Pará registra dois crimes por dia na malha fluvial nos primeiros quatro meses de 2023
Entre as ocorrências estão homicídio, latrocínio, roubos, sendo furto o com maior número de registros
Entre as ocorrências estão homicídio, latrocínio, roubos, sendo furto o com maior número de registros
De janeiro a abril deste ano, o Pará registrou 245 crimes na malha fluvial do Estado. Ou seja, foram duas ocorrências por dia nestes quatro meses. Apesar destes números, houve uma redução de 26% em relação ao mesmo período de 2022 (331 registros). Com relação aos 12 meses do ano passado, houve diminuição de 36,5% em relação ao mesmo período de 2021(1.588 casos). Em 2020 e 2019, no mesmo período, foram 1531 e 1827 casos. Dentre eles estão homicídio, latrocínio, roubos, sendo furto o com maior número de registros. Os dados foram divulgados pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup).
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Para alguns barqueiros, as noites e dias solitários, além da distância da família e dificuldade de comunicação não superam o medo de piratas. Eles são criminosos, que costumam agir fortemente armados abordando embarcações para roubar suas cargas e mantém tripulantes como reféns e, até mesmo, invadindo residências de ribeirinhos nas ilhas dos arredores de Belém. Por conta disso, alguns moradores se sentiram obrigados a fortalecer a segurança das casas, assim como portos do Estado. Em algumas situações, chegam a exigir pagamento para liberar as vítimas.
O marinheiro mercante Antônio Damasceno, 65 anos, conta a história da vez em que teve o barco invadido por piratas. Quatro anos atrás, ele ia de Belém a Anapu, sudoeste do Pará, buscar uma carga de madeira para fazer o transporte de volta à capital paraense. A viagem de carro para lá dura, geralmente, mais de 11h.
Nas proximidades de Breves, no Marajó, um pequeno barco se aproximou deles com, pelo menos, seis homens. Antônio estava tomando banho quando um dos outros cinco marinheiros que estava na embarcação o avisou que era um assalto. “Alguns subiram por trás e outros pela frente e nos renderam. Todos estavam armados e nos levaram para o fundo da embarcação. Levaram tudo o que puderam. Falaram que era para cumprirmos o que eles diziam para que nada de errado acontecesse. Pediram para não olhássemos para a cara deles, senão nos matariam. Levaram produtos que tinham no barco, 150 litros de óleo diesel e seis garrafas de óleo lubrificante. Um dos tripulantes pulou na água. Por sorte, um barco que vinha logo atrás conseguiu socorrê-lo. Graças a Deus, ninguém se feriu”, comenta o marinheiro.
Assim que chegaram no porto de Breves, Antônio chegou a procurar a polícia para denunciar o crime. No entanto, os militares teriam alegado que a embarcação “estaria sem óleo”, conforme o relato do idoso. “Levaram toda minha roupa. Fiquei só com a do corpo. Pensei: não vou ficar aqui (Breves) porque estou morrendo de medo”, diz.
Hoje em dia, Antônio trabalha em um porto que fica na avenida Bernardo Sayão, no bairro do Jurunas. Para ele, casos como esses, vivenciados por alguém que passa muito tempo trabalhando em viagens pelas águas paraenses precisam ser levados adiante. Mesmo após esses anos, a preocupação com piratas é a mesma. “É nosso ganha pão. Temos que dar nosso jeito. Pode acontecer a qualquer hora. Temos que aceitar”, comenta.
Em um porto localizado na avenida Bernardo Sayão, no bairro da Condor, em Belém, a todo momento atracam e partem embarcações transportando passageiros e mercadorias. Um barqueiro de 49 anos faz viagens diárias para a comunidade de Boa Vista, no Baixo Acará. Um percurso que dura em torno de 40 minutos. Pedindo para não ser identificado, ele chega em Belém às 7 da manhã e retorna às 11 horas.
Faz esse percurso há aproximadamente 20 anos e trabalha pela manhã. Ele contou que nunca foi vítima dos piratas. E que, até uns cinco anos atrás, era “perigoso” navegar nas águas entre Belém e o Baixo Acará, pelo rio Guamá. “Agora deu uma aliviada”, afirmou ele, que, a cada viagem, transporta em média de 20 a 25 passageiros. No entanto, ele afirmou ser mais perigoso navegar à noite, período do dia mais propício à ação dos assaltantes.
Ele contou que, no começo deste ano, um amigo dele foi vítima dos piratas. Estes invadiram a casa do ribeirinho, amarraram ele e as filhas, agrediram fisicamente a família e roubaram objetos pessoais e mercadorias. A ação criminosa ocorreu à noite, naquela região do Baixo Acará.
Ele afirmou que se sente seguro em navegar durante o dia, quando há um grande fluxo de embarcações e passageiros. “Eu me apego com Deus e vou trabalhar”, contou. Ele também disse que, “aqui e acolá”, vê a polícia (fluvial) no rio. E disse que, para dar mais segurança aos barqueiros e passageiros, a polícia deveria “ficar 24 horas no rio”. É que, agindo de forma ostensiva, a polícia fluvial inibiria a ação dos criminosos.
A reportagem também conversou com uma agricultora de 53 anos, que também faz viagens para o Baixo Acará. Ela vem a Belém para tratar de assuntos médicos e para fazer compras. Mas disse que evita viajar à noite. “Tenho medo”, contou. Só pega a embarcação à noite em “caso de vida ou morte”. A agricultora afirmou que, em época de grandes eventos, como no Círio, é mais frequente haver policiamento e fiscalização nos rios da região. “Tirando isso, nunca vi”, afirmou.
Um caso recente de roubo de mercadoria ocorreu no Alto do Rio Moju, nordeste paraense, no dia 18 do mês passado. Os envolvidos levaram cerca de duas mil toneladas de óleo de dendê, avaliados em R$ 10 milhões. Após nove dias do crime ter acontecido, agentes do Grupamento Fluvial de Segurança Pública (GFLU) e da Delegacia de Polícia Fluvial (DFLU) foram até uma empresa privada no distrito de Icoaraci e flagraram uma carreta bitrem carregada com 45 mil litros do óleo de dendê roubado. Diante do fato, o proprietário da empresa e uma funcionária responsável pela logística foram presos em flagrante e vão responder pelo crime de receptação qualificada.