Dia da mentira: faltar com a verdade na infância pode indicar problemas emocionais, alerta psicólogo

Medo, ansiedade ou evitação de situações indesejadas podem causar mentiras constantes dos pequenos. Raiz do comportamento deve ser investigada pelos adultos

Gabriel da Mota

Desde a infância até a vida adulta, o ato de mentir possui várias funções: evitar punições e conflitos, bem como ganhar vantagens. Pesquisadores da neurociência já identificaram que a mentira nos primeiros anos de vida pode ser, inclusive, um bom indicativo sobre o desenvolvimento das crianças. No entanto, mentiras em excesso nessa idade podem indicar problemas de ordem emocional, como baixa autoestima, ansiedade e outras questões emocionais.

A estudante Kassiane Santos (27 anos) é mãe de dois garotos: Luan (5 anos) e Juan (8 anos). Ela percebe que o mais velho, já na segunda infância, aprendeu a mentir por volta dos 5 anos de idade. “Mas eu já conheço: quando ele mente, ri. O menor não sabe mentir; ele chora”, diferencia a mãe. 

image Kassiane Santos (27 anos) percebe que o filho mais velho, de 8 anos, já aprendeu a mentir; diferentemente do mais novo, de 5 anos (Foto: Cristino Martins | O Liberal)

Kassiane diz que o filho de 8 anos costuma fantasiar sobre situações que teriam ocorrido na escola, envolvendo os colegas. “Eu falo: ‘Juan, é verdade? Eu vou perguntar pra professora’, e ele diz: ‘Não, mãe, por favor não pergunte. É mentira minha”. Na opinião da estudante, a mentira não tem a ver com idade, mas sim com a personalidade da criança. 

A balconista Célia Marinho (59 anos) mente para o filho de 13 anos quando decide ir para festas. “Eu digo pra ele: ‘Olha, você fica em casa, que eu vou ali na praça, depois eu volto, compro um lanche’. Aí eu vou lá na Seresta, às vezes eu tomo uma gelada e ele pergunta: ‘A senhora tava bebendo?’, eu digo: ‘Não, só tomei duas cervejas’. A gente trabalha a semana toda, aí no sábado, a gente tem que dar uma escorregada. Mas é rápido, não é toda vez que eu faço isso”, pondera. 

O psicólogo clínico Harrison Miranda explica que, normalmente, a mentira aparece na transição entre a primeira e a segunda infância, a partir dos cinco/seis anos. “Nessa fase, as crianças já conseguem brincar com a fantasia e criar, de forma consciente, situações imaginárias. A mentira em si se torna algo intencional por volta dos sete anos (início da segunda infância), quando a criança já adquiriu noções de valores sociais e sabe a diferença entre verdade e mentira, e quando a mentira pode prejudicar o outro”, complementa.

Durante a infância, a mentira possui uma função peculiar no desenvolvimento da personalidade. É quando o indivíduo se percebe diferente dos outros, com desejos e motivações que podem não ser aqueles ditos pela figura dos cuidadores. No entanto, o psicólogo explica que a mentira constante, em situações inapropriadas, pode sinalizar problemas subjacentes. “É essencial ensinar às crianças a importância da honestidade e da integridade, ao mesmo tempo em que se compreende que a mentira ocasional faz parte do desenvolvimento normal”, pondera.

Como falar sobre a importância da honestidade

A abordagem do diálogo, empatia e afeto são fundamentais para lidar com a mentira dos pequenos, afirma Harrison. “A criança pode estar lutando com medo, ansiedade ou tentando evitar situações indesejadas. Em vez de punir a mentira, é crucial abordar a causa raiz desse comportamento”, ressalta o profissional. Além disso, é importante observar o ambiente em que a criança está inserida. “A família também mente? Qual é a dinâmica entre os familiares? As crianças aprendem com os adultos ao seu redor, então é necessário revisar as atitudes e comportamentos de todos que estão envolvidos na vida da criança”, enfatiza.

Kassiane diz aos filhos que “não é bonito mentir. Não importa qual seja a verdade, sempre fale”. No entanto, ela assume que já mentiu para os filhos. “Depois de virar mãe e pai, a gente sempre mente para os nossos filhos não cometerem os mesmos erros que a gente”, justifica. A estudante garante que os filhos nunca perceberam esse tipo de situação: “Ainda bem, né? Vai que eles me pegam e dizem: ‘Eu vou fazer isso porque a senhora fez’?”, finaliza.

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