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Brasil poderia ter sido primeiro do mundo a vacinar, diz Dimas Covas

Não fossem os obstáculos impostos pelo governo federal, 60 milhões de doses teriam sido entregues no último trimestre do ano passado

Thiago Vilarins (Da Sucursal Brasília)

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou nesta quinta-feira (27) em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, no Senado Federal, que o Brasil poderia ter sido o primeiro País no mundo a começar a vacinar contra o novo coronavírus (Covid-19), depois da China. De acordo com ele, a demora na negociação atrasou aquisição de insumos para produção de vacina e a parceria que o instituto buscou junto à Sinovac, farmacêutica chinesa que tem contrato com o Butantan para a produção da Coronavac.

Covas explicou que o instituto já estava buscando parcerias na China, antes mesmo da pandemia. Assim que ela teve início, o Butantan passou a avaliar parceria, observando que a tecnologia da vacina produzida pela Sinovac era a mais interessante para o instituto, uma vez que o Butantan dominava a tecnologia. "Era um ambiente propício que poderia ter permitido que o Brasil pudesse ser um dos primeiros países do mundo, fora a China, a ter uma vacina. Era essa a nossa expectativa. Eu fiquei muito entusiasmado como cientista em ter essa parceria", disse.

"O Brasil poderia ter sido o primeiro País do mundo a iniciar a vacinação, não fossem os percalços que tivemos que enfrentar", completou. Os percalços apontados por ele envolvem dificuldade de negociação com o governo federal, quando a primeira oferta ao Ministério da Saúde foi feita no dia 30 de julho de 2020, para 60 milhões de doses que seriam entregues no último trimestre do ano passado.

image (Jefferson Rudy / Agência Senado)

Em agosto, a mesma oferta foi feita, mas sem resposta positiva. Em outubro, foram ofertadas 100 milhões de doses, com previsão de entrega final em maio deste ano. Na época, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, quando a pasta chegou a anunciar a assinatura de um contrato de 46 milhões de doses. O contrato só foi efetivamente fechado em janeiro deste ano, em meio a pressões políticas, com vários países já vacinando.

No entanto, conforme Covas, naquele momento, "os parceiros internacionais já tinham outros compromissos e o ambiente internacional era de falta de vacina". O Brasil começou testes clínicos com a vacina da Sinovac em julho do ano passado. Segundo o diretor, a relação com a farmacêutica era de parceria, não havendo sequer cláusula comercial, porque a Sinovac também tinha interesses em estudos clínicos. "Isso nos daria uma vantagem, uma rapidez muito grande. Esse era o planejamento", disse.

Com a demora por parte do governo federal, que só assinou contrato com o Butantan em janeiro, o instituto perdeu tempo e um momento propício para aquisição dos insumos necessários. Com a disputa por vacina no mundo todo, insumos chineses tem demorado a chegar, o que tem gerado atraso no cronograma de entrega tanto do Butantan quanto da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Dimas Covas reiterou que a China é o principal parceiro comercial brasileiro, sobretudo para fornecer insumos médicos. Ele reiterou que é necessário intensificar esta colaboração não só com a China, mas com países em desenvolvimento para a distribuição de vacinas. "As vacinas são necessárias para o mundo pobre e em desenvolvimento. Porque se nesses países não houver vacinação, a pandemia não será controlada em lugar nenhum do mundo", ressaltou.

Para relator, depoimento desmente Pazuello

Para o relator da CPI da Covid-19, senador Renan Calheiros (MDB-AL), Dimas Covas acentuou as contradições do ex-ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, além de reforçar a negligência do governo Bolsonaro em comprar vacinas. "O depoimento é muito bom. Produziu muita coisa positiva para a investigação, acentua contradição dos anteriores. E demonstra que esse negócio da vacinação, com relação ao Butantan, é pior do que o da Pfizer (de que o governo teria deixado de responder a várias tentativas de acordo). E o presidente (Bolsonaro) continua da mesma forma, fazendo as mesmas coisas. O Boris Johnson era negacionista e mudou, vacinou. O parlamento abriu investigação para apurar o período do negacionismo”, destacou.

Calheiros reforçou que, enquanto o negacionismo do governo ganha evidência na CPI, Bolsonaro segue tentando evitar, na Justiça, que governadores façam isolamento. "O governo perdeu as oportunidades de comprar e fazer pré-contrato. Era qualquer vacina. Ele defende o tratamento precoce em substituição à vacina. Esse é o problema", acusou.

Sobre a aprovação da reconvocação de Pazuello e do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o parlamentar disse que é uma medida pedagógica. "A convocação tem um caráter pedagógico. Olha, maluco, para de delinquir, para de aglomerar. É um desrespeito à CPI. Para. Vamos ouvir o atual ministro. O Queiroga não sabia de nada. A cada depoente, fica reiterado que (Pazuello) veio para mentir. Conseguiu habeas corpus para mentir. Foi para o Rio de Janeiro. A CPI convoca novamente. Vale a questão pedagógica", concluiu.

Para o vice-presidene da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o depoimento de ontem confirmou a tese da "negação das vacinas" por parte do governo. "Os trinta dias da CPI têm algumas constatações para já apontar caminhos do relatório do senador Renan Calheiros. Está patente que existia um gabinete paralelo de enfrentamento à pandemia com uma estratégia diferente da ciência. A ciência aposta no isolamento social e na vacina. Esse gabinete paralelo apostava e insiste na cloroquina, aglomeração e imunização de rebanho", declarou. "Hoje está pavimentado o caminho da negação das vacinas. Somamos mais 80 milhões de vacinas que poderiam ter estado nos braços dos brasileiros de dezembro até agora. Isso significaria 40 milhões de brasileiros imunizados. Teria peso enorme para conter a segunda onda e salvar vidas", acrescentou.

O senador Humberto Costa (PT-PE) classificou o depoimento de Covas como "demolidor para o governo”. “Demonstração clara de desinteresse em relação às vacinas”, completou.

Já o senador Marcos Rogério (DEM-RO), da tropa de choque do governo, alega que o relatório da CPI já está pronto para culpar o presidente Jair Bolsonaro. "Os discursos, no âmbito da CPI, são de ódio, de vingança, de tentar colocar, por antecipação, o carimbo de culpado no peito do presidente Bolsonaro. Eles não querem saber a verdade", defendeu.

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