Férias escolares: administrar sono de adultos e crianças é desafio para a saúde, alerta especialista

A privação de sono funciona como gatilho para uma série de doenças, ao passo que a população está dormindo com cada vez menos qualidade e por menos tempo

Eduardo Rocha
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Para muitas famílias no Brasil, o que se reflete no Pará, administrar o sono das crianças e dos adultos é um desafio de todas as noites. Com o começo das férias escolares, esse desafio é intensificado. Uma boa noite de sono é fundamental para a saúde, como apontam especialistas de diversas áreas. Enquanto isso, o brasileiro, de uma forma geral, dorme muito mal. A pandemia da covid-19 agravou esse processo e estudo feito por cientistas da USP e da Unifesp, publicado na revista Sleep Epidemiology, indica que 65,5% da população do país relata problemas relacionados ao sono.

Essa situação está presente, entre muitos outros casos, na família da empresária Nilma Muniz, 32 anos, casada com o bancário Rosemiro Neves, 38 anos, e mãe da pequena Alana Neves, de 10 anos de idade. Eles moram no bairro da Pedreira, em Belém. “É difícil controlar o horário da Alana dormir. Em geral, ela vai para a cama às 22h ou 22h30. O pai dela chega em casa já à noite, e, então, eles dois costumam ficar conversando, é o momento que têm para interagir. Mas isso faz com que ela vá para a cama um pouco mais tarde e altera um pouco o momento de ir dormir”, relata Nilma.

A empresária conta que antes de ir dormir, a filha fica usando celular ou assistindo TV. “Mas, nós ficamos atentos para ela não ficar grudada nos eletrônicos; então, uns 30 minutos antes de ir para o quarto, ela deixa o celular e a TV e fica só conversando. Eu e ela costumamos ler algum livro antes de ela dormir. A questão é conciliar os horários da família para se ter momentos no lar e também que a nossa filha tenha uma boa noite de sono”, completa Nilma Muniz, que está grávida de 4 meses

A professora Maria Cláudia Soares Oliveira, médica otorrinolaringologista e médica do sono, atua como docente adjunta da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA). Ela destaca que as pessoas, em geral, e até mesmo profissionais de saúde mesmo, desconhecem todas as funções e propriedades do sono. Para crianças, então, isso é ainda mais fundamental.

“Essa rotina da família começa a ficar desajustada muito pela falta de conhecimento dessas particularidades da infância e da adolescência e pela falta de limites. Eu, como mãe, posso compartilhar essa dificuldade, porque é chato, demanda energia, dá trabalho, mas a gente tem que assumir essa postura, organizar a rotina da família e não levar a rotina da criança e do adolescente para a rotina do adulto. Você tem que priorizar os horários de dormir e acordar, se os horários da criança e do adolescente são mais cedo que o dos adultos da família, então, primeiro deve-se colocá-los para dormir, depois você vai fazer alguma outra demanda, tudo sem negligenciar o sono do adulto. Se a criança está indo dormir no mesmo horário dos pais, ela está se privando de sono”, ressalta Maria Cláudia.

 

Pessoas possuem cronotipos: os horários de mais atividade e de descanso

Maria Cláudia explica que pessoas têm geneticamente determinado o cronotipo, que corresponde à tendência do ser, ao longo das 24 horas do dia, a ter um período para adormecer e um período mais de atenção, de vigília. Existem três cronotipos: o matutino, que dorme cedo e acorda cedo; o vespertino, que é aquele tem uma tendência a dormir mais tarde e acordar mais tarde; e tem o intermediário, que é aquele que se adapta de acordo com a demanda. Os matutinos correspondem, em média, a 2% da população; os vespertinos, também a 2%; e a maioria é um cronotipo intermediário, que se adapta com a demanda. Ao longo da vida, o cronotipo vai tendo algumas modificações.

“A criança tem uma tendência ao cronotipo matutino, assim como os idosos; os adolescentes são mais vespertinos e, na fase adulta, a gente assume o nosso cronotipo genético, ou seja, se você é matutino, vai ser mais matutino; se você é vespertino, vai ser mais vespertino; se é intermediário, vai assumir esse padrão intermediário. Acontece que a gente tem na família, muitas vezes, adultos, crianças, adolescentes e idosos, todos convivendo juntos, e o que a gente acaba vendo é que na maioria das vezes a família assume o cronotipo, a rotina do adulto. Então, por exemplo, a gente vê crianças indo dormir às 11 horas da noite, meia-noite, e no outro dia acordam cedo para ir para a escola, quando na verdade, o recomendado é que a criança respeite o seu ritmo, o seu cronotipo”, alerta Maria Cláudia.

A criança tem que dormir cedo e acordar cedo, porque essa é a genética dela, como frisa a professora. Estudos mostram que o horário limite para uma criança estar dormindo é 21 horas. Depois desse horário, existem alguns processos relacionados ao sono que começam a desajustar, e aí a dificuldade de iniciar e manter o sono fica mais latente. Deixar o filho acordado até tarde para ele pegar logo no sono, porque dá muito trabalho para iniciar o sono, não é uma prática indicada. Deve-se avaliar o que é esse dar trabalho para dormir, como está sendo essa rotina. Os pais devem colocar limites nos adolescentes com relação ao mundo tecnológico e na fase de muito envolvimento com amigos, redes sociais, grupos de aplicativos...

 

Excessos tecnológicos alteram rotinas e criam prejuízos para crianças e adultos

"Nós temos um mundo cada vez mais tecnológico, vivemos numa sociedade que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, com acesso à internet, à informação, à televisão, a filmes e séries, e se conversa com pessoas do mundo todo, então, essa disponibilidade tecnológica na palma da nossa mão é um avanço muito grande, do ponto de vista da ciência, mas também acaba nos trazendo uma responsabilidade do uso, e aí é que está o problema. Tudo que é em excesso, quando a gente não consegue manejar, planejar, acaba atrapalhando”, observa Maria Cláudia.

O excesso de luzes, de telas, de comunicação e de interação 24 horas por dia e em sete dias por semana é um outro problema que acaba impactando o sono. “À medida que você não tem controle sobre isso e não tem ideia da importância do sono, você começa a avançar a noite com essas demandas tecnológicas, vamos dizer assim, e vai encurtando o seu período de sono. E isso acontece desde a infância, Não é só com os adultos. E na infância e na adolescência, há o agravante que a gente não tem ainda o nosso cérebro desenvolvido adequadamente, a maturidade emocional e maturidade anatômica mesmo cerebral, para controlar essas ações”, conclui a pesquisadora.

 

Quais os efeitos da falta de qualidade do sono para crianças e adolescentes?

  • Crianças tendem a ficar mais irritadas, mais agitadas, mais reativas, com maior tendência à birra
  • Crianças, adolescentes e adultos podem ter dificuldade de controle das emoções
  • Alterações de humor, maior tendência à depressão e ansiedade, pânico
  • Alterações de empatia
  • Queda de concentração, do raciocínio lógico e da capacidade de reação
  • Crianças, adolescentes e adultos criam uma tendência à obesidade.

 

Dicas de como manter a saúde e higiene do sono para garantir qualidade de vida para toda a família

  • Definir um horário (o mesmo todos os dias) para deitar e acordar, permitindo poucas variações durante o final de semana.
  • Evitar servir alimentos ou bebidas estimulantes durante o jantar;
  • Evitar praticar atividades vigorosas pelo menos duas horas antes de dormir;
  • Restringir o uso de televisão, computador ou smartphone depois do jantar ou pelo menos meia hora antes de adormecer;
  • Zelar para que no momento de deitar o quarto tenha um ambiente tranquilo, silencioso, escuro e uma temperatura amena;
  • Servir um café da manhã saudável; ação fundamental que ajuda a repor a energia necessária para a realização das atividades cotidianas;
  • Adotar uma rotina saudável, com boa alimentação, prática regular de exercícios físicos e meditação

 

FONTE: Thanguy Friço e Patrícia Friço, autores do livro “Pais Saudáveis = Filhos Saudáveis”.

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