Em 10 anos, número de pessoas morando sozinhas cresceu 74% no Pará, aponta IBGE

Segundo o levantamento, em todo o Estado, o número de lares com apenas um residente, em 2012, era de 175 mil. Já em 2022, o total chegou a 304 mil

Gabriel Pires

Em 10 anos, o número de pessoas morando sozinhas aumentou 74% no Pará, entre 2012 e 2022, como apontam dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o levantamento, em todo o Estado, o número de lares com apenas um residente (domicílios unipessoais), em 2012, era de 175 mil. Já em 2022, o total chegou a 304 mil.

Ainda de acordo com o IBGE, somente em 2022, o Pará tinha um total de 2.444.319 domicílios, conforme o Censo Demográfico daquele ano. Com isso, na comparação em relação às outras unidades da federação, o Estado teve, no mesmo período, o 3º menor percentual de casas com um único morador no Brasil, ficando acima apenas do Amapá (9,6% dos domicílios unipessoais) e Maranhão (10,5%). A nível nacional, em 2022, as moradias com apenas um indivíduo totalizavam 11,8 milhões no país.

image Crescimento do número de pessoas com 65 anos ou mais no Pará foi de 52%, de 2010 a 2022 (Foto: Sabine Vanerp | Pixabay)

Segundo a supervisora estadual da PNAD Contínua no Pará, Angela Gemaque, a dinâmica populacional, como o envelhecimento da população, pode contribuir para o aumento desses domicílios unipessoais. Isso porque, no recorte por idade, a pesquisa mostra que a população nessa condição costuma ter mais idade, como mostrado na pesquisa mais recente. Na faixa etária de 30 a 59 anos, a predominância de homens vivendo em residências unipessoais é bastante expressiva — 116 mil homens e 48 mil mulheres.

Já quando se passa para a faixa etária de 60 anos ou mais, os números se aproximam, somando 54 mil homens e 45 mil mulheres. “Esse grupo [60 anos ou mais] que antes era dominado pelos homens, era uma maioria muito grande, no caso do Pará, praticamente fica muito mais próxima. Provavelmente isso está relacionado ao fato de que as mulheres vivem mais anos do que os homens. O censo demográfico de 2022, inclusive, vem com esse tipo de resultado. Isso corrobora as divulgações feitas anteriormente”, explica Angela.

“Se as mulheres vivem mais, é só imaginarmos que, uma mulher que antes morava com o marido ou inicialmente morava até com o marido e os filhos, primeiramente os filhos saem de casa e depois fica somente o casal. Posteriormente, quem geralmente é o primeiro a morrer? Normalmente, pelo que se mostra, é o homem. Por isso, é que se verifica essa diferença na proporção da população com 60 anos ou mais morando sozinha”, exemplifica Angela.

Urbanização

Outro fator determinante para esse fenômeno, de acordo com a especialista, é a migração juntamente com pessoas mais novas em busca de autonomia. “O Pará tem alguns polos de grande atratividade do ponto de vista de trabalho. Não é à toa que Canaã dos Carajás [no sudeste paraense] teve um aumento proporcional de população muito significativo. Isso deve atrair não só migrantes, digamos de alguns municípios, mas pode ter atraído, certamente, uma população de fora”, avalia.

E ainda, questões culturais e a evolução da urbanização também podem contribuir para que mais pessoas decidam morar sozinhas, ainda segundo Angela, sobretudo em áreas urbanas. “As pesquisas do IBGE, como os censos e as pesquisas domiciliares, também mostram que o número e a proporção de pessoas morando na cidade só evolui. Cada vez diminui mais o número de pessoas morando em áreas rurais e aumenta a proporção de pessoas que vivem nas cidades. Isso não é um fenômeno nem isolado do Pará, nem isolado do Brasil. Isso é um fenômeno mundial”, pontua.

image Reinaldo Barros já mora só há três anos e diz não abrir mão da independência. (Igor Mota / O Liberal)

Independência

Aos 34 anos, o assessor de comunicação, Reinaldo Barros, de Belém, mora sozinho desde 2020, quando se mudou para o município de Canaã dos Carajás ao conquistar uma vaga de emprego. Mesmo com os pais morando na capital e com a relação de afeto, ele diz que, atualmente, não se vê mais morando com a família. Ele destaca, ainda, que a autonomia é um dos pontos que já não abre mão. “Eu voltei [de Canaã dos Carajás] e continuei morando só. Mesmo com a casa dos meus pais, resolvi continuar com a minha independência”, diz.

“Esse processo foi difícil no início, porque eu sempre fui muito apegado a minha família, mas a gente sempre se vê. Quando a gente começa a trabalhar, vamos em busca do próprio caminho. Foi doloroso, mas, hoje em dia, é tranquilo. Já sobre as vantagens de morar só, eu acho que a gente cria responsabilidade e independência. Passamos a ser mais donos de si. E morar sozinho também tem algumas mudanças de rotina. Tem todo um processo no dia a dia”, completa Reinaldo.

image 'Morar sozinho não é estar só', diz Ronaldo Barros. (Igor Mota / O Liberal)

Reinaldo conta que se sente bem morando sozinho e que isso não significa estar só. Receber os amigos em casa também é uma forma de liberdade e uma das vantagens, lembra ele. “Às vezes você quer receber amigos em casa. E, quando você mora com pai e mãe, você acaba não tendo essa liberdade. Eu acabo recebendo muitos amigos, principalmente alguns de Macapá. Estou sempre recebendo alguns amigos que estão a passeio em Belém. Sempre gosto de estar com eles”, relata.

Saúde mental

Com relação ao bem-estar mental, morar sozinho também traz benefícios. Segundo a psicóloga Rafaela Guedes, ter o próprio espaço é muito reconfortante. Tudo isso “porque as pessoas têm um lugar em que se tem ninho, que é acolhedor, é organizado de acordo com o desejo da pessoa, com aquilo que a satisfaz e dá prazer. Então, é muito positivo para aquele momento em que as pessoas precisam se isolar, respirar, curtir a ‘solitude’”, destaca a especialista.

Mesmo sem morar com outras pessoas, a psicóloga lembra que é importante manter redes de apoio — seja com familiares ou amigos. “Muito tempo sem o contato com pessoas queridas e que te querem bem, pode trazer sofrimento psíquico. E essa solidão, à medida que a gente vai envelhecendo, ela pode ser nociva e prejudicial. Isso a gente precisa estar atento a quais estratégias a gente pode utilizar para aproximar e para se fazer próximo das pessoas que nós queremos e que nos querem bem. A chave está aí”, finaliza.

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