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Projeto recebe doações para mulheres vítimas de violência

DPE criou o Arara das Manas como forma de enfrentar situações de violência patrimonial

Fabrício Queiroz

O enfrentamento da violência contra as mulheres é um desafio cotidiano no Brasil. No período de janeiro a julho de 2022, em todo o país foram 31.398 denúncias e 169.676 violações no contexto da violência doméstica e familiar sofrida pelas mulheres. Isso porque uma única denúncia pode conter mais de uma violação de direitos humanos, segundo a pela Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH), responsável pelo serviço Ligue 180.

No contexto regional, o Pará liderou a ocorrência de casos de violência doméstica entre os estados do Norte no primeiro semestre deste ano, com 559 denúncias recebidas. A escuta desses casos e o direcionamento das vítimas para serviços de orientação jurídica, educação em direitos humanos e defesa dos direitos em vias judiciais ou extrajudiciais faz parte do trabalho do Núcleo de Enfrentamento à Violência de Gênero (Nugen), da Defensoria Pública do Estado do Pará (DPE), que recebe por dia cerca de 15 mulheres para atendimento.

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Em meio a tantos relatos, a equipe do Nugen observou que as diferentes formas de violência, sejam elas físicas, sexuais, psicológicas, morais e patrimoniais, se associam e intensificam um ciclo de violações do qual muitas mulheres tem dificuldade de sair ou enfrentar. Para dar conta desse problema complexo, o núcleo conta oferece uma abordagem jurídica e psicossocial multidisciplinar que empodere as vítimas nesse processo.

De acordo com a coordenadora do Nugen e defensora pública Larissa Machado, as medidas adotadas tem como foco duas frentes de atuação, que envolve tanto as vítimas quanto os agressores. No que tange às vítimas, uma nova iniciativa começou a ser executada neste mês chamada Arara das Manas.

“Uma das formas de violência praticadas contra a mulher é a violência patrimonial. Muitas delas saem de casa sem poder retornar, elas saem com a roupa do corpo e outras tem as suas vestes ou seus acessórios queimados porque é uma forma do homem ferir a autoestima, de jogar no lixo aquele sentimento que ela tem de bem-estar. Muitas vezes essa vítima vem para cá com a autoestima no lixo literalmente, então a gente detectou, diante dessa gama de atendimentos, essa considerável demanda”, explica a defensora Larissa Machado.

Diante disso, o projeto surgiu com o objetivo de arrecadar roupas, calçados e acessórios novos ou usados, desde que em condições, para que sejam doados às mulheres em situação de violência de gênero e vulnerabilidade econômica. “O projeto Arara das Manas significa devolver um pouco de dignidade, de autoestima para essa mulher que sofreu essa violência patrimonial”, sintetiza.

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Superar ciclo de violência é desafio

Para a defensora pública, o enfrentamento da violação de direitos requer ações coordenadas em diversas frentes, por isso não basta se limitar aos aspectos estritamente jurídicos da questão, mas também é necessário fornecer ferramentas para que todo o ciclo de violência se encerre.

Nesse sentido, a rede de apoio proposta pelo Nugen visa englobar as diversas necessidades das mulheres, como a solicitação de medidas protetivas, a garantia de pensão alimentícia para a vítima e seus filhos, mas também atua para qualificar o processo de atendimento e escuta a fim de que ele não contribua para reiterar as sensações e o sofrimento que a violência provoca.

image No Núcleo de Prevenção e Enfrentamento à Violência de Gênero da Defensoria Pública (Nugen), mulheres encontram orientação e assistência multiprofissional (Igor Mota / O Liberal)

Aliado a isso, a preocupação se volta para o suporte e o esclarecimento das mulheres e dos homens visando diminuir a ocorrência de casos de violência doméstica. “Como a gente consegue isso? Empoderando essas mulheres, enchendo elas de informação, trazendo para elas conhecimento sobre a transgressão dos seus direitos. Muitas mulheres sofrem e sequer tem conhecimento que estão sendo vítimas de uma violência”, pontua Larissa Machado.

O projeto Arara das Manas vem auxiliar nesse processo dando materialidade a uma mudança que se pretende que ocorra também ao nível da cultura e do comportamento. “O papel do projeto é fundamental. É conferir o que a Constituição Federal prega: o princípio da dignidade da pessoa humana. Quando a gente fala em resgatar a autoestima, quando a gente fala em empoderar essa mulher, é devolver pra ela o sentimento de dignidade, o sentimento de vida, que ela pode sim ter uma nova história dali pra frente. É devolver a sensação de superação, de que ‘passei por um ciclo de violência, vivi esse ciclo de violência, superei, estou pronta para recomeçar’. É uma virada de chave na vida de uma mulher”, acrescenta a defensora pública.

Projeto funciona com a ajuda de parceiros e voluntários

Para que o projeto alcance os objetivos propostos, a DPE conta com o apoio de voluntários e parceiros. Os alunos do curso de moda Universidade da Amazônia (Unama), por exemplo, farão a seleção e customização das peças. Já o Parque Shopping cedeu um espaço para funcionar como ponto de arrecadação e, assim, ampliar as oportunidades de participação do público. "Buscamos sempre ceder nossos espaços para as mulheres ressaltarem o seu empoderamento e sua força. Já tivemos outras ações para enaltecer o público feminino, faz parte do nosso propósito”, afirma Lidiane Melo, gerente de marketing do estabelecimento.

Além disso, as mulheres já atendidas pelo Nugen e que serão diretamente beneficiadas também terão um papel importante no lançamento oficial do projeto. No dia 28 de setembro, no Teatro Estação Gasômetro, elas vão desfilar com as criações feitas pelos estudantes. “Isso tem um efeito multiplicador muito positivo para novas vítimas e para a sociedade. Nesse dia elas vão desfilar com as peças doadas com uma mostra real de que você pode sim vencer um ciclo de violência, que você pode sim contar um novo capítulo da sua história”, destaca Larissa Machado.

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Uma das voluntárias da campanha é a defensora pública Ana Alice Figueiredo, que frisa a importância da contribuição como forma de enfrentar uma das faces da violência doméstica. “A violência patrimonial é um dos tipos de violência mais constatados que nós vimos porque muitas se retiram do lar sem seus objetos pessoais, sem seus pertences, além de toda outra forma de violência, sem falar da questão alimentar. Esse projeto foi um dos idealizados para a gente tentar minimizar esse problema que vai muito além do jurídico. Eu também fiz doação para essas mulheres como uma forma de resgatar essa autoestima. A gente tenta colaborar como cidadã e também como profissional”, ressalta.

Onde doar para o projeto Arara das Manas?

Participe do projeto Arara das Manas doando roupas, calçados e acessórios novos ou usados em bom estado de conservação nos pontos de coleta. Confira os pontos que recebem doações:

  • Defensoria Pública em Belém - Travessa 1° de Março, nº 766. Bairro Campina. Horário: de segunda à sábado, de 8h às 13h.
  • Defensoria Pública em Ananindeua – BR-316 km 9, Praça 2 de Junho (próximo à Prefeitura de Ananindeua). Bairro Centro. Horário: de segunda à sábado, de 8h às 13h.
  • Parque Shopping – Avenida Augusto Montenegro, nº 4300. Bairro Parque Verde. Horários: de segunda a sábado, das 10h às 16h.
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