Pandemia potencializa distúrbios do sono entre os paraenses

Estresse e ansiedade são algumas das causas. Especialistas relatam como amenizar os efeitos e ter mais qualidade de vida.

Cleide Magalhães
fonte

No Brasil, mais de 73 milhões de pessoas são atingidas pela insônia e 45% da população assume que dorme mal. Outra queixa mais comum entre os brasileiros com distúrbios de sono é o ronco e a apneia, segundo dados da Associação Brasileira do Sono.

Com a pandemia da covid-19, muitos dos distúrbios podem ser potencializados, uma vez que vários países vivem com o isolamento e distanciamento social para evitar a propagação da doença ocasionada pelo novo coronavírus. Essa mudança no cotidiano é capaz de alterar o sono de muitas pessoas, principalmente pelo sentimento de ansiedade e estresse, e pela sensação de medo da solidão e da morte.

O educador Marco Mota, 49 anos, que faz tratamento para asma, conta que há cerca de 20 anos tem problemas com insônia, mas nunca havia ficado até 36 horas sem dormir, como já ocorreu após o início da pandemia.

"Muitos anos antes da pandemia eu conseguia dormir quatro horas por noite e depois chegava a insônia. Mas conseguia lidar com isso. Mas agora fico até dois dias sem dormir. A falta de sono vem acompanhada da sensação de medo, de pegar a doença e até morrer. Estou em home office e sozinho na quarentena, pois minha filha, que é criança, está com os avós, em outro município. Então, tenho a sensação de que ela está no quarto e a cada 15 minutos vou lá ver", conta Mota.

Como ele é asmático e pertence ao grupo de risco, relata que sente medo e até a sensação de morrer sozinho. "É um sentimento horrível, que não me permite dormir, sinto muito sono e cansaço durante o dia, não me deixa trabalhar nem produzir direito, enfim, prejudica minha rotina", afirma o educador, que objetiva buscar ajuda médica logo que a quarentena passar.

O otorrinolaringologista José Roberto Capeloni, especialista em Medicina do Sono, explica que existem diversos distúrbios do sono, como os respiratórios do sono, aos movimentos durante o sono, do ritmo circadiano, a insônia e as parafonias. E que eles podem ou não estar relacionados à fatores genéticos, e interferem no tempo, na qualidade e na profundidade do sono das pessoas. Capeloni afirma que, nesse tempo da pandemia da covid-19, muitos desses distúrbios podem ser potencializados.

"Esse período da pandemia é um tempo em que, apesar de muita gente estar mais em casa e trabalhando em home office, as pessoas acabam tendo maior incidência de insônia, tristeza, ansiedade e depressão pelo isolamento exigido para que a doença possa passar, atenuando um pouco mais a pandemia. Então, por isso, vários desses problemas podem aumentar. Além disso, a convulsão por alimentos que reconfortem as pessoas acabam engordando e podem causar incremento maior nos distúrbios respiratórios, como as apneias, que têm relação forte com a obesidade", explica o especialista.

Ainda na opinião de Capeloni, a mudança no cotidiano das pessoas, de forma inesperada, também ajuda a aumentar os níveis de estresse ´- o que prejudica o sono. "As pessoas sempre falavam que precisavam de mais tempo para elas mesmas desacelerem. Então, chegou a pandemia e foi necessário desacelerar o ritmo de vida. Porém, essa desaceleração precisa ser gradual, mas ocorreu de forma abrupta e isso também gera ansiedade e estresse, e provoca distúrbios no sono. Além do medo que isso gerou pelas incertezas em relação à doença, que ainda é desconhecida e, mesmo para a Medicina, ainda há questões nebulosas. Isso acaba gerando intranquilidade na população", avalia.

Mesmo em home office, é importante não negligenciar a rotina de trabalho

Diante desse contexto de incertezas, Capeloni, que é coordenador do Ambulatório do Sono, do Hospital Bettina Ferro de Souza, do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Pará/Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, sugere que, mesmo na pandemia do novo coronavírus, uma das alternativas é alinhar a rotina do cotidiano com a psicologia do sono.

"Como muitas pessoas estão em home office e os horários não são cobrados, algumas tendem a acordar mais tarde ou dormir mais tarde, a trabalhar fora do horário normal de trabalho, das 8h às 18h, que, teoricamente, nas empresas elas seriam cobradas, começam a negligenciar essa rotina. E, na verdade, o sono, a qualidade do sono e de vida é rotina. A gente tem que ter rotina de trabalho, arrumar o ambiente de trabalho e fazer, mesmo em home office, no período em que foi pré-determinado na empresa, no trabalho que a pessoa tem, não levar isso para além do horário normal nem para a noite, exceto para quem trabalha em turnos", orienta o especialista em Medicina do Sono.

Também na pandemia outra orientação importante é a manter os horários da alimentação. "Precisa fazer uma alimentação melhor que fazia no trabalho presencial seguindo a hora do café da manhã, do lanche, do almoço, do outro lanche. Além dos 15 minutos de descanso que é de direito de fazer. Isso tudo ajuda com que não haja impacto grande na parte orgânica e, principalmente, hormonal, pois o ritmo circadiano (do dia a dia) vai realizar a circular todos os hormônios corporais", alerta o médico.

Outras alternativas para garantir boa noite de sono

Mesmo em casa, outra alternativa salutar é organizar e garantir alguns momentos de lazer. "Pode criar ambiente de relaxamento em casa, como manter um cantinho para isso, onde se possa também ouvir uma música, fazer meditação, trabalhar a espiritualidade, exercícios de respiração, assistir televisão ou aproveitar uma live", sugere o otorrinolaringologista José Roberto Capeloni, especialista em Medicina do Sono.

Essas atividades podem ser feitas após as 18h ou 19h, quando ocorrem os picos de melatonina, "que ajuda muito a desacelerar o organismo e propicia esvaziamento na cabeça e prepara para uma noite agradável de sono", recomenda. A melatonina é um hormônio produzido naturalmente pelo corpo humano e uma de suas funções básicas é a indução ao sono.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Pará
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

RELACIONADAS EM PARÁ

MAIS LIDAS EM PARÁ