Jovens com autismo e síndrome de Down mostram que diagnóstico não é limitação

O Dia Internacional da Síndrome de Down é lembrado nesta quinta-feira (21), com o objetivo de promover a conscientização global e a inclusão das pessoas com essa condição, garantido que elas tenham oportunidades iguais

Gabriel Pires

O Dia Internacional da Síndrome de Down é lembrado nesta quinta-feira (21), com o objetivo de promover a conscientização global e a inclusão das pessoas com essa condição, garantido que elas tenham oportunidades iguais. Em alusão à data, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Belém realiza, até a próxima quinta-feira (27) a Semana de Visibilidade da Pessoa com Síndrome de Down e Autismo: Ocupando Todos os Espaços. Na capital, histórias de pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) e Down são inspirações e sinônimo de superação.

Mostrando que nenhuma condição é barreira para sucesso no mercado de trabalho, a jovem Ana Clara Silva, 27 anos, que tem síndrome de Down, conquistou uma vaga de emprego há cerca de um ano e tem se desenvolvido bastante. Ela trabalha no setor administrativo de uma paróquia no bairro do Tapanã, nas proximidades de onde mora. Para a mãe da moça, a professora Waldelina da Silva, de 59 anos, essa é uma forma de promover a inclusão e mostrar à sociedade que todos são capazes.

image Ana Clara Silva, 27 anos, que trabalha no setor administrativo de uma igreja; ao lado, a mãe dela, Waldelina da Silva (Marx Vasconcelos / Especial para O Liberal)

Em meio aos desafios, como o preconceito, que às vezes são observados, para toda a família o desenvolvimento de Ana Clara é motivo de orgulho. Apesar do diagnóstico ter sido uma surpresa no início, quando a jovem nasceu, isso não foi motivo para deixar de lutar pelo futuro da filha. “Houve preconceito. Houve escolas que não queriam aceitar ela [Ana Clara], eu tive que conversar, enfrentar mesmo, porque a gente sabe que eles são capazes de tudo, capazes de ter um ensino fundamental e médio”, afirma.

“Ela chegou a estudar, estava na escola, mas surgiu o mercado de trabalho e ela abraçou. Ela gostou. E, graças a Deus, hoje ela está bem, gosta muito de lá [do trabalho], acorda cedo e faz as atividades. E isso está ajudando muito a Ana Clara. Mudou muito a personalidade dela. Hoje, eu sinto que se tornou mais responsável, que interage muito mais. Está sendo muito bom para o desenvolvimento dela. Com isso, ela mostra para a sociedade o quanto é capaz assim como qualquer outra pessoa”, conta dona Waldelina.

Rotina

A mãe da jovem conta que a filha gosta bastante da rotina de trabalho e explica o que ela realiza no dia a dia: ”Ela foi chamada no ano passado e é funcionária da Arquidiocese de Belém, mas foi chamada para uma paróquia perto da nossa casa. Ela trabalha de segunda a sábado, na área administrativa, ela leva algum documento para o padre assinar, dar algum recado para o padre, dar algum. E no final do dia, ela leva as intenções da missa até a igreja”, completa.

Para Ana Clara, o dia a dia de trabalho tem sido muito empolgante, como considera ela. “Eu gosto muito de lá. No ambiente de lá, as pessoas são muito bacanas para muito. Eles estão me ajudando demais. Tem pessoas que gostam muito de mim e do meu café. Estou gostando muito do trabalho. Lá, tudo o que eu faço é com amor”, diz a jovem. Para além do trabalho do progresso no trabalho, ela conta que já tem planos futuros e pretende casar. Noiva desde dezembro do ano passado, ela não vê a hora do casamento chegar.

TEA

Outro exemplo de superação é do estudante Matheus Borges, de 19 anos, que é portador do transtorno do espectro autista (TEA). Recentemente aprovado no curso de Jornalismo pela Universidade Federal do Pará (UFPA), essa é só mais uma conquista na vida dele, que foi o primeiro da família a passar no vestibular. Da mesma forma que Ana Clara, ele também ascendeu profissionalmente. Diagnosticado com autismo há cerca de dois anos, ele chegou a atuar como auxiliar de uma empresa de ônibus, entre 2022 e 2023, e como auxiliar de biblioteca em uma universidade, entre 2023 e 2024.

“Acredito que a minha trajetória profissional foi cativante. Eu pude aproveitar bastante. Depois que eu fui diagnosticado, as portas se abriram, foi um grande passo para que eu pudesse me identificar como deficiente. E durante essa minha trajetória, eu não tive nenhuma dificuldade no trabalho, nenhum preconceito. Só tive a minha fase de adaptação ao mercado de trabalho. Acordar cedo e ter que me adaptar ao horário da jornada”, pontua o jovem.

Sempre dedicado, o diagnóstico de TEA não foi motivo para limitar Matheus nos estudos. Decidido a cursar Jornalismo desde os 10 anos, a aprovação foi fruto de muito esforço. No entanto, após a classificação, ele ainda enfrenta mais um desafio: a matrícula dele foi indeferida. Agora, ele luta para efetivar a entrada na universidade. “Minha rotina de estudo foi bastante cansativa. Era estudo toda hora, pesquisando e vendo estratégias para o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]”, relata. Atualmente, mesmo estando desempregado, ele conta que pretende se realocar no mercado de trabalho.

image Matheus Borges, de 19 anos, junto da mãe, Marly Rodrigues (Thiago Gomes / O Liberal)

Mãe de Davi, a dona de casa Marly Rodrigues, lembra que recebeu o diagnóstico de Matheus quando ele tinha por volta dos 17 anos. A busca por ajuda de especialistas veio no momento em que ela percebeu a dificuldade de interação social do garoto e após um diagnóstico de depressão. Outro fator que contribuiu para um acompanhamento profissional foi quando o rapaz quis desistir dos estudos, já no ensino médio, em 2022. Mesmo em meio a toda essa descoberta, Marly incentivou ainda mais o desenvolvimento do filho.

“Eu levei ele até o neurologista, que foi quem me falou que eu precisava fazer alguns exames com ele, mas tudo indicava que ele era autista. Foi um momento muito difícil para mim, porque o Matheus já tinha entre 17 e 18 anos. As pessoas me diziam ‘como tu nunca tinhas percebido?’. Eu dizia ‘meu filho, me perdoa. Eu não fiz isso por mal’. Não foi falta de atenção. Isso foi mais a falta de conhecimento, eu nunca ignorei o problema do meu filho”, detalha a mãe de Matheus.

Emocionada, a dona de casa lembra que a maior batalha diária é enfrentar o preconceito: “Muitos acham que uma pessoa com autismo e com síndrome de Down não é capaz de evoluir no estudo e de trabalhar. Mas, a partir do momento que eu descobri o diagnóstico, eu queria mostrar para as pessoas e para as outras mães que eu não tinha vergonha do meu filho, que eu não queria escondê-lo. Eu percebo que eles são até mais capazes do que uma criança tida como ‘normal’. A gente tem que mostrar para o mundo que eles são capazes”, afirma.

Apae

Com a “Semana de Visibilidade da Pessoa com Síndrome de Down e Autismo”, promovida pela Apae, a associação segue até a próxima semana com uma variedade de atividades para promover a visibilidade e inclusão daqueles que vivem com Down e TEA, além de combater o capacitismo. Entre a programação, haverá atividades como rodas de conversas, ação de saúde, entre outros.

Referência no atendimento à pessoa com deficiência intelectual e múltipla na capital paraense, a Apae Belém atende mais de 500 usuários e familiares, garantindo mais de 1.800 cidadãos atendidos na instituição. Com usuários de todas as faixas etárias, a associação oferece educação especializada complementar ao ensino regular, assistência social e atendimento de saúde, além de fomento à pesquisa, ensino e diagnóstico.

Programação da Apae

21/03

9h - Roda de conversa sobre a atuação do Conselho Tutelar (Auditório da APAE Belém - Av. Generalíssimo Deodoro, 413)

9h - ⁠Roda de conversa com Carol Salomão no Colégio Exato.

16h - ⁠Lançamento da Semana no IT CENTER.

22/03

8h - Agro+Parque (Parque de Exposição Presidente Médice - Av. João Paulo Segundo)

10h - ⁠Vivência na academia SELFIT

23/03

8h - Ação em saúde com consultas de odontopediatria, nutricionista e pediatria (APAE Belém - Av. Generalíssimo Deodoro, 413)

24/03

8h - Caminhada Down - Praça Batista Campos

25/03

8h - Agroparque 8h

15h - Palestra sobre Educação de Jovens e Adultos ( Auditório da Apae Belém - Av. Generalíssimo Deodoro, 413)

18h - Roda de conversa com Carol Salomão, Unama Alcindo Cacela 18h

26/03

9h/15h - IT Center (Parque de Diversões)

8h - ⁠Passeio no Parque do Utinga

27/03

8h - Oficina Culinária na APAE BELÉM

7h30 - Aulão de Fit Dance no Clube Alegria⁠

15h - ⁠Yogaterapia (APAE Belém - Av. Generalíssimo Deodoro, 413)

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