Aos 10 anos, menino paraense aprende a tocar piano sozinho; veja

Andres Braga aprendeu clássicos de Beethoven lendo apenas um livro. Segundo especialista, trata-se de um caso de criança com altas habilidades

Laís Santana

Crianças precoces na habilidade - muito acima do esperado para sua faixa etária-, cheias de energia, com pensamento criativo e crítico bem desenvolvidos, memória destacada para assuntos que lhe interessam, vocabulário avançado e rico, sensibilidade e empatia além do esperado, podem ser consideradas crianças com Altas Habilidades (AH). O conceito ainda é pouco conhecido, contudo, representa cerca de 5% da população mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). 

O processo de identificação de uma AH é composto por observação comportamental, avaliação de desempenho, escala de características, questionário e conversas com família, terapeutas (caso tenha), professores e o próprio indivíduo dependendo da idade e aplicação de teste. Apesar de ainda não possuir uma classificação precisa, os especialistas observam que a inteligência é um dos fatores predominantes em pessoas identificadas com AH. 

O pequeno pianista

Um exemplo de criança que apresenta uma facilidade acima da média para o aprendizado é o pequeno Andres Braga, de 10 anos. Recentemente, um vídeo onde o menino aparece tocando piano viralizou nas redes sociais, impressionando especialistas da psicopedagogia e profissionais experientes do universo da música. O interesse pelo instrumento surgiu há 6 meses e desde então a criança vem recebendo apoio da família e amigos para aperfeiçoar o talento.

image Andres Braga, o pequeno pianista (Foto: Sidney Oliveira - O Liberal)

Tudo começou quando Andres instalou no celular um jogo que simulava vários instrumentos musicais como bateria, violão, guitarra, dentre outros. Logo a vontade de aprender a tocar piano ultrapassou a tela e começou a ganhar forma. O pequeno pianista conta que começou a estudar música pela primeira vez através de um livro que ensina técnicas de piano para leigos que ganhou da mãe. No começo praticava tudo que aprendia tocando em um instrumento de brinquedo até que ganhou um piano elétrico no dia das crianças do ano passado.

"Eu gosto de tocar música clássica, meu músico favorito é Beethoven, e se deixar eu passo o dia no piano, acordo, vou pra escola, volto e já vou para o piano, almoço e volto para o piano, faço o dever de casa e toco mais um pouco", disse o menino.

Depois que o vídeo foi amplamente compartilhando na internet, Andres foi convidado para uma audição pela professora de piano Glória Caputo, superintendente da Fundação Carlos Gomes, que auxiliará o pequeno pianista na preparação musical para futuramente entrar no conservatório. "Quero aprender mais ainda, pretendo continuar e levar a música como profissão e como hobby", destaca Andres. 

"Ele é um caso bem especial, por isso precisa de um apoio pedagógico para amanhã ele possa fazer uma carreira. Na minha experiência de muitos anos eu digo que ele tem um talento muito grande, uma musicalidade também grande, um ouvido excepcional, tudo para ser um grande pianista. Agora ele tem um longo trabalho pela frente", frisa Glória Caputo

A professora de piano ainda ressalta que a iniciativa da criança de aprender por conta própria fez toda diferença para o começo da sua jornada como pianista. "Se o nosso trabalho for como eu penso que pode ser, o Andres pode ser um grande orgulho para o nosso Pará porque não nascem talentos assim com tanta facilidade, com todo potencial que ele tem", acrescenta. 

Casal tem 2 filhos com altas habilidades

Desde 2019, em Belém, a jornalista Ana Bezerra e o marido tem se dedicado a compreender melhor e identificar as altas habilidades dos filhos Jorge, de 3 anos, e Ana Beatriz, de 6 anos. Apesar de ainda não ter uma classificação fechada, especialistas que acompanham a pequena Ana Beatriz avaliam que a alta habilidade da menina seja na área emocional, enquanto o irmão apresenta alta habilidade com números e formas geométricas.

"Desde de muito bebê a Bea demonstra uma empatia com o outro muito grande, algo fora da curva. A gente está vivendo o momento da descoberta, do estranhamento. Na escola eu já fui chamada várias vezes porque ela virou meio que agente facilitadora, todas as crianças da sala dela que tem algum tipo de atipicidade, ela é utilizada como instrumento facilitador, por exemplo, criança autista adora ela. Também já fui chamada várias vezes porque as crianças de 3, 4 anos estavam aprendendo as cores e ela já estava falando as cores em inglês, atrapalhando a dinâmica da turma", conta a mãe.

Ela ressalta a dificuldade de encontrar suporte profissional para lidar com as fragilidades do processo de formação de uma criança com AH. "Os testes são muito difíceis e muito caros, é difícil por plano de saúde, na rede pública é raríssimo, não encontramos em nenhum lugar um norte de como conduzir isso por menos de R$ 3 mil. Agora ela está fazendo acompanhamento e uma série de testes. São dez sessões, oito com a criança, duas com os pais, a partir disso ela bate o diagnóstico e com esse laudo a gente vê quais as orientações que precisamos levar para escola", descreve. 

Ana Bezerra relembra que a família decidiu buscar ajuda quando os sinais começaram a ficar mais intensos e a demanda física e emocional com a criança aumentou. "Na mesma medida que se tem uma super habilidade pra uma coisa vai ter dificuldade pra outra, sempre tem um desequilíbrio, aí a grande história é a preocupação dos pais. A Ana Beatriz tem uma ansiedade absurda em saber das coisas, em manipular as pessoas a pensarem como ela. No fim é sempre os pais que mais sofre, preocupados dela não desenvolver depressão ou outros tipos de transtornos. Por isso as terapias são tão importantes", completou.

Altas habilidades abrangem várias áreas do conhecimento

No geral, as AH abrangem as áreas de conhecimento como acadêmica, criativa, intelectual, liderança, psicomotricidade e artes. E para que os indivíduos, sobretudo as crianças, possam receber auxílio no processo de aprendizagem, é fundamental uma equipe multidisciplinar com psicólogo e neuropsicopedagogo.

"Utiliza-se uma associação dos resultados de testes psicológicos com exames de neuroimagem. Algumas pesquisas indicam relação entre o quociente intelectual e atividade cerebral e até mesmo indicativos de diferença no funcionamento da anatomia do cérebro", explica a neuropsicopedagoga Aretha Belize. 

Em caso de demandas motoras, é fundamental agregar um terapeuta ocupacional a equipe. Belize ressalta a importância das escolas estarem preparadas e estruturadas para receber o aluno identificado com AH. "Caso o indivíduo com altas habilidades não encontre apoio e profissionais preparados e sensíveis, possivelmente irá se sentir desmotivado, desinteressado e pouco participativo por acreditar que aquele ambiente que deveria ser estimulador se torna frutante e notas baixas e apatia se tornam comuns", pontua. 

A especialista ainda acrescenta que "se a alta habilidade for na área  acadêmica a escola (equipe pedagógica) necessita conhecer os talentos deste indivíduo e trabalhar dentro da área de desenvolvimento proximal dele, buscando mantê-lo  interessado nas atividades escolares. Conversar sobre os assuntos de interesse do aluno é fundamental para que ele se sinta contemplado em sala e possa compartilhar saberes sendo também protagonista do processo de aprendizagem."

A família também é fundamental no processo de identificação das AH e da facilitação da aprendizagem. A neuropsicopedagoga explica que o pensamento "ele já é bom nisso, não precisa melhorar" costuma estar erroneamente enraizado nas pessoas, em geral, os pais e responsáveis pela criança.

"Caso você perceba que seu filho tem uma habilidade acima da média para desenhar, pintar, realizar algum esporte ou pensamento criativo, habilidade  matemática, etc., o ideal é que se continue estimulando esta área propondo novos desafios sempre, como cursos de pintura, robótica, curso de línguas se ele tiver uma habilidade linguística, etc.", orienta Belize. 

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