Catadores de material reciclável acumulam perdas durante a pandemia
Cooperativas de Belém buscam alternativas para manter a renda dos trabalhadores

A pandemia afetou bastante o trabalho dos catadores de materiais recicláveis em Belém. O medo de contrair o novo coronavírus tornou as pessoas mais cautelosas na hora de entregar esses produtos, principalmente agora com a nova variante desse vírus. Mas, por outro lado, muitos moradores passaram a higienizar os materiais entregues aos catadores. É o que revela a catadora e gestora ambiental Débora Baía, presidente da Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis em Belém do Pará (Concaves), que existe desde 2005 e tem 40 cooperados.
“Os impactos da pandemia são imensos na organização dos catadores”, disse ela. Desde o ano passado, com o início da pandemia, muitos locais deixaram de doar material para os catadores. Entre esses locais estão condomínios, muitas residências, sobretudo naquelas onde há pessoas idosas, por causa do risco de contágio. E, também, algumas microempresas que doavam, por exemplo, papelão e que acabaram fechando. “Tivemos dificuldade em receber esse material dos cidadãos, apesar de que alguns melhoraram bastante a higienização e a entrega dos materiais”, contou.
Essa mudança de comportamento ficou bem evidente no período em que, até o ano passado, era realizado o Carnaval. Sem os desfiles, e a grande quantidade de resíduos produzidos nesse período, os catadores deixaram de recolher muitos materiais. “No Carnaval, tem os blocos, os desfiles das escolas, as festas nas praças, que são locais de concentração de pessoas, e há muitas latinhas e muita garrafa. E este ano, como não teve, nós, assim como as outras cooperativas, tivemos essa perda. Não coletamos essa latinha”, disse Débora.
“No Carnaval, foi uma perda grande devido à falta do material que é a latinha do alumínio, um material que tem valor agregado maior que os demais, como papel e plástico e, consequentemente, faz uma grande diferença na renda de cada catador”, explicou. No Carnaval de 2020, foram em torno de seis toneladas de materiais recicláveis coletados. “Esse ano, chegamos a 2,5 toneladas oriundas de comemorações familiares”, disse.
Essa redução na quantidade de material coletado também afetou a renda mensal desses trabalhadores. “Os catadores da Concaves tiravam pouco mais de um salário e meio antes da pandemia. Com a queda (na entrega dos recicláveis), tivemos uma redução na produção de cada catador. Agora, no máximo, tiram um salário mínimo. Porém, no caso da cooperativa em si, ficamos algumas dívidas, que estamos negociando para pagar. Nossa prioridade é que cada catador tire pelo menos um salário mínimo”, afirmou.
Débora Baía disse que, quase um ano após o começo da pandemia, algumas pessoas ainda resistem em abrir suas portas, principalmente agora com essa nova variante do vírus. “A gente até está buscando união com outras cooperativas para, via Ministério Público, buscar que os catadores sejam um dos grupos prioritários para a vacinação, já que a gente lida diariamente com as pessoas”, explicou. Ela também observou o cuidado que muitos moradores estão tendo na hora de entregar os recicláveis. “Os materiais estão vindo bem mais limpos. Tem esse cuidado maior e melhor com a entrega. Os materiais estão bem higienizados”, acrescentou.
Débora Baía lembrou que, desde o início da pandemia, houve, por parte do poder público municipal, um momento de assistência às cooperativas com relação à entrega de cestas básicas, produtos de higiene, de limpeza, equipamentos de proteção individual, além de ações de esclarecimento sobre o novo coronavírus. “Com essa gestão (municipal) agora, estamos trabalhando a parte de educação ambiental”, disse. Ela contou que a separação dos materiais coletados é feita no galpão da Concaves, no Jurunas. “Esse material fica em ‘repouso’ por pelo menos três dias para poder ser mexido, triado e ser enviado para reciclagem”, explicou.
Mesmo assim, os catadores estão sempre buscando alternativas para, como disse Débora, “vencer esse momento difícil”. Eles também têm adotado as medidas sanitárias, já que estão sempre em contato com as pessoas e com resíduos sólidos. “Temos que buscar nos prevenir: usar máscara, os EPIs direitinho, álcool em gel, e continuamos firmes em nosso trabalho”, contou.
Catador fala da dificuldade em trabalhar nesse período de chuvas e pandemia
Robson William Tavares Barreto, 28, é catador há dois anos. Com o dinheiro que ganha em seu trabalho sustenta a família. Ele disse que a pandemia mudou a rotina dos trabalhadores, já que eles não podem estar nas ruas da mesma forma que antigamente. Robson observou que a atenção é maior nesse período de muitas chuvas. “Tem a gripe, a pandemia”, contou. Ele informou que os catadores continuam trabalhando normalmente, mas usando os equipamentos de proteção. Ele afirmou que não teve covid. E que a coleta está “razoável”. Selma Cruz da Silva, 36, é catadora há cinco anos. Ela afirmou que a pandemia “reduziu um pouco a coleta”. Mas que os trabalhadores não desanimam, pois tiram o seu sustento e o de sua família desse trabalho. Eles trabalham de 8 às 17 horas. Em média, eles estão conseguiram ganhar em torno de R$ 1 mil por mês.
SERVIÇO:
A Concaves recebe materiais recicláveis como plástico, papel, metal, eletrônicos e móveis. Você pode ir diretamente na sede da cooperativa, que fica na avenida Bernardo Sayão, n°2.175. entre Roberto Camelier e Quintino Bocaiúva, ao lado do porto da Balsa do Arapari, no Jurunas. De segunda a sexta, 8 às 17 horas. E, no sábado, de 8 às 14 horas.
Separe o papel rasgado e o vidro em sacolas individuais
A cooperativa não aceita pilhas, isopor, madeiras, cubas de ovo, embalagens de sachês, plásticos laminados e raio x
Informações: (91) 981166185 – 98828-7636
O e-mail é: concaves@gmail.com
Facebook: Concaves Brasil. No Instagram: concaves.coop
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