Almoço do Círio com respeito aos animais

A maniçoba e o pato no tucupi são os carros-chefes do almoço
do Círio de Nazaré. Mas são dois alimentos com muitos ingredientes de origem
animal. Para vegetarianos e veganos, os pratos costumam ser excludentes. Nem
tudo está perdido. Essas refeições possuem opções alternativas, sem carnes,
muito mais leves e mais fáceis de digerir. Para quem já as provou, o que inclui
a equipe de reportagem, a experiência não deixa nada a desejar. Se parecem
apenas com um modo diferente de fazer maniçoba de determinada família, casa ou
resteurante.

Proprietário de um restaurante vegetariano e vegano,
Francisco Gomes disse ser plenamente possível fazer um almoço de Círio com o
pratos tradicionais, nas opções para agradar esses públicos. Isso porque,
atualmente, há muita informação e receitas compartilhadas na internet. Os
ingredientes alternativos, em receitas já testadas e aprovadas por clientes
dele, não tentam imitar as receitas originais. São pratos que oferecem texturas
semelhantes, mas experiências diferentes e sabores igualmente marcantes.

"Teve um cliente que disse que não comia maniçoba.
Achava pesado. Mas quando provou a nossa, descobriu que gostava. Já tivemos
vários clientes também acostumados com a maniçoba tradicional e gostaram da
experiência com as maniçobas vegetarianas ou veganas", relata Francisco,
que é lacto-vegetariano há 40 anos e nunca provou a maniçoba original. O
primeiro contato com o prato já foi na versão vegana que comeu num templo Hare
Krishna.

A maniçoba é uma receita que já nasceu com um pé no vegetarianismo
e no veganismo, pois é à base de folhas. A versão lacto-vegetariana é para o
público que ainda consome alguns alimentos de origem animal, mas nenhuma carne.
Nessa, os ingredientes são a maniva tradicional, proteína de soja, salsicha
vegetal, castanhas de caju e do Pará e queijo provolone. Na versão vegana, sem
qualquer produto de origem animal, o provolone é substituído por tofu.

O repórter fotográfico Igor Mota adora maniçoba. É
acostumado com versões pesadas e carregadas em carnes. Provou a lacto-vegetariana
e disse que a experiência para um fã do prato típico é diferente, mas
igualmente satisfatória. De início, sentiu falta de chouriço e carnes salgadas.
Mas assim que se desligou da ideia, disse que apreciou o prato. "É
diferente. Muito mais leve, sabor suave e até de digestão mais fácil. Se num
almoço tradicional, fosse servida essa versão vegetariana, ficaria feliz do
mesmo jeito. Só provando para entender", relata.

Francisco lembrou que um almoço de Círio não é só maniçoba.
Para complementar o cardápio, disse que uma boa pedida seria um vatapá vegano,
cuja única alteração na receita original seria a substituição dos camarões por
pimentão, cenoura e palmito. E uma outra receita simples, mas não tão
tradicional no Círio, seria um estrogonofe, com pupunha ou proteína de soja no
lugar de proteínas animais. Quando questionado se havia uma alternativa ao
tradicional pato no tucupi, disse: "Certamente tem. Só preciso pensar. Mas
o desafio é ótimo e vou experimentar", comentou.

"Para uma pessoa transitar pelo vegetarianismo ou
veganismo não é simples. Requer determinação. Mas basta lembrar que na cozinha
não se come só carne. De início pode manter o mais trivial e complementar com
pratos novos vegetarianos ou veganos. Tem muitas receitas na internet e informação
a respeito desses estilos de vida que evitam o sofrimento de animais para
obtenção de alimento. Nem leva tanto tempo para o organismo se acostumar",
concluiu Francisco.