Festas de todas as cores e ritmos marcam Belém

Em Belém, o carnaval se mistura com as quadrilhas juninas e com a festa do Círio de Nazaré

João Thiago Dias

Belém é palco de tradicionais festas populares que mobilizam comunidades locais e de fora do Estado com diversão, cultura e devoção. Uma delas é o carnaval, que tem como ponto alto os desfiles das escolas de samba, promovidos pela Prefeitura Municipal, na Aldeia Amazônica, no bairro da Pedreira. Em um trabalho de preparação que se estende praticamente o ano todo, carnavalescos, passistas, intérpretes, percussionistas, casais de mestre-sala e porta-bandeira e outros integrantes de agremiações carnavalescas se dedicam com paixão em busca do desfile perfeito.

image Carnaval de Belém (Oswaldo Forte / O Liberal)

São aproximadamente 30 agremiações divididas em três grupos, sendo um especial e dois de acesso. O Grêmio Recreativo Jurunense Rancho Não Posso Me Amofiná, do bairro do Jurunas, é a escola mais antiga do Pará e a quarta mais antiga do Brasil, com 86 anos de história. Foi a campeã do desfile de 2019 e soma 35 títulos de vitória.

De acordo com o carnavalesco do Rancho, Paulo Aneti, a palavra "paixão" resume a dedicação dos brincantes da cidade. "É de paixão o envolvimento, onde o batuque se faz mais forte. É herança que passou de geração em geração até o momento em que se criou uma cultura de abnegação, onde a porta-bandeira costura o próprio vestido, o artesão faz os chapéus etc", avaliou.

"Talvez o nosso carnaval de avenida em Belém não morreu em função dessa paixão com a qual a gente trabalha o ano todo. Quando termina um desfile, apesar o cansaço físico, muitos já estão pensando no próximo ano. Não é um cansaço da alma. O corpo está estourado, mas a alma já sente saudade da bagunça, do sacrifício", acrescentou Paulo.

O carnaval de Belém já foi considerado um dos melhores do Brasil, conforme lembrou o carnavalesco. "Em meados da década de 70 e 80, nosso carnaval atingiu a idade de ouro, o apogeu com desfiles maravilhosos. Com o surgimento da escola Arco-Íris e de tantas outras", frisou. "Até hoje, mesmo não vivendo mais aquela época que favorece o sonho, ainda somos uma resistência porque está enraizado no povo", acrescentou.

Outras folias

A folia carnavalesca também pode ser vivida de outras formas na capital. As opções incluem blocos independentes, que saem pelas ruas de vários bairros; bailes de salão; que exemplificam a nostalgia de uma tradição com glamour e brincadeira, organizada pelos clubes sociais; além de trios elétricos e outros blocos que fazem a festa nas ilhas.

O pré-carnaval do bairro da Cidade Velha é uma referência de sucesso no quesito mobilização de brincantes. Neste ano, a programação vai de 11 a 15 de fevereiro, reunindo atrações locais e nacionais, além de vários blocos, com concentração a partir das 14h, na Avenida Tamandaré. O circuito de rua, com trios elétricos e charangas, vai seguir no entorno do canal da Tamandaré, com acesso gratuito, e alguns blocos seguindo para festas nas casas de shows.

image Carnaval da Cidade Velha (Oswaldo Forte / O Liberal)

Disputa de quadrilhas é acirrada na quadra junina 

Antes do fim do mês de maio, em Belém, a população já começa a presenciar a animação das festas juninas com o som do estalinho nas mãos das crianças. Além disso, são agitados os últimos preparativos para as tradicionais disputas de quadrilhas juninas, que são acirradas no Arraiá da Capitá, concurso da Prefeitura Municipal; no Concurso Estadual de Quadrilhas da Fundação Cultural do Pará; e nos concursos dos distritos e dos bairros.

O coreógrafo Tom Vilhena, que é presidente da quadrilha Encanto da Juventude, do bairro do Guamá, tem quase 30 anos de experiência no São João, sendo 28 à frente desta quadrilha, que se consagrou campeã do concurso do Arraiá da Capitá em 2019. Ele disse que não é possível explicar com exatidão o sentimento de viver em função da perfeita apresentação mediante os jurados. 

"Não se explica, se sente! Independentemente de vitórias ou derrotas, não tem explicação. Mas a palavra para resumir essa paixão é amor", comentou Tom. "Hoje, existem vários grupos de diferentes origens. Apesar das modernidades, as características devem estar mantidas e inseridas no contexto junino. Tem quadrilha caipira, roceira, moderna e estilizada, como o meu grupo", detalhou.

Mal termina o mês de junho e esses grupos já começam a pensar no tema do ano seguinte. É um esforço financeiro muito grande para conseguir pagar pelas roupas e utensílios da apresentação, mas, segundo Tom, tudo vale a pena. "A preparação se tornou anual. Termina um São João e engatamos no próximo trabalho com pesquisas de temas, músicas e materiais. No mês de outubro, damos início aos trabalhos coreográficos". 

Outras manifestações juninas

Além das quadrilhas, outras manifestações culturais e ícones marcam os festejos de São João em Belém, como os pássaros juninos, cortejos que reúnem vários mitos amazônicos e contam histórias a partir de um personagem central, o Pássaro.Também há várias representações com Boi Bumbá, que arrasta multidões com marcas do folclore regional. Além disso, há fogueiras, bandeirinhas, músicas temáticas e comidas típicas à base do milho.

No contexto dos cortejos, o Arraial do Pavulagem consegue reunir elementos tradicionais da quadra junina com costumes da cultura paraense. O Boi Pavulagem é seguido por milhares de brincantes que usam chapéu de fitas coloridas ao som de toadas de boi bumbá, quadrilhas e carimbós. O cortejo é realizado tradicionalmente durante os quatro domingos de junho, na área da Praça dos Estivadores e na Praça da República.

A simbologia do Arrastão do Boi Pavulagem envolve a chegada do boi azulado pela baía do Guajará, inclui os mastros de São João e passa pelos adereços do cortejo: estandartes de santos da quadra junina, cavalinhos, vaqueiros, pernas-de-pau, bandeiras e chapéus de fitas que ornamentam os dançarinos e tocadores do cortejo.  

Círio de Nazaré reflete fé e devoção há mais de 200 anos

Há mais de 200 anos, a devoção paraense emociona com promessas e agradecimentos no Círio de Nazaré, que é o segundo maior evento religioso do mundo e a maior procissão católica do planeta. Apenas na grande procissão do segundo domingo de outubro, são aproximadamente 2 milhões de devotos nas ruas da cidade. Ao todo, são 13 procissões oficiais que seguem a Imagem Peregrina, ao longo do mês, por terra e água, por meio de carro, navio, motocicletas e caminhadas na Região Metropolitana de Belém, que fica decorada com luzes e cartazes em forma de homenagem mariana. 

image Círio de Nazaré (Oswaldo Forte / O Liberal)

Em 2020, a edição de número 228 do Círio contará com o tema "Ave Maria, cheia de graça". De acordo com o coordenador deste ano, Albano Martins, trata-se de um evento de fé que ultrapassa os limites paraenses há muito tempo. "Já não é apenas um evento do Pará, mas, sim, do Brasil. É um evento eminentemente religioso. O que gira em torno dele também tem um pouco dessa conotação, mas alguns dão conotação mais cultural ou gastronômica com eventos paralelos. No entanto, toda a programação ligada à Igreja é de evangelização", esclareceu o Albano. 

Nova procissão 

O Círio de 2020 vai passar a contar com 13 romarias oficiais com a chancelamento do Traslado dos Carros como nova procissão. A ideia foi sugerida pelo Arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, juntamente com a Diretoria da Festa mediante o apelo popular, já que o evento costuma atrair um expressivo número de devotos em oração e preparação para o Círio. Com a reestruturação no calendário, essa passa a ser a primeira romaria oficial. 

Como o Traslado dos Carros é sempre na quarta feira que antecede a grande procissão do domingo e um dia antes da apresentação do manto, a Diretoria informou que esta romaria terá a participação da Imagem Peregrina sem o manto. “Decidimos assim para que o povo possa apreciar a beleza da Imagem sem o manto ou qualquer adereço. É uma oportunidade para quem tem essa curiosidade”, destacou Albano.

Outro diferencial é com relação ao trajeto, que será variável a cada ano, permanecendo apenas a saída da Basílica Santuário e a chegada no Galpão da CDP. “Queremos contemplar outros logradouros, agraciar outras famílias que terão a oportunidade de ver a Imagem Peregrina de perto, da porta de suas casas, além das homenagens diferenciadas em cada novo roteiro, para não permanecer só as que já existem no trajeto que foi feito até o Círio deste ano”, esclareceu o coordenador.

Outras novidades

Ainda em 2020, a Diretoria da Festa prepara outras novidades na programação que antecede o Círio. Em abril, será realizado o primeiro Círio Solidário, que será uma grande ação social com serviços de saúde, emissão de documentos, aconselhamento jurídico e religioso. O local está a definir, mas a organização estuda a possibilidade de eleger alguma paróquia no caminho do Traslado de Ananindeua. Esse evento também deve ser realizado no mês de agosto. 

Em maio, formatada em parceria com o Sebrae, terá a Quermesse Mariana, que consiste em cinco dias festivos na Praça Santuário com barraquinhas e comidas. "Na última semana de maio, tem a descida da Imagem Original do Glória, que fica uma semana exposta aos devotos. No Dia 31, terá a subida e a apresentação do cartas oficial deste ano. A programação da quermesse vai acompanhar essa semana da descida. Nosso objetivo é expandir essa vivência do Círio para o ano todo", concluiu Albano. 

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