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Cidade surgiu às margens da baía

Parte da Cidade Velha e toda Campina formam o centro histórico de Belém

João Thiago Dias
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Local mais antigo da cidade, o centro histórico de Belém, que abrange parte do bairro da Cidade Velha e todo o bairro da Campina, abriga um rico patrimônio edificado, construído desde o período colonial. De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a área salvaguardada pela autarquia federal tem duas diferenciações: uma é tombada, com 160 hectares, e a outra é entorno de tombamento, com 105 hectares, totalizando 265 hectares.

Na área delimitada pelo Iphan são aproximadamente três mil imóveis tombados e imóveis de entorno no Centro Histórico de Belém. Neste meio, há sete igrejas: Catedral da Sé, Igreja de Santo Alexandre, Igreja do Carmo, Igreja dos Mercedários, Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Igreja de Nossa Senhora de Santana e Igreja São João Batista. O Iphan também protege quatro palácios ou palacetes: Palácio Velho, Palácio Antônio Lemos, Palácio Lauro Sodré e Palacete Pinho.

Na lista, há ainda nove praças: Frei Caetano Brandão, Dom Pedro II, do Relógio, Felipe Patroni, do Carmo, da Bandeira, Waldemar Henrique, dos Estivadores e Barão do Rio Branco. Entre outros bens protegidos por tombamento estão Forte do Castelo, Casa das 11 Janelas (antigo Hospital Militar), Solar Barão do Guajará, Solar da Beira, Mercado de Carne, Mercado de Peixe e Theatro da Paz.

Segundo a superintendente do Iphan no Pará, Rebeca Ferreira Ribeiro, essa porção mais antiga da cidade tem grande importância no processo de conquista e colonização portuguesa no norte do País, pois, neste contexto, foi erguido um conjunto arquitetônico misturando traços básicos da arquitetura europeia com a cultura local, arquitetura neoclássica, exemplos arquitetônicos expressivos do período eclético, com grande concentração de exemplares de arquitetura azulejar e arquitetura de ferro.

"Os bairros da Cidade Velha e da Campina, condicionados por elementos naturais como baía, igarapé e alagadiços, constituem, ainda, um dos maiores e mais íntegros conjuntos urbanos do País, dando à cidade de Belém configuração peculiar. O conjunto constituído pela trama da cidade consolidada entre os séculos XVII e XVIII, em que se destacam as igrejas com suas torres, os largos e praças, os coretos, os mercados e as feiras, em perfeita interação com a baía de Guajará, é suficientemente expressivo para retratar a história urbana de Belém", avaliou.

Rua do Norte

Ela contou que foi nessa área que surgiu o primeiro logradouro do núcleo, aberto paralelamente ao rio, denominada rua do Norte, atual rua Siqueira Mendes, ligando uma edificação militar, o Forte do Presépio, às edificações religiosas como o Convento de Santo Antônio e a Igreja e Convento do Carmo, uma característica comum a muitos núcleos coloniais. "Os caminhos que surgiram, no sentido do interior, ligando as edificações, em especial aquelas vinculadas às diferentes ordens religiosas, consolidou a conformação do bairro depois denominado Cidade Velha", explicou.

image Patrimônio (Oswaldo Forte / O Liberal)

É um conjunto arquitetônico em que se misturam traços básicos da arquitetura europeia assimilados pela cultura local, arquiteturas neoclássicas mais ou menos eruditas e exemplos expressivos do período eclético, com grande concentração de exemplares significativos de arquitetura azulejar.

A área proposta inclui, também, bens cuja importância já foi formalmente reconhecida pelo Iphan em tombamentos individuais e de conjuntos, nas décadas de 1940 a 1970, além de vários imóveis com pedidos de tombamento em diferentes períodos da história institucional.

Solar do Barão do Guajará é exemplar da arquitetura colonial

O Solar do Barão do Guajará, sede do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP), é um dos exemplares mais antigos da arquitetura colonial. Tombado pelo Iphan em 1950, o prédio é possivelmente datado do final do século XVIII e apresenta vários estilos arquitetônicos resultantes das modificações que recebeu ao longo do tempo.

Trata-se de uma edificação de dois pavimentos e um mirante com fachada preservada em azulejos portugueses, janelões em madeira, varandas em ferro e frontão triangular em estilo neoclássico, situada na rua Tomásia Perdigão, em frente à praça Dom Pedro II.

"O barão do Guajará reunia ali os intelectuais envolvidos na Revolução da Cabanagem, de 1835 a 1840. Em 1943, foi instalado no imóvel o IHGP, o primeiro centro de produção de conhecimento sobre a Amazônia, que acumulou características de um museu por receber doações de objetos de valor histórico e artístico entre o final do império e início da república", contou Rebeca Ferreira Ribeiro.

O prédio reúne importância arquitetônica, histórica e museológica, com rico mobiliário em jacarandá restaurado, em vários estilos, trazendo brasões e emblemas do Império e da República e influências de outros países", acrescentou.

Azulejaria

Em 2016, o Iphan lançou o livro “Azulejaria em Belém do Pará - Inventário - Arquitetura civil e religiosa - Século XVII ao XX”. Publicado em comemoração aos 400 anos da fundação de Belém, é a súmula do banco de dados levantado por três gerações de servidores e profissionais do patrimônio cultural, sob a influência e orientação dos idealizadores e pioneiros, os arquitetos Pedro e Dora Alcântara, em 1971.

Elaborado a partir da identificação de técnica de decoração dos azulejos, o livro também traz planilhas com tipologias dos padrões e guarnições, revelando a diversidade da azulejaria da cidade. O patrimônio de azulejos em Belém conta com peças dos séculos XVIII, XIX e XX que passam pelos períodos barroco, neoclássico, art nouveau, art décor, modernismo até acervos contemporâneos dispostos em igrejas, palácios e residências.

"Por meio deste acervo, é possível contar a história da cidade, onde os azulejos são documentos importantes que possibilitam narrativas sobre os modos de vida de cada época. Os azulejos identificados vieram de fábricas estrangeiras, como da França, Alemanha, Holanda, Inglaterra, Bélgica, mas predominantemente de Portugal", frisou a superintendente do Iphan.

Casario abriga pessoas e memórias

Os janelões, as portas enormes, o piso de madeira e o forro com lustres são algumas marcas do período colonial no casario da Cidade Velha. Essa estrutura remete a lembranças que são guardadas com muita ressalva na memória dos moradores mais antigos. Para a pensionista Neusa Coelho, 76, que mora desde 1982 em um casarão tombado ao lado do Palacete Pinho, mexer na estrutura da residência dela seria apagar a história da cidade.

"Gosto dessa história do meu bairro, mas o importante é preservar para que esses bens não sejam perdidos. Apesar das reformas, acho que estamos em um local que ainda tem a cara de antigamente. São casarões construídos com estruturas clássicas. Não podem deixar largados sem proteção. O correto é cuidar para que a história da fundação da nossa cidade não seja esquecida com mudanças", opinou.

"Prefiro manter toda a estrutura da minha casa, que é tombada. Meus filhos já quiseram rebaixar o forro, mas não deixei. O lustre ainda funciona até hoje. Muitas casas mudaram, mas a minha é conservada com esse piso antigo de madeira, com as portas de mogno e com o forro, que já está bem deteriorado. Só mexemos no porão mesmo, que não era habitável. Agora dá para entrar por lá também", disse.

Ela contou que a família já tentou convencê-la a vender o imóvel para que pudesse se mudar para um local mais próximo dos filhos, mas a resistência foi forte. "Essa ideia de vender já foi discutida, mas eu não aceitei. Não penso em ir embora da Cidade Velha tão cedo. As melhores lembranças são daqui. Apesar da casa ser bem grande e minha família achar que fico muito sozinha em alguns momentos, não penso em me mudar", disse.

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Belém
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