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Idoso passa quase dois meses preso por ter o mesmo nome de assassino no Pará

Natalino Gomes da Silva, de 63 anos, foi absolvido nesta semana depois de ter sido acusado de matar um homem em 1997, em Belém. Na sentença, juiz reconheceu o erro judicial e disse que houve homonímia.

João Paulo Jussara
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O idoso Natalino Gomes da Silva, de 63 anos, ficou quase dois meses preso por um crime que não cometeu. Natural do Maranhão mas residente no município de Tomé-Açu, no nordeste do Pará, ele foi acusado por um homicídio ocorrido em 1997, em Belém. Natalino foi alvo de um mandado de prisão preventiva por ter o mesmo nome do homem que teria assassinado a vítima. Na última segunda-feira (23), ele foi absolvido da acusação. Na sentença que reconheceu o erro investigativo, o juiz Edmar Silva Pereira, titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca da Capital, pontuou que ficou comprovada a homonímia em relação ao nome do então réu e do real autor do delito.

O crime aconteceu na capital paraense há 25 anos. Na ocasião, um homem foi morto a tiros e o outro foi baleado, mas sobreviveu. De acordo com Davi Lira, advogado de Natalino Gomes, a polícia fez a investigação na época e chegou à conclusão de que o autor do homicídio era alguém conhecido como "Natal". "Certa vez, o Ministério Público pediu que fosse oficiado à Receita Federal e que ela informasse se existia alguém de nome Natalino, e ela informou a existência do meu cliente", explicou Lira.

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"De posse do nome completo dele e dos pais dele, foram feitas pesquisas, e descobriu-se que ele morava em Tomé-Açu. O processo começou a correr por revelia dele. O tempo foi passando, houve a instrução criminal, e o meu cliente nem sonhava que existia esse processo contra ele. Agora, no final do ano de 2021, ele passou quase dois meses preso, até que a família me contactou. Eu fui ao presídio, conversei com ele, e ele me contou que estava sendo agredido e humilhado", detalhou o advogado.

Davi Lira, então, afirmou que a acusação contra Natalino era gravíssima, e perguntou se ele realmente havia cometido o crime. Chorando, o idoso disse que não sabia porque aquilo estava acontecendo, que nunca havia morado em Belém, e que residiu a vida inteira em Tomé-Açu após vir do Maranhão. Lá, ele criou as filhas, casou e se estabeleceu, trabalhando por mais de 20 anos como marceneiro, de carteira assinada. Ele é conhecido na comunidade e depois da acusação, a esposa se separou dele, acreditando que o idoso realmente havia assassinado uma pessoa.

Depois de passar quase dois meses preso, houve uma audiência no último mês de abril, com a participação de testemunhas oculares do crime, que pela primeira vez ficaram frente a frente com o réu, e afirmaram que seria impossível que ele fosse o autor do homicídio, já que o criminoso era mais jovem que as testemunhas, era caucasiano e tinha uma tatuagem de escorpião no pescoço. As características não batiam com Natalino Gomes.

"Então foi forçoso que o juiz reconhecesse que a tese levantada pela defesa foi verdadeira, que o meu cliente foi vítima de uma investigação mal feita, porque prenderam ele com base em uma resposta a um ofício que foi feito. O meu cliente ficou mais de 30 dias preso por um erro investigativo, um erro judicial, e agora, nessa sentença, o estado teve que reconhecer que houve a homonímia. Inclusive, na própria sentença o juiz esclarece isso", detalhou Davi Lira.

Além de se separar da então esposa, que não acreditava que Natalino era inocente, ele ficou todo o tempo que esteve preso sem trabalhar, e precisou fazer uma coleta entre os familiares para poder arcar com os custos da defesa. Nesse período, ele teve depressão, chegou a sofrer preconceito de outros moradores da comunidade, e teve que se mudar da casa onde residiu durante mais de duas décadas. Além disso, de acordo com o advogado, ele foi humilhado dentro do presídio.

Davi Lira acredita que a forma como a investigação foi feita é que determinou a prisão injusta de seu cliente. "Porque eles não tinham um nome e sobrenome. A partir do momento que perguntaram à Receita Federal se existia algum Natalino no Pará, eles indicaram o meu cliente e passaram a dizer que foi ele quem cometeu o crime. É uma forma totalmente errada e preguiçosa de se investigar, que leva a erros judiciais terríveis", afirmou.

Agora, depois da absolvição, o advogado pretende entrar com uma ação de danos morais e materiais contra o Estado do Pará. "Porque o Estado perfaz um mecanismo investigativo de quem busca o culpado muito errôneo. E assim como foi com o meu cliente, deve haver várias pessoas inocentes presas, por investigações falhas. A gente conseguiu trazer justiça para ele, porque aos olhos de toda a comunidade, ele era um assassino", disse Davi Lira. "Com essa sentença, conseguimos trazer um pouco de dignidade para o seu Natalino".

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