‘Preservação da floresta sem desenvolvimento econômico é inviável’, afirma diretor do Amazônia+21

Em entrevista ao Grupo Liberal, Marcelo Thomé avalia os temas debatidos durante a COP 27

O Liberal
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A Amazônia esteve no centro dos debates durante a 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, a COP 27, realizada entre os dias 6 e 18 de novembro, no Egito. Presidente da Federação das Indústrias de Rondônia e diretor do Instituto Amazônia+21, iniciativa de empresários da Amazônia brasileira, com suporte da Confederação Nacional da Indústria e das nove federações das indústrias dos estados da região, Marcelo Thomé avalia os temas debatidos e como o setor produtivo pode contribuir com as ações propostas. “Se não tivermos alternativas econômicas de geração de emprego, de renda, de dignidade de investimentos em infraestrutura, infraestrutura que tenham ou que sejam adequadas à realidade amazônica, a gente não avança e não confirma a necessidade da agenda de preservação. Então, o modelo que nós defendemos e acreditamos é a conservação por meio do desenvolvimento sustentável”, declarou. Veja a entrevista concedida ao Grupo Liberal:

Se falou muito em Amazônia aqui na Cop 27. Enquanto presidente da federação de indústria de um estado da Amazônia, vendo essa conversa sobre preservação, o que dá pra tirar daqui e transformar em estratégia de iniciativa da indústria após esse período?

Existe uma agenda prioritária pro país que de fato é controlar, ou melhor, eliminar o desmatamento ilegal em todos os biomas, em especial o bioma amazônico. Isso é fundamental. Penso que cada vez mais a gente consegue evoluir na compreensão do que deve ser a agenda pra Amazônia pra além preservação. A preservação da floresta sem desenvolvimento econômico é inviável. E essa proposta tem se demonstrado ao longo dos últimos anos falha, porque se não tivermos alternativas econômicas de geração de emprego, de renda, de dignidade de investimentos em infraestrutura, infraestrutura que tenham ou que sejam adequadas à realidade amazônica, a gente não avança e não confirma a necessidade da agenda de preservação. Então, o modelo que nós defendemos e acreditamos é a conservação por meio do desenvolvimento sustentável. Na medida em que há uma destinação econômica para o território, com empreendimentos sustentáveis que têm tecnologia, capacidade financeira, mitigando riscos, e mesmo com capacidade para corrigir possíveis danos, gerando emprego pro entorno, desenvolvendo capital humano no entorno do empreendimento, teremos uma forte contribuição para a agenda da conservação da Amazônia. A ausência de atividade econômica, a ausência de propriedade da terra é o caminho propício ao ilícito, ao cometimento do ilícito. Terra que não tem dono é onde há extração ilegal de madeira, há extração ilegal de minério. Na medida em que você tem um dono, você tem uma atividade econômica naquele território, você reduz fortemente a possibilidade de cometimentos ilícitos na Amazônia. Essas são agendas prioritárias de governo e que precisam ser perseguidas. Do ponto de vista da mobilização empresarial para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, a iniciativa chamada Instituto Amazônia+21, converge as nove federações de indústria da Amazônia Legal numa mesma agenda, num projeto único que enxerga a Amazônia como destino de investimentos para estruturação de cadeias produtivas, de cadeias de valor, formando mão de obra local e inserindo essas pessoas no empreendimento que deve ocorrer no território amazônico ou com agregação de valor no território Amazônia. Reconhecendo, obviamente, as regionalidades de cada microterritório amazônico por sua característica e diversidade que ela tem em si mesmo.

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Já tem alguma iniciativa que você pode citar?

Algumas iniciativas estão em curso, a primeira é a estruturação da Facility de Investimentos, que tem por objetivo originar projetos na Amazônia com apoio, com assistência técnica, mitigando risco ao capital investido. E na outra ponta, veículos financeiros e captura de oportunidades, de atração de investimentos, conectando a estes projetos. Isso é uma grande matriz de soluções pra conectar as iniciativas empreendedoras sustentáveis da Amazônia, maturando esses projetos pra poder acessar recursos nacionais ou estrangeiros, fazendo de fato ou efetivando essa ponte entre investimento e empreendimento na Amazônia.

Você falou da criação da “Opep das Florestas”, pelo Brasil, Congo, Indonésia, pra justamente avançar da regulamentação do mercado de carbono. Como tem acompanhado essa discussão e quanto isso é importante nessa discussão do mercado de carbono e Amazônia?

Primeiro que o mercado interno, sem segurança jurídica, dificilmente teremos projetos em larga escala e projetos que sejam atrativos ou que tenham melhor remuneração. Precisamos garantir credibilidade, transparência, e certificação dos projetos brasileiros para que eles possam ser competitivos a nível global. Esse é o primeiro ponto. Segundo ponto é o potencial de geração de projetos de carbono, de crédito de carbono, de base florestal que a Amazônia tem. A estimativa é que 17% do estoque de carbono de base florestal no Globo estejam na Amazônia. Na medida que avancemos com regularização fundiária, com regulação no mercado de carbono, poderemos ter bons projetos de crédito de carbono a partir da Amazônia, acessando um volume significativo de recursos, levando isso pro chão de fábrica da Amazônia, garantindo que quem está no território seja remunerado, seja o ribeirinho, seja o indígena, seja quem for. Isso é fundamental. Canalizar esses recursos pra quem está no território amazônico. Pra que isso não fique em consultorias ou numa camada que não acessa ao território. Do contrário, a gente vai continuar convivendo e vendo a agressão ao bioma amazônico.

Por isso, é um diferencial do Instituto Amazônia+21 ser parceiro implementador local porque a gente conhece a Amazônia, nós estamos presente nos nove estados da Amazônia e a gente tem condições de capturar as oportunidades e levar pro chão da Amazônia, porque estamos no território, conhecemos o território, tanto as oportunidades quanto os desafios de se empreender nessa região.

Os governadores da Amazônia montaram um estande pela primeira vez aqui na COP 27 pelo Consórcio Interestadual da Amazônia. Como iniciativa privada, como avalia essa visibilidade no cenário internacional?

Quanto mais iniciativas tiver, buscando demonstrar o potencial da geração de negócios na Amazônia, mais próximos de um bom caminho estaremos. E a associação de uma agenda pública governamental positiva, estruturada, associada a uma agenda estruturada da iniciativa privada. Em algum momento nos encontraremos pra que os compromissos assumidos e as oportunidades que os governadores estão construindo para seus estados possam ser implementadas pela iniciativa privada a qual nós representamos.

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