Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo: combate ao preconceito é o tema central da campanha

Mães de autistas promovem adesivaço em Belém para combater a desinformação sobre o Transtorno do Espectro do Autista (TEA)

Camila Guimarães
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Neste domingo, 2, é celebrado o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo, data instituída pela ONU em 2007 para chamar a atenção da mídia e da sociedade para o Transtorno do Espectro do Autista (TEA), condição que afeta cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil e 70 milhões no mundo. No Pará, não existem dados consolidados sobre o número de autistas, mas estima-se que mais de 10 mil pessoas já se cadastraram para emitir a carteira para pessoas com TEA. A campanha nacional deste ano traz como tema “Mais informação, menos preconceito”, e é justamente o que mobiliza várias famílias, entidades e grupos a realizarem programações alusivas à data.

É o caso da advogada Flávia Marçal, 39, mãe de Matheus Marcal Araújo, de 12 anos, que é autista nível 2. Ela descobriu o autismo do menino quando ele ainda tinha 2. Há cerca de quatro anos, Flávia se reuniu com outras mães de crianças autistas e, juntas, criaram o grupo Mundo Azul, que tem aproveitado e criado oportunidades para troca de experiências e informação sobre TEA com o objetivo de desmistificar a realidade de pessoas que convivem com esse diagnóstico e combater o preconceito.

A advogada conta que o grupo tomou proporções maiores do que ela imaginou, uma vez que hoje é encabeçado por cerca de 300 mães de autistas e possui mais de 21 mil seguidores em uma rede social. Nesse tempo de existência, Flávia se alegra de importantes conquistas para seu filho e outras pessoas com TEA em Belém: "Algumas das maiores conquistas foram a criação dos núcleos de atendimento especializado, o projeto da loja colaborativa e do empreendedorismo, a criação da coordenação de políticas para o autismo etc".

Entretanto, a luta não acabou. Flávia conta que existem sérios entraves não superados, como a dificuldade de inclusão nas escolas, conforme relata: "Uma das reivindicações que mais fazemos nesses tempos é o acompanhante especializado dentro das escolas, tanto públicas quanto particulares. Infelizmente, na maioria dos casos, mesmo quando necessário, quando descrito em laudo, por profissionais especializados, esse acompanhante não é garantido nas instituições de ensino".

Fora das escolas, Flávia menciona que o preconceito ainda é muito comum, principalmente a respeito do comportamento de autistas: "Há muita confusão entre a condição do autismo e a agressividade, ou a outras condições e transtornos do ponto de vista da saúde mental. Isso pode ocorrer, mas não é uma característica essencial da pessoa com autismo. Além disso, pouco se fala nas habilidades que a pessoa com autismo pode ter".

Flávia descreve que, apesar de autistas apresentarem, de fato, determinadas dificuldades comunicacionais e comportamentais, "eles também podem ser extremamente confiáveis no âmbito do trabalho, já que são pessoas que, por ausência desses manejos sociais, costumam ser muito sinceras, diretas e específicas. Além disso, elas também podem ter um alto poder de foco (pelos seus interesses restritivos e repetitivos) o que pode fazer com que elas sejam muito boas naquilo que elas escolhem como hiperfoco", destaca.

Assim como autistas têm essas e outras potencialidades, Flávia também defende que a convivência com pessoas autistas é benéfica para todos em volta, mesmo quem não tem o espectro ou não tem nenhum parente autista na família. "Eu costumo dizer que pessoas que convivem com autistas desenvolvem habilidades como paciência, capacidade de concisão na fala, de trabalho em grupo, sobretudo grupos com diferenças. Certamente é uma pessoa mais preparada para a vida como um todo, como cuidar de um idoso, liderar uma equipe com pessoas com deficiência etc. Portanto, participar, conviver e ter a oportunidade de lidar com autistas é um aprendizado que vale para toda a vida", garante.

Ação pelo Dia Mundial

Neste domingo, o grupo do qual Flávia faz parte, o Mundo Azul, convoca todas as pessoas autistas, apoiadores ou pessoas que tenham casos de autismo na família a participarem de um 'adesivaço', marcado para ocorrer na Praça Batista Campos, em Belém, esquina com a rua Mundurucus, das 8h às 12h.

"O objetivo é chamar a atenção para a causa do autismo e fazer com que toda a sociedade possa entender a importância da gente falar desse tema, afinal, a inclusão depende de cada pessoa, de cada um querer efetivamente tornar esse mundo mais inclusivo. Por isso, vamos para as ruas chamar a atenção de todos para esta causa", diz Flávia.

"A gente gostaria que as pessoas entendessem que pessoas com autismo não vivem em um mundo à parte, elas vivem neste mundo aqui, mas, muitas vezes, esse mundo é tão difícil, tão fechado, tão exclusivo, que os autistas não têm condições mínimas para se desenvolver, com todos os direitos que também são garantidos a eles. Nós queremos que esse mundo possa se adaptar e se transformar para se tornar um lugar melhor para todos - isso inclui as famílias com pessoas com autismo e as pessoas autistas".

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