Espionagem na Abin, relatório da CPMI e atuação do STF: entrevista exclusiva com Jair Bolsonaro

O ex-presidente esteve em Belém e falou sobre temas polêmicos envolvendo seu nome e seu governo, como investigações e indiciamentos

Elisa Vaz

A articulação política com lideranças locais e aliados ainda é uma prioridade para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), embora esteja inelegível após decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não queira que a esposa, Michelle Bolsonaro (PL), concorra a nenhum cargo no Poder Executivo. Ele esteve em Belém neste final de semana, ao lado da ex-primeira-dama, para agenda de fortalecimento da pauta conservadora e, durante entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, falou sobre as recentes investigações no Congresso Nacional e na Polícia Federal envolvendo o seu governo e criticou o andamento da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Confira a entrevista na íntegra:

GRUPO LIBERAL: Há uma série de investigações envolvendo o seu nome ou governo, como o relatório final da CPMI do 8 de Janeiro, que pediu o seu indiciamento e de outras pessoas, e uma operação da Polícia Federal contra servidores da Abin, sobre ações que ocorreram durante o seu governo. O senhor acha que existe algum tipo de perseguição?

JAIR BOLSONARO: Existir, existe, mas algumas coisas que estão acontecendo não têm nada a ver com perseguição. O que eu estou acompanhando desse caso da Abin é que na casa de um dos diretores foi encontrado 170 mil dólares, esse diretor em 2008 foi demitido no governo Lula porque foi pego em uma operação de investigar pessoas, como por exemplo gente do próprio Supremo Tribunal Federal. Voltou agora esse mesmo diretor para lá. Esse equipamento comprado em 2018 no final do governo Temer permite você localizar onde a pessoa está com o seu celular, não permite você saber o que eles estão conversando. Então, estou acompanhando o que está acontecendo. O que houve em 2020, não sei qual o equipamento foi usado no Brasil, mas usou-se esse equipamento para se localizar concentração de pessoas no tocante à covid. Isso teve prosseguimento com os policiais indo atrás desse aglomeramento de pessoas. Talvez seja por aí. Mas, esperemos um pouco mais. Agora o que falta é mostrar quais são os políticos, quem de outros Poderes foi foi monitorado e tem que botar isso para fora dessa investigação para não ficar nessa suposição que eu perseguia quem quer que seja. Você não me viu perseguindo ninguém no meu governo. Até as próprias prefeituras, você pode ver, não interessa o partido político, todos receberam recurso, diferentemente do que acontece agora, estamos vendo muitos prefeitos com a corda no pescoço, não tem o viés político, o viés econômico, mas o que interessa da minha parte é que não tem uma perseguição em cima de ninguém. Então, não podem me culpar de usar uma agência para fazer operações ilegais. O que pode ter acontecido: alguns servidores resolveram por conta própria investigar ou saber o paradeiro de algumas pessoas. Isso pode ter certeza que no meu governo, na minha pessoa, não vai chegar nada nesse sentido e nunca usei nada para perseguir quem quer que fosse.

GL: E quanto ao pedido de indiciamento contra o senhor na CPMI do 8 de Janeiro?

JB: Por que não me convocaram? Eles têm maioria na Comissão. É simples. Ah, 8 de janeiro, não era mais eu no governo. Ah, ele pensou em dar um golpe. Desde o primeiro dia do meu governo de 2019 a imprensa vinha me acusando de querer tomar medidas autoritárias. Nada aconteceu. Me aponte uma ação minha à margem da lei. Nenhuma. O governo quer, obviamente, botar uma cortina de fumaça entre o que aconteceu no meu governo atrás e os desmandos que acontecem no momento. Só isso.

GL: Recentemente, o STF discutiu a legalização do aborto no país. Outros temas polêmicos, como as drogas, também foram analisados pela Corte. E houve ainda a votação sobre o marco temporal, que acabou vetado. Como avalia os rumos que as discussões sobre esses assuntos estão tomando?

JB: Tem mais, propriedade privada também. Foi só eu deixar o governo que as portas do inferno se abriram aqui. O que acontece? Quem decide aborto é o Congresso Nacional. Se eu fosse presidente, vamos supor que o Congresso aprovasse o aborto, eu vetaria. Derrubou-se o veto, paciência, não se pode fazer mais nada. A questão da maconha, quem decide essa política é o Congresso Nacional, e não o Supremo Tribunal Federal. Propriedade privada: no dia seguinte ao segundo turno, uma decisão monocrática do ministro resolveu relativizar a propriedade privada. Marco temporal: é muito bonito falar em indígena. Eu não demarquei nenhuma reserva indígena. Não demarquei nenhum quilombola. Por quê? O Brasil já tem 14% da sua área demarcada como terra indígena. Isso traz insegurança. Traz para o homem do campo, através dessas inconsistência, ele não investe mais, ele acaba não investindo mais e todo o Brasil perde. Quem decide essa questão é o Congresso Nacional, e o Supremo resolveu mais do que legislar, interpretar um dispositivo constitucional, se não me engano é o artigo 231. E a mesma coisa, quem poderia avançar nessa questão é o Congresso Nacional, todo poder emana do povo, o poder vai para dentro do Parlamento, através dos seus deputados e senadores. Quando um poder extrapola o outro não é que se vê diminuído, a população perde com isso, cada um no seu lugar. Vi há poucas semanas, duas ou três semanas, uma nota de uma frente parlamentar de quase 22 partidos dizendo que tem que restabelecer o equilíbrio entre os Poderes, entre as relações. Quem está dizendo não sou eu, estou aqui fora, eu nem eu nem direito político tenho, tiraram meu direito político de uma forma arbitrária, por reunir-me com embaixadores, que é uma política privativa minha.

GL: O PL Mulher realizou, neste final de semana, um evento para estimular a participação feminina na política, e a ex-primeira-dama Michelle foi citada como futura presidente. Pode-se dizer que o partido já está visando as eleições de 2026? A Michelle deve ser candidata?

JB: Não, a decisão não é do partido, quem decide sou eu e ela. É decisão nossa que ela não dispute nenhum cargo no Executivo nos próximos anos.

GL: Em relação ao pleito municipal, o senhor já pode dar alguma previsão de como serão organizadas as alianças pelo Pará? Tem alguma aliança específica que está sendo pensada?

JB: Não, aqui eu sou ligado ao Éder Mauro e eu converso com ele sobre política local aqui. Pelo que tudo indica, ele pretende disputar a prefeitura no ano que vem.

GL: Em relação ao conflito que estamos vendo no Oriente Médio, como o senhor se posiciona e como avalia a posição do Brasil?

JB: Isso não é conflito, é terrorismo. Conflito existe lá, por exemplo, na Ucrânia e Rússia, lá conflito pode até discutir. Mas lá é terrorismo [no Oriente Médio]. Os caras entraram, mataram centenas de pessoas, executaram famílias dentro de casa, estupraram mulheres, depois tocaram fogo nela, sequestravam criança de dois, três anos de idade, 40 foram mortas cortando a cabeça e você acha que isso aí é um conflito? Não, não é conflito. Isso é um ato de terrorismo por parte do pessoal da Faixa de Gaza, não são os palestinos como um todo, mas são ali um grupo terrorista que existe lá dentro, que você tem que tomar uma posição. Eu tomei, fiz a minha nota, não sou nada, nem cidadão comum eu sou porque eu não tenho direitos políticos, mas me posicionei, como já havia me posicionado no passado. Israel sempre quis resolver essa questão, quem representa os palestinos de forma não legal, porque parte do pessoal é representado pelo Hamas, vem fazendo ao longo desse tempo todo é o terrorismo. O Lula sempre esteve ao lado de terroristas. O Lula criou o Foro de São Paulo em 1990, que são os donos da Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia]. A Farc estuprou aquela senadora que foi sequestrada por ele, ficou anos sob cativeiro e depois foi posta em liberdade, quando não tinha estabilidade emocional para mais nada ela foi posta a liberdade, temos imagens dela sendo estuprada, e o Lula sempre apoiou as Farc. O Lula apoia, por exemplo, o Daniel Ortega, da Nicarágua, que prende padres, tem padre preso na Nicarágua, tem freiras que são expulsas de lá, eu abri as portas para quem quiser vir para cá da Nicarágua que venha. Esse é o Lula da Silva, cuja parte da sua facção criminosa, 21 parlamentares ,em 2021, assinaram um manifesto favorável ao Hamas, não enquadrando o Hamas como grupo terrorista. O que que precisa fazer depois de matar mulheres, executar velhinhos, executar famílias, decapitar crianças, o que mais precisa fazer esse grupo para ser enquadrado como terrorista?

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