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Conheça a história do catador que transforma garrafa PET em vassoura ecológica em Icoaraci

Cooperativa e especialista reconhecem a importância dos catadores para a manutenção do meio ambiente e tem como agente social

Amanda Martins
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Belém já ficou entre as capitais brasileiras que menos reciclam lixo. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), somente 0,45% dos resíduos produzidos na capital eram destinados à reciclagem. Esse índice é abaixo da média nacional, que era de 3%, em 2019. 

Contrariando essa perspectiva, o Atlas Brasileiro da Reciclagem, um estudo realizado pela Associação Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (Ancat), com apoio técnico do Observatório da Reciclagem Inclusiva e Solidária (Oris), divulgado em 2022, referente aos últimos dois anos, mostra que os catadores de materiais recicláveis conseguem reaproveitar um volume maior de resíduos sólidos do que mostram os dados oficiais.

Responsável pela retirada de muitas garrafas PET das principais ruas de Icoaraci, distrito de Belém, o artesão e catador Lindomar da Costa Nogueira, de 56 anos, tem se dedicado nos últimos dez anos a transformar o plástico recolhido em vassouras ecológicas - feitas com tiras plásticas retiradas de garrafas vazias de refrigerante.

image Lindomar saí pelas ruas de Icoraci atrás de garrafas plásticas e as transforma em vassouras (Igor Mota / O Liberal)

Tudo começou por pura necessidade financeira. Desempregado e aprendendo a conviver com as limitações, após perder parte do braço esquerdo em um acidente, ele teve o salário que recebia do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) suspenso, mas precisava trabalhar para sustentar a família. 

Foi o irmão do catador, que morava em Capanema (PA), que decidiu ensiná-lo a fazer vassouras para ganhar uma renda. “Já me feri com o prego, quando ele ‘cuspiu’ do centro da vassoura e quase pegou nos meus olhos. Muitas vezes eu batendo com o martelo, machuquei o braço, mesmo sangrando continuei porque não podia parar”, relatou as dificuldades.

Em uma oficina improvisada em frente à quitinete onde mora, Lindomar trabalha sozinho montado manualmente o utensílio doméstico. A rotina começa todos os dias por volta das 6h da manhã, quando ele sai para catar as garrafas montando em uma bike carretinha. Rodando da manhã até o final do dia ele diz conseguir cerca de 200 garrafas.

“Depois que eu cato, venho direto para a minha oficina. Eu corto, tiro os fundos da garrafa, coloco para cortar em fio, vou enrolando em uma grade e levo para assar na lenha, faço em uma churrasqueiro. Eu queimo tudo e demora um dia inteiro”, explicou o passo a passo. Depois, Lindomar une os fios de plásticos endurecidos em uma prensa e une a cabeça da vassoura. O toque final é dado quando finaliza com o cabo de madeira.

Em média, Lindomar diz produzir por dia de 10 vassouras, precisando de cerca de dez garrafas de um litro para fazer uma vassoura. Por mês, ele tira um lucro de R$ 1.000 já que cada utensílio custa R$ 9.

Por mais que a atitude de Lindomar ajude o meio ambiente, dando um novo significado a um material que poderia ser descartado inadequadamente poluindo as vias, ele ainda precisa enfrentar  xingamentos de quem não reconhece o esforço.

“Tem gente que acha ruim, de eu pegar garrafa na rua. Falam assim mesmo: ‘Tu está mexendo no meu lixo’. Muitas vezes falo que é melhor juntar do que cair da lixeira e entupir o bueiro, prejudicando algum vizinho”, disse o catador.

Além de fabricar do zero às vassouras, as garrafas que são recolhidas pelo artesão e que estão amassadas são vendidas por ele para reciclagem. “Guardo as tampinhas, pego cadeira, o que eu achar na rua vendo para reciclagem. Não serve para eu trabalhar, mas consigo ganhar um dinheiro extra e ainda ajudo o planeta”, afirmou.

Catadores são essenciais para o processo de reciclagem, diz presidente de cooperativa

Ainda segundo o levantamento, 9 em cada 10 kgs de embalagens recicladas chegam à indústria de reciclagem por meio de catadores. Isso só reforça para a presidente da Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis (CONCAVES), Débora Baía, como o serviço feito por esses trabalhadores autônomos é fundamental  para a sociedade.

“São profissionais que se dedicam na coleta, na triagem e destinação dos materiais recicláveis. A coleta seletiva realizada pelo catador vai além do serviço, é um relacionamento entre o catador e morador que entrega seus resíduos limpos e higienizados”, pontuou.

Mas a própria CONCAVES, que está há mais de 15 anos no mercado, também age na destinação adequada dos resíduos recicláveis. Atualmente, a cooperativa consegue coletar, em média, 70 toneladas mensais  de materiais, sendo 60% de papel e papelão, 20% plásticos, 10% metais, 8% de vidro e 2% de eletroeletrônicos. 

“Realizamos coletas nos bairros de Nazaré, parte do Umarizal, São Brás, Cremação, Jurunas, Pedreira e na Terra Firme, onde a cooperativa foi constituída”, disse a presidente, acrescentando que Nazaré e Pedreira são os bairros com maiores produções de lixo pelo poder aquisitivo dos moradores. 

Estudo apontou que Belém já ficou entre as capitais que menos reciclava

Para o coordenador do programa de pós-graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal do Pará (UFPA), Neyson Mendonça, os dados que resultaram da pesquisa feita há quatro anos refletiram a ausência de políticas voltadas para a reciclagem na cidade e de uma economia circular - conceito que associa desenvolvimento econômico a um melhor uso de recursos naturais.

“Isso não estava ainda adotado pelos Estados e cidades, porque alguns setores de produção industriais precisam fazer um entendimento do que é produzido, do que é consumido e depois como retornar este material para uma nova cadeia de produção”, pontuou o professor.

Neyson acredita que as cooperativas são verdadeiras “parceiras de um mundo ausente de poluição”. Isso porque, por meio delas, pode ser implementada uma economia circular onde os materiais serão valorizados a níveis energéticos ou de produção. 

“Vai ser preciso reutilizar os materiais que são destinados de forma inadequada e que são pouco valorizados, como papel, papelão, vidro, plástico. Também é importante cooperativas voltadas para matérias orgânicas, como nitrogênio e fósforo e sua utilização para áreas degradadas”, finalizou.

 

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