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Em Belém, Pilar del Rìo, viúva de Saramago, encontra viúva de indigenista assassinado

Em entrevista com Beatriz Matos, a jornalista espanhola volta a pressionar o governo brasileiro por respostas sobre o assassinato de Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, assim como por medidas de proteção da Amazônia e dos que ali vivem.

Enize Vidigal
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A jornalista e escritora espanhola Pilar del Río, viúva de José Saramago, que acaba de chegar a Belém a convite da Universidade Federal do Pará (UFPA), realizou como primeira atividade na Amazônia uma entrevista online com a professora e antropóloga Beatriz Matos, viúva de Bruno Pereira, que foi covardemente assassinado junto com o jornalista inglês Dom Phillips, no Vale do Javari, no Amazonas, há dois meses. A entrevista foi realizada na noite desta sexta-feira, 19, no Teatro Universitário Cláudio Barradas, com transmissão ao vivo pelo canal da UFPA no Youtube, onde ficará disponível.

A presidenta da Fundação José Saramago não escolheu uma pauta qualquer para marcar a chegada dela ao Brasil. A entrevista com a esposa e mãe dos filhos de Bruno reativa a pressão internacional sobre o governo brasileiro por respostas sobre o crime bárbaro de repercussão mundial, pressiona também por segurança nos confins da Amazônia, pelo direito à vida e, sobretudo, pelo enfrentamento dos invasores de terras indígenas e de áreas de proteção ambiental para exploração de madeira e garimpo ilegal.

“Eram pessoas honestas que foram assassinadas. O Estado não respondeu e tem essa obrigação porque o Bruno Pereira e o Dom Phillips estavam trabalhando para toda a sociedade e o governo brasileiro tem que assumir essa responsabilidade”, apontou Pilar del Río. No encontro intitulado “Beatriz Matos & Pilar del Río. Por um Direito que Respeite, uma Justiça que Cumpra”, a esposa do Nobel de Literatura destacou que “compartilha sentimentos de vida e de militância” com Beatriz e que assume o papel de reafirmar os pilares da Fundação José Saramago, que defende a cultura, os Direitos Humanos e o meio ambiente.

image Pilar del Rìo, presidenta da Fundação José Saramago, segue difundindo pelo mundo não apenas a obra do marido, mas também os ideais que compartilhavam. (Cláudio Pinheiro/ O Liberal)

A entrevista foi a primeira dada presencialmente por Beatriz após o crime. “Penso na memória do Bruno que vai ficar para os nossos filhos (eles têm 2 e 4 anos de idade), o que eles vão ouvir sobre o que aconteceu. Quando eles virem o que a Pilar fez, que os indígenas encararam como se fosse a perda de um parente deles, como várias pessoas e artistas se posicionaram, isso torna essa memória mais bonita do que um assassinato, dá força à imagem do Bruno”, declarou a professora, que é natural de Belo Horizonte, mas reside em Belém e leciona na UFPA.

Entrevista

A conversa delicada, conduzida por Pilar del Rìo, demonstrou sensibilidade com a mulher que enfrenta uma tragédia pessoal, mas também cobrou justiça por Bruno e Dom. Beatriz comparou que o ex-presidente Lula prestou condolências e firmou compromisso na preservação da Amazônia e na proteção das terras indígenas, enquanto o presidente Jair Bolsonaro “não demonstrou respeito pela morte brutal, como insultou”, apesar da comoção internacional.

“O Bruno era funcionário da Funai e dedicou a vida à Funai”, disse, referindo-se também às declarações desastrosas do presidente da Fundação Nacional do Índio, Marcelo Xavier, e do vice-presidente Hamilton Mourão, que responsabilizaram as vítimas por entrarem numa “área perigosa sem escolta armada”. “Quando você escuta que o seu marido foi assassinado porque ali é assim mesmo... Ali vivem pessoas, a violência não pode ser naturalizada. É muito indignante ouvir isso, porque se tem problema ali, tem que ser solucionado”, concluiu a antropóloga. “Quem nos governa, precisa combater a ideia de que existam pessoas ‘matáveis’”.

“Todos temos o dever de cuidar da Amazônia, que é fundamental para a vida do planeta”, destacou Pilar, que entregou à Beatriz, para que lesse durante a entrevista, um texto de Saramago sobre a harmonia dos povos constante no livro “José Saramago- Literatura e Compromisso- Seleção, Introdução e Notas”, de Carlos Reis. O livro publicado pela Editora da UFPA e Fundação Saramago será lançado durante o Colóquio Internacional “José Saramago: palavra, pensamento, ação”, que será realizado na UFPA, entre as próximas segunda e quarta-feiras, 22 e 24. Na capital paraense, Pilar também apresenta o novo livro dela, "A intuição da ilha- Os dias de Jose Saramago em Lanzarote" (Cia das Letras).

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