Adolescente supera desafios do autismo e sonha em ser jornalista
Na sexta-feira (02), foi celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, que deu início a mais uma campanha 'Abril Azul'

Na sexta-feira (02), foi celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), alteração do neurodesenvolvimento que pode afetar as áreas de comunicação, comportamento e interação social em graus leves, moderados ou severos. A data deu início a mais uma campanha "Abril Azul", que busca mais visibilidade para a inclusão e para o diagnóstico precoce deste transtorno.
Em Belém, o período é comemorado por Rivanil Pires e Rose Mary da Costa, casal que luta para disseminar informações sobre o tema. Eles têm um filho com autismo de grau leve, Richard Pires, de 14 anos, que, apesar das limitações do TEA, conseguiu desenvolver muitas habilidades para a comunicação. Apaixonado por leitura e excelente memorização, ele grava vinhetas informativas sobre o autismo para rádios do interior e não sai de casa sem livro nem microfone, pois sonha em ser jornalista.
Para essa superação, o diagnóstico precoce é fundamental. A partir dele, médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros profissionais podem criar programas para estabelecer a maturação neurológica e acomodamentos sensoriais, favorecendo o funcionamento motor, desenvolvimento da linguagem e a promoção de comportamentos sociais mais adequados.
No caso de Richard, Rose começou a perceber comportamentos diferenciados na fase de bebê, mas o laudo final não veio fácil. "Quando começou a sentar, não era mexilhão nem engatinhou. Só sentava e era muito quieto. Me chamou atenção. Quando começou a andar, não fazia arte. Era organizado e teve atraso na linguagem. Chegou a falar, mas, depois, ficou de um ano a um ano e meio de idade sem falar nada. E sensibilidade sensorial, pois qualquer barulho incomodava, Alguns médicos diziam que ele não tinha nada", relatou.
Com mais de dois anos de idade, na creche, um psicólogo sinalizou para sinais de autismo. No entanto, o diagnóstico só veio aos cinco anos. Com isso, a mãe decidiu se especializar na educação inclusiva. "Senti um alívio, porque o que angustiava era não saber o que meu ele tinha. Sabendo, posso ajudar. Sou graduada em matemática e fiz pós-graduação em educação inclusiva para atendê-lo. Monto o programa de estudo, os treinamentos de habilidade e linguagem desde os sete anos dele", contou.
Entre muitos, os maiores desafios foram palavras fora de contexto e imitações para desenvolvimento da linguagem, dificuldade de socialização e de olhar nos olhos, movimentos muito repetitivos. "Foi um processo de adaptação gradativo, mas o maior desafio foi e ainda é a inclusão na sociedade. Infelizmente, tem pessoas que não têm sensibilidade nem empatia. É doloroso para nós ver que o preconceito e a falta de informação são recorrentes", detalhou Rose.
Identificação do autismo na infância
Desde os primeiros meses de vida, crianças autistas manifestam alterações, mas esses sinais podem ser identificados com mais facilidade entre um e dois anos. Quem explicou foi a pediatra Lury Neder, que é coordenadora do Núcleo de Acolhimento e Avaliação das Terapias Integrativas para o Transtorno do Espectro Autista (Natitea), recém-inaugurado por uma cooperativa privada de assistência à saúde em Belém.
"Aquela criança que, quando é chamada, não responde. Não se interessa pelo olhar da mãe. Não corresponde a um sorriso. Tem dificuldade de fala, tanto na comunicação verbal como na não verbal. Pode ter sensibilidade maior a ruídos. Interesse maior por objetos, e não pessoas. Organiza os brinquedos de maneira diferente, como carrinhos enfileirados ou em círculo. Movimentos repetitivos das mãos. Repetição das últimas sílabas das palavras", detalhou a pediatra.
Estimativa
No Brasil, não há dados exatos sobre a quantidade de autistas. No Pará, há uma estimativa de 150 mil pessoas com TEA, conforme informou a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), que comunicou que uma política estadual de proteção aos direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista traz vários instrumentos de execução, como a construção de serviços especializados.
O usuário deve ir a uma unidade básica de saúde. Depois de constatada a necessidade de assistência especializada e de maior complexidade, o pedido é encaminhado para a Central de Regulação de Vagas da Secretaria Municipal de Saúde, que é a responsável pela verificação da disponibilidade e pelo encaminhamento à unidade de atendimento. "O Núcleo de Atendimento ao Transtorno do Espectro Autista (Natea) abriu 300 novas vagas para este público, fora as 300 vagas já disponibilizadas pelo CIIR (CER IV)", detalhou a Sespa.
Atendiemento em Belém
Em Belém, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) explicou que o atendimento das pessoas com TEA é realizado primeiramente nas unidades municipais de saúde, com o atendimento médico e multiprofissional do Núcleo Ampliado Saúde da Família. Lá, são identificados os possíveis atrasos do desenvolvimento e/ou sinais de alerta para o TEA. Após a avaliação, são encaminhados para a rede especializada própria e conveniada.
Na rede própria tem atendimento no Cemo (neurologia e odontologia), no Centro de Atendimento Psicossocial da Infância e da Juventude, no Centro de Atendimento Psicossocial Adulto e na Casa Recriar (Mosqueiro). Além dos atendimentos multiprofissionais em várias clínicas conveniadas com a Sesma, dentre elas estão a Apae Belém, Saber, HUBFS, CERIII/Uepa, CER II/UFPA e CIIR/Sespa.
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