‘Estamos lutando por um direito que é nosso’, diz Patrícia Alencar sobre vídeo vazado
Prefeita de Marituba (MDB-PA) denuncia violência política de gênero, cobra aplicação da lei e reforça que mulheres na política seguem sendo alvo de julgamentos morais

Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, a prefeita de Marituba, Patrícia Alencar (MDB), falou sobre o episódio do vazamento de um vídeo pessoal em que aparece dançando de biquíni, e que gerou ataques nas redes sociais. A gestora classificou o caso como exemplo de violência política de gênero e defendeu que o episódio seja tratado como um alerta para o que muitas mulheres ainda enfrentam no exercício de cargos públicos.
“Hoje nós temos uma lei que fala sobre isso. Ela define, previne e pune a violência de gênero na política. E quantas de nós, mulheres, temos passado — e vamos ter que passar — para que a gente entenda que são em momentos como esse que a gente precisa, de fato, da sororidade”, declarou.
Patrícia se referia à Lei nº 14.192/2021, que estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra mulheres no Brasil. A legislação prevê reclusão de um a quatro anos e multa para casos de ofensa, impedimento ou discriminação contra mulheres no exercício de funções políticas. Segundo a prefeita, é fundamental que a lei seja colocada em prática.
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“É um momento onde a gente tem que levantar a pauta, discutir, mas não só ficar no papel. Que a gente possa executar e fazer com que as pessoas entendam que nós estamos lutando por um direito que é nosso”, frisou.
Ela também fez um apelo pela união feminina diante de situações de ataque e julgamento moral.
“A gente precisa da sororidade não só em palavras, mas em conjunto. Da sororidade que vai fazer com que nós, mulheres, nos unamos. E que a gente possa não só buscar os nossos direitos, mas fazer valer a pena cada gesto e cada lei”, pontuou.
O caso envolvendo Patrícia ganhou repercussão nacional após a divulgação, na última quarta-feira (4) e sem consentimento, de um vídeo que havia sido postado, há cerca de duas semanas, em seu perfil pessoal e restrito. A prefeita afirmou ter escolhido a dedo as 187 pessoas que tinham acesso àquele espaço virtual e se disse “extremamente violada” com a gravação e redistribuição do conteúdo.
A gestora informou que sua equipe já está tomando as providências jurídicas cabíveis para responsabilizar os envolvidos. “Temos, sim, algumas desconfianças de quem possa ter vazado o vídeo. Eu espero de verdade que a gente consiga chegar a um nome e eu tenho certeza que a Justiça vai fazer valer o meu direito”, declarou.
Julgar uma mulher pelo corpo ainda é prática comum, diz gestora
Mas os efeitos, segundo ela, não pararam na invasão de privacidade. “A mulher que sai para uma festa é [vista como] a mulher que só vive embriagada — e ela às vezes nem bebe. A mulher que coloca um biquíni não é digna de respeito. A mulher que grava um vídeo ou que posta uma foto na internet é porque quer aparecer com o corpo”, desabafou.
Segundo a gestora, esse tipo de julgamento continua enraizado na sociedade brasileira, e se intensifica quando as vítimas são mulheres em posição de liderança. “A mulher não é menos ou mais mulher porque usa um short curto, porque usa um biquíni, porque é prefeita ou vereadora e sai para uma festa. Mas infelizmente é isso que a gente vive no dia de hoje”, analisou.
Mesmo diante das críticas, Patrícia afirma que não pretende recuar. Ao contrário, diz se sentir fortalecida pelo apoio que recebeu. “Recebi apoio de deputadas, de prefeitas, de vice-prefeitas, de empresárias. Recebi apoio das seguidoras, através de mensagens no meu WhatsApp, de mensagens diretas nas redes sociais. Isso é o que me fortalece para seguir adiante, para erguer a cabeça”, revelou.
Ela também destacou que o episódio não a afastou das ruas nem da agenda administrativa. “A prefeita tá na rua asfaltando, tá na unidade de saúde vendo se tá tudo ok, dentro dos nossos hospitais”, afirmou. “Ontem [5], na abertura do maior São João da história de Marituba, desci do camarote, fui para o meio do povo, para a arquibancada. E é muito, muito bom se sentir acolhida por mulheres e homens de verdade. Me senti amada”, acrescentou.
A entrevista encerrou com uma reafirmação daquilo que, para a prefeita, é inegociável: o direito das mulheres de não se esconderem atrás de expectativas impostas.
“Você tem que ser o que você quiser — e ser o que você quiser não só de boca para fora. Ser o que você quiser é de direito, em qualquer dia, a qualquer hora, independentemente do que os outros vão achar, do preconceito, do machismo que a sociedade ainda tem até hoje”, concluiu.
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