Caso da vice-prefeita de Marituba: PF aponta carro como ‘gabinete da propina’; entenda

Empresário suspeito de corrupção usava carro como base para reuniões e repasses de dinheiro dentro da Alepa; vice-prefeita de Marituba está entre os investigados.

Jéssica Nascimento
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A Polícia Federal (PF), por meio da Operação Expertise, investiga o desvio de cerca de R$ 200 milhões das áreas de Saúde e Educação no Pará. De acordo com o portal Metrópoles, as investigações indicam que um veículo utilizado por um dos suspeitos funcionava como um “gabinete paralelo” para entrega de propina dentro da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa).

Vídeos obtidos pela PF, gravados por câmeras de segurança da Alepa e de um banco localizado dentro da Assembleia, mostram movimentações suspeitas no dia 20 de agosto de 2025. Nas imagens, o empresário Jacélio da Igreja, sócio da empresa Líder Engenharia e investigado por participação no esquema, aparece realizando saques no banco e, em seguida, retornando diversas vezes ao estacionamento da Alepa, onde encontros foram registrados dentro do carro dele, um Toyota SW4.

Segundo a PF, o veículo era utilizado como uma espécie de base para negociações e repasse de valores em espécie a agentes públicos. O relatório da corporação descreve o carro como um “verdadeiro gabinete paralelo da propina”, onde ocorriam reuniões e distribuição sistemática de dinheiro acondicionado em mochilas e sacolas de loja. A Polícia destaca ainda a gravidade dos encontros terem ocorrido nas dependências da Assembleia Legislativa.

Durante o monitoramento, foi registrada uma das entregas suspeitas: após sacar dinheiro no banco, Jacélio teria repassado uma sacola da loja Arezzo — supostamente contendo dinheiro — à vice-prefeita de Marituba, Bárbara Bessa Marques

Ela foi alvo de mandado de prisão na segunda fase da operação, deflagrada em 9 de outubro, e posteriormente exonerada do cargo de secretária municipal de Educação.

A irmã de Bárbara, Beatriz Bessa Marques, também é investigada. Servidora da prefeitura de Marituba, ela teria dirigido o carro no qual a vice-prefeita entrou após o suposto recebimento da sacola.

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Detalhes da movimentação

As imagens revelam que Jacélio chegou à Alepa por volta das 16h, estacionando no subsolo e saindo apenas às 19h. Às 16h05, ele foi visto entrando no banco com uma mochila aparentemente vazia. Pouco depois, retorna com a mesma mochila, que desta vez parece mais pesada. Ele faz várias idas ao banco, onde teria recebido dinheiro em espécie, de acordo com a PF.

A análise das imagens da Alepa e do banco permitiu à PF acompanhar com detalhes as ações dos envolvidos, apesar de uma pequena diferença de cerca de cinco minutos entre os horários dos dois sistemas de câmeras. Por isso, a PF padronizou os horários conforme os registros da Assembleia.

Sobre a Operação Expertise

A Operação Expertise investiga uma organização criminosa acusada de cometer crimes contra a administração pública e de lavar dinheiro por meio de contratos fraudulentos com órgãos estaduais e municipais no Pará. O esquema teria se valido de recursos federais do Fundeb (Educação) e do FNS (Saúde).

As investigações apontam um modelo estruturado que envolve empresários, servidores públicos e empresas de fachada. O grupo fraudava licitações, direcionava contratos e executava serviços parcialmente ou sequer os realizava, recebendo, ainda assim, grandes somas de dinheiro público. Esses valores eram então sacados em espécie ou transferidos diretamente para as contas das autoridades envolvidas.

Segundo decisão judicial que autorizou a primeira fase da operação, em setembro, funcionários em cargos estratégicos nos órgãos públicos manipulavam os processos licitatórios para favorecer empresas específicas. Após a contratação, os pagamentos eram feitos, e os recursos, redistribuídos entre os membros do esquema — incluindo políticos e gestores públicos.

O que dizem as defesas?

Procurada pelo Grupo Liberal, a prefeitura de Marituba ainda não se manifestou. 

Questionada pelo Grupo Liberal sobre o modo de obtenção de filmagens das propinas, a Polícia Federal afirmou que uma das filmagens foi obtida mediante busca e apreensão e a outra, mediante requisição

Em nota enviada ao Grupo Liberal, a Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) informou que não figura como parte no inquérito policial em curso, tendo tomado ciência da existência da investigação apenas no momento do cumprimento dos mandados de busca e apreensão, realizados em 2 de setembro de 2025, nas dependências utilizadas por dois servidores.

“Ressalte-se que não foi identificada ou está sendo investigada qualquer irregularidade no âmbito da gestão administrativa da Alepa, sendo os elementos da apuração direcionados a outras entidades alheias à estrutura da Casa Legislativa”, diz a nota.

Segundo o parlamento estadual do Pará, o controle de acesso às áreas internas e ao estacionamento da instituição encontra-se em fase de implementação, como parte de medidas administrativas voltadas ao aperfeiçoamento da segurança e da gestão de fluxos internos.

“No que se refere à alegada presença do empresário Jacélio Igreja nas dependências da Alepa no dia 20 de agosto de 2025, a instituição esclarece que não há qualquer registro formal de entrada em nome do referido indivíduo na referida data. Ressalta-se que o prédio-sede da Assembleia abriga agências bancárias com atendimento ao público externo, o que justifica a circulação de visitantes no local”, destacou.

O Grupo Liberal entrou em contato com a empresa Líder Engenharia sobre o envolvimento de Jacélio Igreja no caso e aguarda retorno.   

 

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