Enteada de Raul Gazolla fala sobre produzir conteúdo adulto: 'Falo muito de coragem, mas tenho medo'
A atriz Milla Fernandez conta que sustentou a família com conteúdo adulto, enfrentou adoecimento emocional e transformou a experiência em peça de teatro
A atriz Milla Fernandez, de 28 anos, enteada do ator Raul Gazolla, abriu o coração ao relembrar o período em que trabalhou como cam girl, atividade que, segundo ela, foi fundamental para sustentar a família durante dois anos, mas cobrou um alto preço emocional.
Criada por Gazolla desde a infância, Milla é filha de Fernanda Loureiro, atual esposa do ator. Em 2025, ela e a irmã, Luna, deram entrada no pedido para adotar legalmente o sobrenome do padrasto, a quem considera pai.
O que é uma cam girl?
Uma cam girl é uma mulher que realiza transmissões ao vivo pela internet, geralmente por meio de plataformas de webcam, onde interage com o público em tempo real. O conteúdo pode incluir conversas, performances sensuais ou adultas, conforme as regras da plataforma, e costuma ser monetizado por meio de gorjetas, assinaturas ou pedidos específicos dos espectadores.
Formação artística e mudança de rota na pandemia
Formada pela Casa de Artes Laranjeiras (CAL), Milla atua desde a adolescência. No entanto, após não ser aprovada em testes importantes e com o impacto da pandemia de covid-19 sobre o mercado cultural, ela precisou buscar outras formas de renda.
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Antes de entrar no universo do conteúdo adulto, tentou trabalhos como tradução de textos e aulas de inglês, mas foi na plataforma de transmissão ao vivo que encontrou retorno financeiro imediato. Logo no primeiro mês, afirma ter faturado cerca de R$ 20 mil.
“Tive sorte de ter o apoio da minha família. Eles confiam muito no meu discernimento”, disse em entrevista ao jornal O Globo.
Medo, exposição e silêncio entre amigos
Apesar do sucesso financeiro, Milla manteve a atividade em segredo de grande parte dos amigos. Para reduzir riscos, chegou a bloquear usuários brasileiros na plataforma, mas reconhece que subestimou o alcance da internet.
“Falo muito de coragem, mas tenho medo. Era só dar play ali e pronto! Minha imagem estava espalhada na internet. Ingenuamente, não sabia disso”, relatou.
“Quanto mais o dinheiro entrava, pior eu ficava”
Com o passar do tempo, o impacto psicológico se intensificou. A atriz afirma que o retorno financeiro não foi suficiente para compensar o desgaste emocional.
“Quanto mais o dinheiro entrava, mais eu ficava na merda”, desabafou. Segundo ela, o processo levou a um adoecimento mental e a uma crise profunda sobre suas escolhas de vida e identidade.
“Conforme fui fazendo sucesso com isso, mais fui me sentindo fracassada com relação às minhas escolhas”, afirmou.
Ainda assim, Milla diz não se arrepender da experiência. Para ela, o período ajudou a desconstruir a ideia de perfeição e de uma imagem pública intocável. “Entendi de maneira dolorosa, que não dá para ser perfeita e que as coisas não vão ser como planejei.”
Experiência virou arte no teatro
Hoje, Milla ressignifica essa vivência nos palcos. Ela está em cartaz com a peça “TIP – antes que me queimem, eu mesma me atiro no fogo”, espetáculo que aborda o trabalho erótico e as contradições emocionais envolvidas. O título faz referência à palavra tips (“gorjetas”, em inglês), base da remuneração nas plataformas onde atuou.
Relações construídas no ambiente virtual
A atriz mantém contato com poucos ex-clientes, mas revela que as conexões criadas eram intensas, ainda que virtuais. “Estabeleci relações com essas pessoas por mais de dois anos, sabendo detalhes da família, da infância, do trabalho, se estavam dormindo bem... De tudo mesmo! E aí me pego pensando que não sei se nada é verdade. Entende? Isso é o mais louco”, concluiu.
(Riulen Ropan, estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Vanessa Pinheiro, editora web de oliberal.com)
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