cancerígenas, o professor André Khayat destaca que “a UFPA é a maior Universidade da Amazônia brasileira, que, sabidamente, é a região de relativa maior biodiversidade do mundo”. “Assim, está contida em um local com uma abundância natural imensurável, onde está disposta uma gama de substratos de origem natural, principalmente vegetal, com potencial de uso para várias doenças humanas”.

No mundo todo, historicamente, como frisa o pesquisador, as diversas civilizações (como indígenas, chinesas, etc.) sempre fizeram uso das propriedades medicinais das plantas, baseadas nas observações de seus benefícios. Na atualidade, estas propriedades podem ser detalhadamente avaliadas, permitindo a ampla busca pelo entendimento de seus efeitos benéficos e, por consequência, gerando uma perspectiva de relevantes descobertas para debelar doenças, como o câncer. 

image Pesquisa é feita em laboratórios do Hospital Barros Barreto (Foto: Cristino Martins / O Liberal)

“Certamente, em especial em nossa região do país, essas perspectivas são aumentadas pela grande biodiversidade que temos e ainda pelo fato de que cada planta apresenta diferentes possibilidades, pois substâncias encontradas nas folhas são diferentes daquelas encontradas na raiz, ou nos frutos e demais estruturas. Além disso, em cada uma destas estruturas podem ser obtidos diferentes tipos de extratos (como alcoólico ou óleos), e estes ainda podem ser usados integralmente ou terem substâncias isoladas para uso. Todas essas estratégias abrem um grande e promissor leque de possibilidades. Com esses fatos postos, é possível notarmos que este campo de pesquisa é capaz de trazer enormes benefícios à humanidade. E mais, a origem desse benefício pode ser algo de fácil acesso”, completa.

Foco

Aos 21 anos de idade, a estudante de Iniciação Científica de Biotecnologia, Sabrina Oliveira, orientada pelo professor Khayat, informa que no Hospital Barros Barreto há diversas linhas de pesquisa, e ela participa do projeto de bioprospecção, no qual são testados compostos bioativos de plantas em linhagens tumorais. A principal linhagem tumoral em teste no espaço é a GP 01, de câncer de estômago, com uma das maiores incidências no Pará.

image Sabrina: contribuição à vida das pessoas (Foto: Cristino Martins / O Liberal)

A pesquisa em que ela atua começou em 2021 e pretende finalizar em 2023. “O composto foi testado, e a gente analisou a citotoxicidade dele, que é o quanto consegue matar as células cancerígenas; e ele teve uma eficácia consideravelmente boa, com uma quantidade de 19 microlitros ele já matava 50% das células de câncer, e também foi testado por que vias ele matava  e foi identificado que ele matava por Apoptose, um tipo de morte celular programada que não causa inflamação. Então, resultado positivo”, relata a estudante.

Estudantes de ligas acadêmicas sobre o tema atuam nas pesquisas. “O planejamento, a perspectiva, é de a gente conseguir usar esses fitoterápicos em conjunto com os quimioterápicos atuais, diminuindo  a quantidade de quimioterápicos usados pelo paciente , assim podendo reduzir os efeitos colaterais, tendo uma sobrevida melhor”, destaca Sabrina.  Ela tem uma motivação à parte, pelo fato de que a mãe faleceu de câncer. “Eu vi o quanto foi difícil; então, estar ajudando a pesquisar e a divulgar a ciência, tentando melhorar a vida dessas pessoas, é muito importante para mim, pessoalmente”, completa.

Ingryd Ramos, 29 anos, doutoranda em Oncologia e Ciências Médicas, informa que são selecionadas espécies da Amazônia para conferir a qualidades medicinais dos vegetais, por meio de ensaios pré-clínicos, in vitro, nas células cancerígenas, com foco no câncer gástrico. 

“Inicialmente, observamos que certas substâncias seguem vias que podem destruir, matar as células do câncer, os primeiros resultados são  muito positivos, e nossos próximos passos, inclusive, são fazer testes em modelos animais”, ressalta Ingryd, ao lado das colegas Thaissa Rodrigues e Monique Feitosa. São seis espécies vegetais em estudo, e as linhas  de pesquisa já somam cerca de dez anos.

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