Idosa paciente de Alzheimer vive em estado de calamidade emergencial
A casa em que ela mora é insalubre e corre risco de desabamento devido constantes alagamentos no Curió-Utinga

A triste situação de calamidade na qual vive a idosa Raimunda Alba dos Santos, 85 anos, que há cerca de dez anos é paciente de Alzheimer, doença neurodegenerativa progressiva, comoveu amigos e vizinhos. Eles recorreram à Defesa Civil de Belém, que junto com a Fundação Papa João XXIII (Funpapa) tratam do realojamento dela ainda esta semana.
Há cerca de 30 anos, Raimunda mora em uma casa, na passagem Fé em Deus, no bairro do Curió-Utinga, em Belém, com quatro compartimentos - sendo a maior parte em madeira e somente o chão da sala em cimento. O lugar é insalubre e apresenta possibilidade de desabar, pois quando há fortes chuvas alaga por completo. E, mais ainda, quando o canal do Martir, que passa perto da casa dela, transborda e toma conta da rua em que a idosa mora, além de diversas áreas ao entorno. O transtorno e o descaso atingem centenas de moradores.
As condições da casa, onde dona Raimunda mora, após os alagamentos (Cláudio Pinheiro / O Liberal)
Segundo a única filha da idosa, a técnica em enfermagem Kátia dos Santos Barra, 50 anos, a situação piorou este ano, principalmente a partir das chuvas de segunda (9), quando amigos e vizinhos, sensibilizados e indignados, denunciaram a condição de calamidade vivida pela idosa à Defesa Civil de Belém.
“Sempre alagava a rua, mas agora as águas das chuvas e também do Canal Martir entram em toda a rua. O canal está assoreado e é estreito para tanta água. Nossa casa foi uma das mais prejudicadas. De lá pra cá quando chove a água entra e sobe pelo menos um metro. Não temos para onde correr com nossas coisas. Entro ainda em desespero pra socorrer a minha mãe, que foi operada recentemente e ainda não se recuperou”, disse a filha.
Além do mais, continua Kátia dos Santos, em dezembro deste ano, Raimunda sofreu uma queda da cadeira e não consegue mais andar. “Então, quando chove os vizinhos sempre nos socorrem, carregando ela e poucas coisas que temos de valor para não molhar, mesmo assim, temos muitos prejuízos. Mas a preocupação maior é com ela”, conta a filha. Além da filha, Raimunda mora com dois cães e um papagaio.
Após uma queda, dona Raimunda ficou totalmente depende da filha Kátia, técnica de enfermagem. (Cláudio Pinheiro / O Liberal)
Diante dessa situação de caos, os vizinhos e amigos resolveram então fazer imagens das dificuldades da família e da idosa, no momento em que a casa estava alagada, e pediram socorro à Defesa Civil de Belém.
“Eles enviaram fotos e vídeos para a Defesa Civil denunciando e pedindo ajuda para a situação. A Defesa Civil e a Funpapa já contactaram com a gente, verificamos uma casa aqui perto, que não alaga, e ainda este final de semana vamos nos mudar pra lá. A Funpapa que vai garantir o aluguel pelo Cheque Aluguel”, afirma Kátia, que, há uma década, deixou o emprego para somente cuidar da mãe, que é aposentada e ambas vivem com um salário mínimo (R$ 1.039) por mês.
Nesse tempo, ainda segundo Kátia, a família vai se cadastrar para solicitar o Cheque Moradia pela Companhia de Habitação do Pará (Cohab) e tem a expectativa de que, desta vez, consiga o benefício aguardado há uma década.
“Sempre sonhamos com esse benefício. Quando minha mãe ainda era lúcida ela já tinha feito cadastro, mas nunca conseguimos a liberação. Tomara que agora, depois de toda essa triste situação, realmente dê tudo certo e a gente consiga construir uma moradia mais digna e que não alague mais. Mas, mesmo com os alagamentos, não queremos sair daqui da passagem, pois gostamos muito da vizinhança, pois somos unidos”, contou a filha da idosa.
Por volta das 11h desta quinta-feira (12), uma equipe da Defesa Civil de Belém esteve no local para emissão de laudo das condições do imóvel, que vai valer para a família solicitar o Cheque Moradia e outros benefícios. Para Moacir Almeida Júnior, técnico da Defesa Civil, o imóvel da idosa não apresenta condições de moradia, pois considerou o espaço como insalubre e com grandes chances de desabar.
“Vamos preparar o laudo para ela dar entrada na Cohab e buscar o Cheque Moradia. Além disso, ajuda com que ela garanta o Auxílio Moradia na Funpapa, que afirmou que já vai fazer a mudança dela. A casa dela está totalmente tombada, com piso de alvenaria rachado e o de madeira estragado. Pode cair ainda mais com essas chuvas torrenciais. É uma situação de emergência pela situação da casa e pela saúde dela. Ela tem que ser logo atendida e quando tem que construir um piso bem alto para a casa, porque essa área do Curió é muito baixa e vem água de cima e de baixo. Para resolver tem que fazer obra no bairro todo”, disse o técnico.
A equipe da Defesa Civil entregou uma cesta básica de alimentos à idosa. O órgão está aberto a doações para ajudar as pessoas vítimas de alagamentos em Belém. Quem quiser ajudar, pode ligar para: 91 – 984390646.
Funpapa e Sesan
Em nota, a Prefeitura de Belém, por meio da Fundação Papa João XXIII ( Funpapa ), informou que a equipe do Serviço de Proteção de Calamidade Pública e Emergenciais (Sicape), esteve na tarde desta quinta-feira (12) na casa da idosa realizando o levantamento dos danos e orientando sobre os direitos dos programas sociais.
Ainda nesta quinta, havia previsão de uma equipe da Funpapa ir à casa da idosa Raimunda Alba dos Santos orientar em relação aos procedimentos a serem tomados e à mudança para o novo espaço alugado, que fica na mesma rua.
A Funpapa esclareceu que “devido à situação de calamidade e as condições de saúde da idosa irá disponibilizar o Auxílio Aluguel e garantir o atendimento psicossocial por meio do Centro de Referência de Assistência Social (Cras)”. Ressaltou, ainda, que a idosa já recebe atendimento do programa "Melhor em Casa " da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma).
Ainda em nota, a Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) disse que “já está executando obras na avenida João Paulo II, no bairro do Curió-Utinga”.
Falou ainda que, na tarde desta quinta, as equipes iniciaram a escavação do solo a rua do tubo. “As obras, que têm previsão de seis meses para conclusão, visam solucionar os problemas de alagamentos na parte baixa do bairro”.
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