Sem Vagas: frota de veículos de Belém aumenta e fica mais difícil estacionar

“Quanto mais espaço dermos aos carros, mais espaço será necessário no futuro”, diz arquiteto e urbanista

Dilson Pimentel / O Liberal
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A disputa por uma vaga de estacionamento pode ter motivado uma troca de tiros na avenida Presidente Vargas, em Belém, na noite de domingo (5). O caso ocorreu em frente ao Bar do Parque. Ninguém ficou ferido, mas o episódio trouxe à tona a crônica falta de vagas nas ruas da capital. E, cada vez mais, a situação tende a se agravar, pois, ano a ano, aumenta a quantidade de veículos circulando pelas ruas da cidade. O Departamento de Trânsito do Estado (Detran) informou que a frota de veículos no Estado do Pará, em 2019, foi de 2.118,592 e, em Belém, de 466.217 - um aumento de  5,13% e 3,59%, respectivamente. No ano de 2020, a frota de veículos no estado era de 2.227,350, representando um aumento de 4,49% em relação ao ano anterior. No mesmo ano, em Belém, a frota de veículos era de 482.970, com aumento de 1,88%. Já em 2021, até o mês de outubro, a frota do Pará foi de 2.327,250 veículos e em Belém de 492.067.

O arquiteto e urbanista Lucas Nassar disse que o problema de falta de estacionamento não é exclusivo de Belém. Cidades que priorizam o transporte individual e motorizado compartilham do mesmo desafio - tanto que a literatura acadêmica sobre esse problema é extensa. O fenômeno mais estudado, e que melhor explica o ocorrido em frente ao Bar do Parque, é o da “demanda induzida”. “Ele é simples de explicar porque é baseado na teoria econômica da oferta e demanda, e funciona mais ou menos assim: imagine uma cidade onde é difícil se locomover de carro e um prefeito investe em novas ruas, avenidas, elevados e túneis. De repente, fica fácil se locomover de carro. Então mais cidadãos optam por este meio de transporte e a cidade passa a ter mais carros circulando, até o ponto em que a cidade volta a ficar congestionada”, afirmou. “Em resumo: o que a demanda induzida nos diz é que, quanto mais espaço dermos aos carros, mais espaço será necessário no futuro”, observou.

Um dos caminhos é tornar a mobilidade por carro mais difícil

Lucas Nassar disse que fica ainda mais fácil de entender quando comparamos com cidades como Nova Iorque ou Paris, locais que decidiram que, para diminuir o problema da falta de estacionamento, deveriam primeiro investir em outros modais de transporte como o metrô, ônibus, bicicleta e caminhada. Na outra ponta há cidades como Los Angeles, que, no passado, priorizou o carro. E que, mesmo com rodovias que contam com dez faixas de carro por sentido, sofrem com grandes congestionamentos - a ponto que hoje há uma lei na cidade que proíbe a construção de novas rodovias se elas forem exclusivas para carros. “Ao que parece, até Los Angeles entendeu como funciona a demanda induzida. Quando se entende este fenômeno fica evidente que as alternativas para resolver o problema do estacionamento, não só em Belém, mas em qualquer cidade do mundo, não passa por criar mais vagas de estacionamento”, afirmou.

Dois caminhos podem ser adotados. O primeiro é tornar a mobilidade por carro mais difícil. Proibir mais de uma vaga de estacionamento a cada novo apartamento construído na cidade e criar uma taxa de estacionamento em via pública são algumas das medidas possíveis para diminuir a demanda por mais estacionamentos na cidade. “O segundo caminho é investir em outros modais de transporte. Se forem mais confortáveis e seguros, mais usuários serão atraídos. Mais corredores exclusivos para ônibus fazem deles mais pontuais, melhores abrigos de ônibus garantem mais proteção da chuva e ônibus com ar-condicionado garantem mais conforto”, disse Lucas Nassar.

image Veja o crescimento histórico da frota de veículos do estado e da capital (Alynne Cid / O Liberal)

Ciclovias e paraciclos fazem com que mais pessoas se sintam seguras de pedalar de casa para o trabalho

No caso das bicicletas, acrescentou o arquiteto e urbanista, é ainda mais simples e barato: ciclovias e paraciclos fazem com que mais pessoas se sintam seguras de pedalar de casa para o trabalho. “Sem falar que, segundo um estudo nos EUA, ruas com ciclovias são ruas com menos acidentes de trânsito em geral - ou seja, ciclovias deixam as ruas mais seguras para todos. No caso dos pedestres o foco deveria ser em tornar as calçadas niveladas, arborizadas (para garantir o conforto durante o dia) e melhor iluminadas (para prover a sensação de segurança)”, disse.

Lucas Nassar afirmou ser importante entender que essas melhorias, em boa medida, podem ser implantadas em um curto espaço de tempo e sem grandes investimentos. Um bom exemplo de iniciativa da sociedade civil é o projeto “Caminhando Por Belém”, do @LabdaCidade, que busca melhorar as condições de caminhabilidade na cidade através da difusão de conhecimento junto à sociedade, de reuniões junto ao Legislativo propondo leis que levem em conta o pedestre e no diálogo com o Executivo ao sugerir projetos pilotos de melhorias de calçadas com potencial de se tornarem política públicas. Ainda segundo ele, o melhor de tudo é que investir em outros modais faz da capital paraense uma cidade mais sustentável, "pois emitem menos gases do efeito estufa, diminuem a incidência de doenças respiratórias causadas por poluição, incentivam práticas e rotinas mais saudáveis, aquecem a economia local e tornam Belém uma cidade mais feliz de se viver".

Na Presidente Vargas, motoristas estacionam na faixa dos ônibus

Em pouco tempo verifica-se, na avenida Presidente Vargas, a falta de vagas. Motoristas de veículos particulares e de aplicativos estacionam na faixa preferencial para os ônibus. E, nesses locais, há placas informando que ali, é proibido estacionar. Os motoristas param e ligam o pisca-alerta, como se essa atitude os autorizasse a cometer tal infração. Na manhã de quinta-feira (9), a reportagem flagrou carros parados em frente ao prédio do Banco do Brasil. Havia, inclusive, um caminhão-baú, cujos trabalhadores descarregavam mercadorias. A isso se soma a circulação intensa dos pedestres, pois essas informações são cometidas perto das paradas de ônibus.

Ouvidos pela reportagem, eles alegaram que faltam vagas na capital e que pararam ali rapidamente e que, logo em seguida, vão sair desses espaços. Ou estão esperando alguém ou um ocupante do veículo desceu para tentar resolver algo rapidamente. Na praça da República, taxistas se queixam de que o espaço reservado eles é ocupado por condutores de carros particulares. O taxista Manoel Sousa tem 72 anos de idade e 42 de profissão. Ele chega para trabalhar às 6h30 e o local já está ocupado por carros particulares. A saída é parar nas proximidades e esperar que a vaga destinadas aos taxistas fique livre. "A gente não pode falar nada. Eles perguntam logo se a gente é dono da rua", disse. "Outros motoristas alegam que vão ficar só um minutinho, mas ficam o resto do dia", contou.

image Em meio à falta de espaço para estacionar, até embarque e desembarque rápido de pessoas se torna um problema (Thiago Gomes / O Liberal)

Semob realiza fiscalização constante para evitar estacionamento proibido

A Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) informou, através de nota, que realiza fiscalização constante, com o objetivo de evitar estacionamento proibido na cidade mediante rondas 24 horas e, também, atendendo a denúncias de usuários.
O condutor deve atentar no momento em que precisar parar ou estacionar o veículo para a sinalização do local. Placas de “Proibido Estacionar” e “Proibido Parar e Estacionar”, além de sinalização horizontal, são usadas para indicar a maneira correta de deixar o veículo.
Devido ao trânsito intenso na região, a Semob recomenda ou estacionar em um ponto mais afastado ou, de maneira ideal, evitar ir com o seu veículo particular, optando por outros meios de locomoção como ônibus, táxi, uber ou mototáxi.

 

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