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Dia Nacional do Livro: professora mantém clube de leitura em casa para crianças da periferia

Com o espaço organizado por Yanne Silva no bairro do Marco, meninos e meninas acessam livros e, assim, podem ter novos horizontes

Eduardo Rocha

Para se ter uma ideia do significado da prática da leitura na vida de uma pessoa, basta imaginar um cidadão ou cidadã sem ler. Essa pessoa encontra muita dificuldade a fim de ser o protagonista da própria vida, de vez que, basicamente, tem limitado o acesso a informações para transformar em conhecimento e, assim, conduzir os passos no mundo. Foi com esse pensamento na cabeça que a professora e assistente social Yanne Bárbara Soares da Silva, 41 anos, criou um clube de leitura na própria casa para incentivar a leitura a crianças e adolescentes na periferia de Belém. "A minha maior alegria é ver que elas conseguem se interessar pela leitura, pelos livros, e isso é maravilhoso, porque representa um futuro para elas", destaca. Neste domingo (29), essa educadora e as 17 crianças do clube celebram o Dia Nacional do Livro.

O Clube de Leitura da Tia Yanne funciona todos os sábados, das 14 às 16h, na casa de Yanne Silva, na passagem Trindade, entre as travessas Barão do Triunfo e Angustura, no bairro do Marco. "Quando eu era criança e morava na passagem Acácio, também aqui, no Marco, os meus pais compravam os livros para eu estudar, mas eu reparava que muitos colegas meus não tinham condições de adquririr os livros, então, eu emprestava os meus para eles", conta a Tia Yanne. Ela integrou a última turma do Magistério do Instituto Estadual de Educação (IEEP), em 1997. Dez anos depois, voltou a estudar e, em 2015, formou-se em Serviço Social , via Pró-Uni na Universidade da Amazônia (Unama). Em seguida, casou-se com o vendedor de açaí Eduardo Gouvêa, 54 anos, e é mãe de Gabriel Silva, de 11 anos, estudante do 6º ano do Ensino Fundamental.

image Yanne e os leitores: aprendizado conjunto no bairro do Marco (Foto: Carmem Helena / O Liberal)

Gabriel integra o Clube de Leitura. Aliás, ele pode ser considerado como um dos fundadores do clube. Em novembro de 2022, o menino ganhou uma coleção de gibis do herói Naruto, de uma cunhada de Yanne. "Eu observei que as crianças de perto de casa gostavam de ler os gibis do meu filho, e as famílias não tinham como comprar gibis e livros para elas. Então, eu decidi ajudar e organizei um espaço na sala de casa que passou a ser o local onde eles se reúnem aos sábado para lermos todos juntos", relata Yanne. Eles se esparramam pelo chão, no tapete do clube, entre a estante e nos móveis para não perder a chance de descobrir uma boa história.

"Algumas crianças chegam ao clube sem almoçar, e a gente prepara um lanche para elas. Quando precisam, para algum trabalho de escola, eu tiro cópias de conteúdos para elas. Noto que muitas crianças não têm ninguém que as incentive à leitura, que leia com elas, e aí eu procuro fazer isso para elas, porque leitura é motivação", afirma Yanne Silva, para quem a mãe, a costureira Isabel Soares, com 65 anos, costumava ler histórias. Assim, com essa atenção e apoio dos pais, meninos e meninas, a partir de 5 anos de idade, são apresentados ao universo da leitura e à leitura do universo, por meio de livros doados e reaproveitados pela Tia Yanne.

image Clube de Leitura da Tia Yanne garante momentos de aprendizagem e amizade na periferia de Belém (Foto: Carmem Helena / O Liberal)

Arte de ler

Para a psicóloga e psicopedagoga Lorena Jacob, “a leitura dos livros mexe com o imaginário, independente da faixa etária ela tira você de um mundo concreto e te traz a capacidade de imaginar, de construir por meio daquela narrativa todo um alicerce, então, por isso é tão importante desde a menoridade até o adulto ou idoso se utilizarem de livros”. Isso porque a leitura possibilita um exercício cerebral, em que a pessoa cria, constrói e desenvolve a capacidade de criação, de imaginação, de construção.

Para que a “magia” da leitura se dê, é necessário que o livro seja apresentado à criança de forma semelhante a como se mostra para ela um celular, um tablet,  como sugere Lorena. “O livro precisa ser apresentado e de forma também a estimular a curiosidade e não uma desvalorização, você não pode utilizar o livro como se fosse um peso, aquela velha história do peso do conhecimento, não. Você tem que também apresentar esse recurso como algo interessante Mas, a melhor forma, sem dúvida nenhuma, de gerar no seu filho interesse pela leitura é por meio da observação. Se você tem pais, avós que leem, que se utilizam do livro, que demonstram vínculo a esse livro, você acaba gerando, por meio da observação dessa criança, o interesse pela leitura, a curiosidade pela leitura, ela e o adolescente vão querer saber o que é aquilo que prende a sua atenção”, acrescenta Lorena Jacob.

Entretanto, o maior obstáculo à leitura é a falta de estímulo a essa prática dentro de casa, como pontua a psicopedagoga. “Tem crianças que chegam à escola sem nunca terem entrado em contato com um livrinho de história, uma revistinha em quadrinhos, ou seja, já estão totalmente tecnológicas, há famílias que se utilizam do recurso da leitura como castigo”, ressalta Lorena Jacob. As famílias devem, sim, estimular a leitura por parte dos filhos, como salienta a psicopedagoga.

Bibliotecas

O Dia Nacional do Livro, em 29 de outubro, marca uma homenagem à fundação da Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1810. Bibliotecas são fontes permanentes de conhecimentos para interessados de todas as idades, porque reúnem acervos de livros. Nesse sentido, o professor Hamilton de Oliveira, da Faculdade de Biblioteconomia e do Mestrado em Ciência da Informação da UFPA e doutor em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília, considera que as bibliotecas cumprem duas funções principais que são facilitar o acesso às fontes de informação, dentre as quais os livros, e desenvolver a competência em leitura. “Uma vez acessados, os conteúdos se convertem em conhecimento e favorecem o desenvolvimento do senso crítico, o aprimoramento pessoal, a competência profissional e o melhor exercício de cidadania”, aponta.

image Professor Hamilton de Oliveira: bibliotecas e livros contribuem para o desenvolvimento do ser humano (Foto: Divulgação)

No mundo facilitado por recursos eletrônicos, o livro, impresso ou na internet, permanece como uma fonte atraente de conhecimento. “É importante observar que um livro eletrônico não deixa de ser um livro, e os livros, particularmente os de literatura, prosseguem demandados, adquiridos e usados no formato impresso. Contribuem para essa persistência aspectos como conforto visual, praticidade de uso, autonomia em relação à equipamentos e destacadamente a própria materialidade com forma, cor e até cheiro que facilitam uma relação de afeto com os seus leitores ", diz o professor. No caso de uma biblioteca universitária, Hamilton de Oliveira destaca que esse espaço contribui para a formação profissional, o desenvolvimento científico e a inovação tecnológica.

60 anos

A contribuição de um espaço acadêmico com esse perfil é referendada pelos 60 anos de funcionamento da Biblioteca Central da UFPA. “Esses 60 anos significam seis décadas de história e um rico legado de conhecimento compartilhado. Durante esses 60 anos, a Biblioteca Central estabeleceu-se como a maior biblioteca no norte do Brasil, comprometendo-se sempre a oferecer os melhores serviços e acesso à sua comunidade. Muitos desconhecem que, antes de ter sua sede na Cidade Universitária José da Silveira Netto, a BC funcionou em dois outros locais na região metropolitana de Belém: primeiramente, ocupou um espaço na Governador José Malcher e posteriormente na José Bonifácio, até chegar à estrutura que conhecemos atualmente”, pontua a bibliotecária Célia Ribeiro, diretora geral da Biblioteca Central da UFPA.

image Célia Ribeiro: 60 anos de história da BC UFPA são legado de conhecimento compartilhado (Foto: Heloísa Torres / Ascom UFPA)

O projeto da Biblioteca Central foi concebido pelo então reitor José da Silveira Netto e colocado em prática pelo médico e professor Clodoaldo Beckmann, sendo este o principal responsável por dar vida, forma e estrutura à nossa biblioteca. A Biblioteca Central da UFPA foi fundada em 19 de dezembro de 1962.

image Biblioteca Central da UFPA: 60 anos de história (Foto: Alexandre de Moraes / Ascom UFPA)

Esse espaço conta com uma gama de serviços online para atendimento ao público. A BC conta com 101.373 títulos e 403.206 exemplares, dispostos entre livros, periódicos, materiais especiais, teses, dissertações físicas e nos repositórios digitais. Ao longo da semana passada, a BC promoveu a Semana do Livro e da Biblioteca 2023.

 

 

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