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Grande Coleta de Emaús chega aos 50 anos e precisa de caminhões para serviço no dia 24

Coordenadores e voluntários se mobilizam para a arrecadação de donativos pelos bairros de Belém, para sustentar atividades sociais da instituição

Eduardo Rocha

Um gesto de solidariedade vai completar 50 anos no dia 24 deste mês. É a  Grande Coleta de Emaús, por meio da qual o Movimento República de Emaús, fundado pelo padre Bruno Sechi em 1970, recolhe donativos para a manutenção de suas ações sociais em prol de crianças e adolescentes pobres de Belém. Apesar dessa conquista de meio século de atividades, a coordenação da Grande Coleta precisa da colaboração de empresas e instituições para dispor de 25 caminhões para esse serviço na segunda quinzena deste mês.

O foco da República de Emaús é o combate ao trabalho infantil e valorização da criança e do adolescente em situação de vulnerabilidade social. Prestes a completar 53 anos de funcionamento em 12 de outubro, o Emaús tem na frase lapidar de padre Bruno, proferida dias antes de morrer em 29 de maio de 2020, aos 80 anos de idade, um incentivo para continuar com as ações sociais para mil crianças e adolescentes/ano: “Jamais nos deixem perder a esperança”.

Preparativos

Por essa razão, seguem acelerados os preparativos para a Grande Coleta, a ser realizada das 7 às 19 horas do dia 24, ou seja, mantendo a tradição de ocorrer no último domingo de setembro, como informa a pedagoga Tássia Alves Pacheco, 26 anos, atual coordenadora desse serviço. “A Grande Coleta é mais que um evento, é uma estratégia de mobilização da sociedade para a sensibilização sobre a necessidade de defesa dos direitos de crianças e adolescentes”, destaca Tássia.

“Até agora, temos 10 caminhões e, então, precisamos de mais 15 para totalizar 25 para a Grande Coleta. Agradecemos a empresas, instituições e pessoas físicas que já se comprometeram em nos ajudar com seus veículos e esperamos contar com a parceria de outras para completar o número de caminhões para a nossa ação”, enfatiza Tássia Alves. Quem quiser colaborar com a Grande Coleta pode entrar em contato com a coordenação por meio do telefone 98400-1676.

image Tássia Alves: Grande Coleta é mobilização pelos direitos de crianças e adolescentes (Foto: Ivan Duarte / O Liberal)

Parceria

Um dos parceiros da Coleta de Emaús é João MIranda Góes Filho, 54 anos, que atua como caminhoneiro há 35 anos. Ele conta que frequentou a antiga sede da República de Emaús, na travessa Padre Eutíquio, no bairro do Jurunas. “Eu morava no Jurunas e tinha uns 8 ou 9 anos de idade e frequentava naquela época a República do Pequeno Vendedor. Almocei muito lá, brincava de bola, estudei música, aprendi mecânica e a trabalhar com sistema elétrico e hidráulico no Emaús”, conta João, saudoso.

image João Miranda: relação estreita com a República de Emaús (Foto: Arquivo Pessoal)

João mora no bairro do Tapanã, é casado e pai de 4 filhos. “Eu conheci o padre Bruno, era muito gente boa, dava muitos conselhos para a gente, para os jovens, ensinava a não seguir pelo caminho errado. O Emaús me mostrou um caminho e me ensinou a respeitar o próximo”, destaca João Miranda. Ele frequentou a República de Emaús até os 16 anos de idade, depois, foi seguir carreira como trabalhador e passou a ser voluntário da Coleta. “Eu nunca deixo de ajudar, sempre que posso estou lá. e no dia 24 vou estar na Grande Coleta”, complementa.

Solidariedade nas ruas

Serão mobilizados cerca de mil voluntários, a maioria jovens nas equipes interna e externa da coleta de donativos. As inscrições para voluntários podem ser feitas na bio do Emaús no Instagram (https://bio.site/emaus) até 7 de setembro. No dia 24, os caminhões da campanha irão às ruas com roteiros já definidos a partir das ações em anos anteriores. Os voluntários irão bater de casa em casa, mas quem quiser também pode ir até o caminhão e entregar seus donativos.

Poderão ser doados objetos em estado de uso, como artigos de cama, mesa e banho; roupas; calçados; louças; instrumentos musicais; móveis, eletrodomésticos, brinquedos, acessórios em geral e eletroeletrônicos. Esse material será posteriormente recuperado para ser aproveitado em uma feira de baixo custo para comunidades das periferias de Belém, a ser organizada pelo Movimento República de Emaús. Os recursos gerados na feira serão empregados nas atividades sociais do Movimento.

Além da Campanha, essas ações envolvem o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca); a República do Pequeno Vendedor, que promove os direitos desse público; atividades de arte, cultura e lazer (atividades pedagógicas), a realização de cursos profissionalizantes e o Programa de Aprendizagem (Adolescente Aprendiz), reunindo cursos de informática, estudos dos Direitos Humanos, escriturário de banco e auxiliar administrativo.

Na sede do Movimento República, na avenida Bruno Sechi, 17, no bairro do Benguí, funciona uma escola pública estadual, a qual foi fundada pelo padre Brune e comunidade, mas hoje é administrada pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc).

Sonho real

Este ano, o tema da ação é “50 anos da Coleta de Emaús: um sonho que se torna realidade por meio da solidariedade”. “A Grande Coleta é decisiva para todos nós, porque são mil crianças e adolescentes atendidos por ano. São pessoas do Benguí e de outros bairros do entorno e da Região Metropolitana de Belém, pessoas em vulnerabilidade social, e o nosso foco é o combate ao trabalho infantil”, destaca Tássia Alves.

Uma outra frente de atuação do Emaús é o Centro de Inclusão Digital (CID), um espaço em que adolescentes, jovens e adultos aprendem informática básica, manutenção de computadores, robótica e noções de sustentabilidade, inclusive, verificando que computadores restaurados são utilizados na própria sede desse Movimento.

image Jovens acessam conhecimento por meio de oficinas no Emaús (Foto: Ivan Duarte / O Liberal)

Uma história de amor ao próximo

A professora Georgina Kalife Cordeiro, da Universidade Federal do Pará (UFPA) e atua na coordenação do Movimento de Emaús, como sócia efetiva desde a fundação da instituição em 1970. Georgina atua como trabalhadora voluntária.

“Desde 1970, ela fazia parte de um grupo de jovens que junto com o padre Bruno criou o Restaurante do Pequeno Vendedor na Ladeira do Castelo (área do Complexo do Ver-o-Peso), e de lá foi evoluindo a partir das necessidades apresentadas pelas crianças no sentido de se estabelecer toda uma relação com a realidade de rua que eles viviam. Foram sendo criadas atividades e, então, se instalaram cooperativas de trabalho, setores de atendimento, como serviço social, orientação educacional, e assim foi se ampliando toda a rede de atendimento para eles”, relata.

Como repassa a professora, a partir do Ver-o-Peso foi ampliado o atendimento para outras feiras da cidade, como em São Brás, onde foi criado o Restaurante do Pequeno Vendedor. Depois, foi criado outro restaurante, na Feira da 25 de Setembro; em seguida, surgiu outro na Feira da Pedreira, espaços voltados para as crianças em situação de trabalho infantil. “Sempre na perspectiva de tirá-los dessa condição e fazer com que eles pudessem, se organizando em grupos e cooperativas e posteriormente em núcleos de base, ir saindo dessa situação, além de todo um trabalho junto com as famílias, que são a porta de entrada deles nesse tipo de ação”, enfatiza Georgina.

A República de Emaús saiu do Ver-o-Peso e providenciou uma sede na travessa Padre Eutíquio, juntando as crianças que trabalhavam em diversas feiras. Nessa sede, passaram a ser realizadas oficinas com material obtido na Grande Coleta. Os meninos recuperavam os itens doados, em oficinas de eletrodomésticos, televisores, refrigeração e de veículos, como parte do projeto Operário Autônomo, com foco em as crianças e adolescentes saírem do trabalho de rua, em perspectiva de cooperativa. O Movimento funcionava como uma incubadora para eles depois implantarem a sua oficina nos bairros nos quais moravam. Essa ação se deu entre os anos 1970 e 1980.

No começo do Movimento, eram cerca de 100 meninos atendidos, e, depois, passou para 300 a cada ano. Parte deles era uma população flutuante (entravam e saíam das atividades), e outra parte formada por cidadãos que evoluíram na organização de cooperativas do Emaús e fizeram uma carreira e atuam como profissionais liberais e atuam como voluntários na República.

Modificações foram feitas no Movimento ao longo dos 52 anos. Quando a República atuava no Ver-o-Peso e na Padre Eutíquio, era notada a dificuldade das crianças de frequentar a escola. Então, o Movimento criou uma escola no Benguí adaptada à realidade dos meninos, cuja área foi doada pelo Governo do Estado e que hoje é a sede do Emaús. E por cerca de 20 anos, de funcionamento da unidade escolar, foram trabalhadas lideranças no bairro via curso de magistério, formando professores. Foram, então, criadas outras ações do Movimento.

República de Emaús

Padre Bruno, Dom Bosco: gente cuida de gente nas ruas

Para todos os coordenadores de ações e voluntários em geral do Movimento República de Emaús, a figura do padre Bruno Sechi é sempre marcante. “Padre Bruno foi o idealizador do Movimento. Ele era um padre jovem, começou o Movimento lá na Escola Salesiana do Trabalho, chamando os jovens para uma missa que na época tinha toda a questão da Jovem Guarda, aqueles conjuntos musicais, então, uma missa que atraía os jovens”, conta Georgina.

“E, a partir daí, tinha uma recreação, e o padre mostrava na reflexão do Evangelho, que não bastava ficar refletindo, tinha que tornar concreta aquela reflexão, e quem eram as pessoas que estavam no Evangelho? Quem era o Cristo, quem era o próximo? Então, esse grupo de jovens saiu para fazer todo um trabalho de reconhecimento no centro da cidade, e se começou à noite, observando a população de rua. E nessa pesquisa, foram verificadas crianças dormindo na rua. E aí como padre Bruno era salesiano, congregação fundada por Dom Bosco, um santo que trabalhou com as crianças na periferia de Turim, trabalho preventivo com elas para não chegarem à marginalidade”, revela Georgina. O exemplo da ação de Dom Bosco foi o referencial para o surgimento da República de Emaús.

Identificada que a necessidade de almoço para crianças em trabalho infantil nas feiras, o Emaús organizou os restaurantes, e, a partir da frequência deles nesses espaços, se começa um trabalho de organização. “O padre Bruno foi o motivador de todo esse trabalho ao longo da sua vida, por meio do seu exemplo, da sua dedicação, transformando o Movimento numa referência nacional, porque a organização desses meninos e meninas aqui, em Belém, deu força para a mobilização, criação do Estatuto da Criança e do Adolescente e foi feito O Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua com encontros nacionais.

Confira o que pode e não pode ser doado na Grande Coleta do dia 24/09:

Podem ser doados: artigos de cama, mesa e banho; roupas, sapatos, móveis, louças, instrumentos musicais, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, brinquedos, papelaria, material de informática e material de construção

NÃO devem ser doados na Grande Coleta 2023 (objetos não aproveitáveis):

Impressoras jato de tinta, toner, TV e monitor de tubo, telhas, papelão/papel/livros, pet, vidros, móveis de MDF e aglomerados estofados e sofá em mal estado

No dia 24, caminhões circularão pelas ruas de Belém, para coletar donativos, com as equipes batendo de casa em casa. Quem quiser, poderá entregar os donativos nos caminhões

Quem quiser colaborar cedendo caminhões à Grande Coleta, pode ligar para 98400-1676

Para ser um sócio solidário Emaús: 3285-7693 e 98938-3797

O Movimento República de Emaús foi fundado pelo padre Bruno Sechi e grupo de jovens em 12 de outubro de 1970

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