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Vice-prefeito e vereador de Cachoeira do Arari, no Pará, ameaçam policiais em delegacia

Eles foram conduzidos por desacato, após a Polícia Militar atender a uma ocorrência por poluição sonora e aglomeração. Tudo foi registrado em vídeo.

Victor Furtado
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O vice-prefeito e um vereador de Cachoeira do Arari, no arquipélago do Marajó, no Pará, aparecem em um vídeo discutindo com policiais militares e civis dentro de uma delegacia. Eles foram conduzidos à unidade após a PM atender a uma ocorrência de poluição sonora e aglomeração. Armando Brasil, promotor de Justiça Militar, do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), abriu uma investigação porque, após o fato, teria ocorrido uma troca imediata de comando no batalhão da cidade.
 


 

Tudo começou por volta de 21h deste domingo (19). Ao comprovarem a denúncia de barulho e aglomeração, os policiais militares informaram, ao dono do imóvel, que a festa precisava ser encerrada. O vice-prefeito Antônio Athar (Bambueta, do MDB-PA) e o vereador Odirvaldo Avelar (PSDB, um policial militar reformado) estavam no local. 

VEJA O VÍDEO:

Com sinais de embriaguez, como relataram os policiais, Antônio e Avelar se recusaram a obedecer e incitaram as pessoas na casa a não parar a festa. Os ânimos foram se alterando até que os policiais deram voz de prisão por desacato e tentativa de agressão contra os servidores. Aparentemente, no vídeo, o vereador está com um ferimento na testa.

Na delegacia, o vereador seguia ofendendo os policiais aos gritos. Os PMs começaram a filmar a cena. Avelar dizia que eles eram autoridades e que a farda não oferecia nenhuma proteção aos policiais. O vice-prefeito então disse que queria prestar queixa contra os agentes e queria ser atendido primeiro. O servidor da Polícia Civil disse que ele não teria nenhum privilégio.

Entre as muitas ameaças, ambos diziam, afirmam os policiais militares, em relatos reservados, que iriam perseguir os PMs até que eles perdessem a farda. E que o sargento André, comandante do 74º pelotão do 8º Batalhão de Polícia Militar do Marajó Oriental, seria trocado por não intervir na história.

Ainda na noite deste domingo, o sargento teria recebido uma ligação do comandante do do 11º Comando de Policiamento Regional (CPR XI) e que ele iria ser transferido para o município de Santa Cruz do Arari. Seria para atender a um favor político de fazendeiros do município.

image Vereador diz aos policiais que a farda não dá proteção nenhuma. Aparentemente, ele tem um ferimento na testa. (Reprodução / WhatsApp O Liberal)

Sequência de "carteiradas"

 

Armando Brasil disse que os fatos são gravíssimos e comparou com o caso do desembargador paulista Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira, que na praia de Santos, desacatou um guarda municipal, chamando-o de "analfabeto". Ele dizia ser a autoridade e se recusava a usar máscara, como determinam decretos municipais e estaduais de São Paulo.

O caso ocorre na esteira de outra recente "carteirada", como uma mulher que diz que o marido dela não era cidadão, mas "engenheiro civil, formado, muito melhor" do que os agentes do Departamento de Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro. E o empresário de Alphaville, em São Paulo, que chama os policiais de "bosta", "lixo" e "merda" porque, naquele bairro rico, a polícia não tinha poder como nas favelas.

Além do inquérito para investigar a situação de Cachoeira do Arari, que envolve aparelhamento político da Polícia Militar, como o caso envolve um vice--prefeito e um vereador, Armando Brasil informou que irá acionar o procurador geral de Justiça, do MPPA, para investigar o caso também. Caso comprovado, o comandante do CPR XI poderá responder a processo na Justiça Militar.

Em nota, a Polícia Civil do Pará informou que "...neste sábado (18) foi registrada uma ocorrência de prisão em flagrante por desacato e resistência, na delegacia de Cachoeira do Arari. O suspeito, identificado como Ordival Avelar, foi liberado após pagamento de fiança. Quanto à troca no comando do Batalhão da PM, a Polícia Militar informa que não procede".

 

Vice-prefeito diz que PM foi truculenta e que vai "tomar uma atitude"

 

Por telefone, o vice-prefeito de Cachoeira do Arari, Antônio Athar (Bambueta, MDB-PA), afirmou que os policiais militares foram truculentos na ação. Ele confirmou que estava em uma festa, na casa de um homem que ele não identificou, quando a PM chegou. O vereador Odirvaldo Avelar estava lá e, por ser PM reformado, achou que conseguiria dialogar com os policiais.

"Chegaram com truculência, com arma na mão, apontando arma... espancaram o Avelar... foi uma barbaridade. Deram tiro pra cima. Não havia aglomeração e nem poluição sonora. Éramos oito pessoas e estávamos conversando. Mas está desse jeito aqui. O cidadão de bem está sendo espancado e a população está com medo da polícia e não de bandidos", disse o vice-prefeito.

Sobre denúncias de que teriam tentado intervir no comando do CPR XI, ele disse que era "mentira" e que não faria isso ou mesmo ameaçaria os policiais com "carteiradas", porque estavam muito alterados e ele temia pela própria segurança.

"Nesta segunda-feira (20), vamos ter uma reunião com o comando da polícia. Precisamos tomar uma atitude porque está demais. A violência precisa parar. Tenho muitas denúncias de cidadãos que foram agredidos pelo polícia. Eles já chegam batendo", concluiu Antônio.

O prefeito Jaime da Silva Barbosa (MDB-PA) disse que está em Belém desde quarta-feira (15), após uma morte na família. Mas confirmou que soube da história envolvendo o vice e o vereador. Porém, ainda abalado, preferiu não comentar.

O vereador Odirvaldo Avelar, que também aparece no vídeo, também procurou a reportagem para dar sua versão do caso. Segundo o edil, ele só chegou aquele estado após ter sofrido agressões e ameaças por parte dos policiais.

"Um soldado me deu um soco! Tenho três mandados de vereador, 28 anos como militar, e todos sabem da minha história. Essa equipe [da PM] veio de fora. Eu não sou contra a maneira de que eles atuam contra bandidos, traficantes, assassinos, mas como eles tratam pai de familia eu não admito. Tem que ter educação! Eu aprendi isso quando estava treinando para ser policial, que a polícia é uma referência de segurança", disse o vereador, que alegou em entrevista que várias pessoas em Cachoeira do Arari já relataram que foram vítimas de truculência policial por parte da guarnição da PM.

Segundo o vereador, os Policiais teriam chegado ao local já de forma agressiva. "Eu tava no meio da rua, naquela reunião com umas 13 pessoas, e fui me identificar. Mostrei a minha carteira de identidade civil, e o soldado disse que aquilo não valia de nada. Quando eu fui mostrar a identificação militar, ele desferiu um soco no meu rosto. A população toda gritou, dizendo que não precisava disso. Eu subi espontaneamente na viatura e fui pra delegacia", contou Odirvaldo Avelar, que disse ainda que foi destratado o tempo todo, incluisive, na delegacia.

O vereador, que disse ser sobrevivente de uma chacina que ocorreu em Santa Cruz do Arari em 1996, disse ainda que não queria tratamento especial por ter um cargo público, mas queria apenas o respeito que espera que a PM demonstre com qualquer cidadão, o que disse que não recebeu. O vereador disse ainda que realmente se reuniu com o comandante da Polícia Militar na região para cobrar um posicionamento sobre a ação que consideram truculenta e que vai realizar ainda uma audiência pública na câmara municipal.

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