No julgamento de Bolsonaro, Brasil enfrenta Trump e próprio passado autoritário, diz 'WP'
O jornal também destacou a "ruptura crescente" entre Brasil e EUA

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de sete réus do "núcleo crucial" da tentativa de golpe, que começa nesta terça-feira, 2, é destaque no jornal americano The Washington Post.
Segundo o veículo, o caso marca uma inflexão na história política do Brasil: é a primeira vez que uma tentativa de rompimento da ordem institucional será julgada. O processo também ocorre em meio a tensões com os Estados Unidos, após o governo de Donald Trump tentar pressionar o julgamento com sanções contra o país e contra o relator do processo, ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Durante décadas, estudei mais de uma dúzia de golpes e tentativas de golpe, e todos eles resultaram em impunidade ou anistia", disse ao The Post o historiador Carlos Fico, especialista na questão militar no Brasil. "Desta vez será diferente."
VEJA MAIS
A historiadora Lilia Schwarcz ressaltou que o julgamento é "simbólico", por romper um "pacto de silêncio" sobre os militares, cujos crimes durante a ditadura nunca foram julgados devido à Lei de Anistia de 1979.
O jornal também destacou a "ruptura crescente" entre Brasil e EUA. Desde maio, o governo americano avalia sanções contra Moraes, intensificadas em julho com críticas de Trump ao que chamou de "caça às bruxas" contra Bolsonaro, tarifas adicionais a produtos brasileiros e revogação de vistos de autoridades, incluindo Moraes, sancionado com base na Lei Magnitsky.
Apesar da pressão externa, a ação penal seguiu seu curso. "Em vez de recuar, o Brasil aumentou a pressão sobre o ex-presidente e seus aliados", afirma o The Post, citando que a Polícia Federal indiciou Bolsonaro e seu filho Eduardo, em razão das reuniões do deputado com funcionários da Casa Branca, onde teria incentivado medidas punitivas contra o Brasil.
As tarifas de 50% impostas pelos EUA a produtos brasileiros também influenciaram o caso, sendo interpretadas por Moraes como tentativa de coação. O ministro determinou medidas cautelares a Bolsonaro, que teve prisão domiciliar decretada em 4 de agosto devido ao descumprimento reiterado de restrições de uso de redes sociais.
"Não há a menor possibilidade de recuar nem um milímetro", disse Moraes ao The Washington Post. "Faremos o que é certo: receberemos a acusação, analisaremos as provas e quem deve ser condenado será condenado, e quem deve ser absolvido será absolvido."
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA