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Diploma digital obrigatório diminui valor simbólico? Veja opiniões

Após a medida do Ministério da Educação (MEC) que determinou a emissão exclusiva de diplomas digitais em universidades públicas e privadas, egressos do ensino superior apontam que a determinação traz benefícios, mas reduz a carga simbólica de possuir o documento físico

Gabriel Pires e Bruno Roberto | Especial para O Liberal

Após a medida do Ministério da Educação (MEC) que determinou a emissão exclusiva de diplomas digitais em universidades públicas e privadas, egressos do ensino superior apontam que a determinação traz benefícios, mas reduz a carga simbólica de possuir o documento físico. Isso porque o ter o certificado de conclusão do curso em mãos representa a materialização de todo o esforço dedicado ao longo da formação acadêmica. Ainda assim, o MEC e outras autoridades destacam que a mudança proporciona mais segurança.

A recém-concluinte do curso de licenciatura em Matemática, Taynara Corrêa, de 33 anos, encara a medida de duas formas: ao mesmo tempo em que reconhece a importância da digitalização da certificação, ela também lembra que, sem o certificado físico, os estudantes perdem o simbolismo de não ter mais o documento em “papel”.

“O avanço da tecnologia traz muitos benefícios e soluções importantes para a educação, mas eu fico um pouco triste, porque o diploma sempre representou um marco na vida de qualquer universitário e até das famílias. Muitas pessoas falam: ‘meu filho é formado, olha aqui o diploma’. Sempre tem aquela questão de alguns guardarem e emoldurarem. A gente guarda aquele documento físico com orgulho, porque não é só uma conquista nossa, de estudante, é uma conquista também da nossa família”, relata.

Em meio a isso, Taynara concluiu o curso de licenciatura em Matemática, na última terça-feira (15), após sete anos de formação, marcada por desafios como a pandemia e uma gravidez de risco em 2022. “Eu precisei me afastar de todas as minhas atividades laborais e estudantis”, lembra. Com orientação médica, ela trancou o semestre e finalizou parte das disciplinas em casa. “Faltava apenas o TCC para defender e eu fui obrigada pelo meu cardiologista a permanecer em casa, evitar qualquer tipo de estresse”, disse. Diagnosticada com prolapso de válvula do coração, Taynara reforçou que a medida foi necessária “para evitar que viesse algo pior acontecer”.

Agora, após solenidade - que ela teve a filha como paraninfa, a pequena Maria Cecília, de 2 anos - , o novo diploma de licenciatura já deve ser digitalizado. Taynara também destaca que a versão digitalizada do documento pode evitar fraudes: “Já vi casos de pessoas que compravam diplomas só para conseguir determinados cargos, por exemplo. Eu acho que pode trazer mais segurança com essa autenticidade do diploma digital”. “Também acredito que a digitalização tem o potencial de facilitar as coisas, principalmente quando a gente precisa de algum documento acessível”, acrescenta.

Prevenção de fraudes

O delegado da Polícia Federal do Pará, Roger Morgado, considera que a digitalização de documentos é um passo importante para a segurança da população. “Esse movimento não é só em questões específicas como o diploma. Temos visto estádios de futebol com reconhecimento facial, até mesmo o sistema eleitoral utilizando a biometria. Isso já é um aspecto da vulnerabilidade da utilização do documento em papel. Ele realmente não tem mais uma característica de dar segurança naquilo que consta nele”, afirma.

O uso de documentos falsos é considerado um crime-meio, ou seja, o infrator comete o crime com a finalidade de realizar outra infração. No caso da falsificação do diploma, os criminosos podem conseguir desde benefícios financeiros até aprovação em conselhos de classes profissionais, como o Conselho Regional de Medicina (CRM), de acordo com o delegado Roger Morgado.

Com o aprimoramento nas técnicas de falsificação, a dificuldade de identificar visualmente a autenticidade de um documento aumenta. Nesse caso, a digitalização do diploma dificulta a atuação criminosa, a partir da utilização de sistemas de criptografia e de banco de dados.

“Quando se fala no sistema de ensino federal que abrange os institutos federais e as instituições privadas, com autorização do MEC, você está falando num sistema de assinatura com criptografia e de um banco de dados para autenticação unificado. Então, são várias formas de você fazer uma conferência rápida que ateste que aquele documento realmente é original”, explica o delegado Roger Morgado.

Um aspecto importante da digitalização para os órgãos de segurança é o rastreamento de dados. “O que pode nos ajudar em matéria de investigação é que quando se entra para o mundo digital, você deixa rastro, é rastreável. Um documento em papel falso é muito difícil identificar de onde ele surgiu. Já uma autenticação, uma produção de documento no meio digital, ela deixa um rastro digital”, conta o delegado Roger Morgado.

Fragilidades da digitalização

Por outro lado, o delegado afirma que a digitalização ainda esbarra em duas fragilidades. A primeira é o fator humano, pois as pessoas responsáveis pelos sistemas virtuais podem cometer algum erro ou alimentar o programa com um dado falso. A outra fragilidade são os diferentes novos mecanismos criados pelas organizações criminosas para enganar as pessoas, como páginas falsas de autenticação.

Segundo o delegado Roger Morgado, o sistema perfeito não existe. “Já começamos a ver, por exemplo, a biometria, o reconhecimento facial, o reconhecimento estático e o reconhecimento dinâmico. Estamos avançando para evitar que o pessoal utilize uma foto, utilize uma biometria captada que a pessoa não esteja presente, mas não existe sistema perfeito”, comenta.

Universidades particulares também devem seguir a determinação

A pró-reitora administrativa do Centro Universitário Fibra, Rebeca Marinho, afirmou que a instituição já adota a emissão de diplomas exclusivamente digitais desde 2022, em cumprimento à uma portaria publicada em 2021. “A partir de 31 de dezembro daquele ano, passou a vigorar a implementação do diploma digital. Então, aqui na Fibra, por exemplo, a gente já trabalha com a emissão do diploma digital desde 2022. Todos os nossos alunos que colaram grau desde então já recebem o seu diploma no meio digital”.

Segundo ela, a adoção do novo modelo traz diversos benefícios tanto para as instituições quanto para os estudantes. “É um documento muito mais difícil de ser fraudado, o que garante mais segurança para todos os envolvidos, inclusive as empresas que receberão esse diploma e poderão verificar sua veracidade de forma imediata”, destaca.

Posicionamento das Instituições Federais de Ensino do Pará

UFPA

Em nota, a Universidade Federal do Pará (UFPA) informou que, desde 2024, os diplomas de graduação emitidos pela instituição passaram a ser disponibilizados em formato digital, em conformidade com as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Educação. “A iniciativa envolve o trabalho conjunto do Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (Ctic), do Centro de Registro e Indicadores Acadêmicos (Ciac) e das secretarias das faculdades da UFPA, responsáveis por garantir a segurança, autenticidade e celeridade no processo de emissão”, frisa o comunicado.

“A adoção do diploma digital representa um avanço significativo tanto na modernização dos serviços quanto na sustentabilidade institucional, ao reduzir o uso de papel, racionalizar recursos e diminuir o tempo de tramitação. Diferentemente do modelo impresso, que exigia procedimentos mais longos e complexos, o formato digital permite que a emissão ocorra de forma mais ágil, segura e acessível aos concluintes”, explica a instituição.

A UFPA ainda detalha que “reitera seu compromisso com a inovação e com a melhoria contínua dos serviços prestados à comunidade acadêmica, alinhando-se às boas práticas de gestão e transformação digital no ensino superior público”.

UFRA

A Universidade Federal Rural da Amazônia informou que está trabalhando de forma contínua para atender aos padrões exigidos pelo MEC, que demandam adequações tecnológicas, normativas e operacionais. “A universidade já possui uma estrutura em desenvolvimento em fase de consolidação para iniciar a emissão de diplomas digitais, com prioridade para os cursos cujos processos de colação de grau e registro estejam em dia com os fluxos internos”, informa o professor Roberto Yuri da Silva Franco, da Diretoria de Gestão de Processos Seletivos.

Unifesspa

Assim como a UFRA , a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) está em fase de implantação da emissão de diplomas digitais. Em nota, a Unifesspa informa que as “primeiras emissões estão previstas para a primeira quinzena de agosto, consoante nosso calendário acadêmico”. “Os diplomas digitais para a pós-graduação na Unifesspa deverão ser emitidos até 2 de janeiro de 2026, podendo essa data ser abreviada”, completa o comunicado da instituição.

Ufopa

No caso da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), a instituição adota a emissão digital do diploma desde outubro de 2022 e que a mudança agiliza o processo de emissão e reduz custos. “Para a universidade, esse processo tornou mais ágil a emissão do documento e reduziu custos com logística e impressão. Para os nossos estudantes, facilitou o acesso ao diploma e ainda permitiu o armazenamento e o transporte em diferentes dispositivos”, afirma Carla Paxiuba, Pró-reitora de Ensino de Graduação da Ufopa.

IFPA

O Instituto Federal do Pará (IFPA) também faz a emissão do documento digitalizado desde 2022. Em nota, a instituição afirmou que “por ser um documento 100% digital, ele moderniza o fluxo, proporciona maior agilidade nos processos de emissão e assinatura, garantindo a interoperabilidade e integridade dos dados, dá mais transparência e agilidade ao processo, além prevenir a falsificação de diplomas”.

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