No Dia Nacional do Orgulho Autista, comunidade reforça debate como caminho para inclusão

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), há 70 milhões de pessoas diagnosticadas com algum grau do Transtorno do Espectro Autista (TEA) no mundo, com 2 milhões delas no Brasil

Caio Oliveira

Na data em que se celebra o Dia Nacional do Orgulho Autista, a comunidade e instituições que apoiam pessoas com dentro do espectro querem usar a visibilidade dada ao tema em 18 de junho para tornar o autismo algo cada vez mais comum para a sociedade brasileira. Quando a data comemorativa foi instituída pelo Senado, em junho de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS), mostrava que haviam 70 milhões de pessoas diagnosticadas com algum grau do Transtorno do Espectro Autista (TEA) no mundo, com 2 milhões delas no Brasil. Um ano depois, especialistas acreditam que esse número cresceu consideravelmente, sobretudo, por conta do aumento dos números de diagnóstico, impulsionado pela divulgação do assunto.

“A data vem para a gente trabalhar a neurodiversidade. A inclusão social por meio do entendimento de que existem diversas pessoas dentro do espectro e que cada um vai apresentar características diferentes do outro”, detalha Karina Medrado, Especialista em Neuropsicologia. “Essa data serve justamente para informar a sociedade sobre o que é de fato o autismo. Hoje, ele é considerado um espectro: começa desde um nível leve, onde a dificuldade passa mais pela comunicação e interação social, até níveis mais moderados e severos”, explica Karina, que também é uma das administradoras do Instituto Casula que, atualmente atende mais de trinta crianças com autismo em Belém.

Além dessa instituição, na capital paraense, há várias clínicas e institutos voltados para as terapias necessárias que atendem tanto pelo SUS quanto por meios privados. O atendimento precisa ser multiprofissional, com psicólogos, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, pedagogo, neuropediatra, e demais especialistas, na chamada terapia global, já que o autismo é um transtorno que atinge várias áreas, caracterizado principalmente por: interações sociais únicas; formas não padronizadas de aprendizagem; forte interesse em assuntos específicos; inclinação para rotinas; dificuldades em formas típicas de comunicação e maneiras particulares de processar informações sensoriais.

Segundo Karina Medrado, quanto mais o tema é debatido e exposto, fica mais fácil que as pessoas neurotípicas - fora do espectro - vejam os autistas como membros valiosos para nossa sociedade, e nesse sentido, a mídia tem um papel determinante.

Recentemente, o bilionário Elon Musk, presidente das empresas Tesla e da SpaceX, revelou que tem Síndrome de Asperger, um tipo de autismo leve, em um programa de TV dos EUA. “Hoje, temos profissionais mais capacitados para lidar com autismo, e a sociedade está compreendendo mais sobre algo que,antes, não se falava muito. Existem pessoas que estão sendo diagnosticadas na fase adulta e que, por muito tempo, não eram compreendidas e não conseguiam se compreender. Entendendo mais sobre o transtorno, a gente consegue ter esse diagnóstico com pessoas na fase adulta e com crianças, com o chamado diagnóstico precoce, que é super importante. A gente já faz diagnóstico em bebês, crianças de doze meses”, finaliza Medrado.

Autistas merecem respeito de todos

O 18 de junho de 2021, Dia Nacional do Orgulho Autista, foi marcante para Giza Sousa Carmona, 27 anos, militar, casada e mãe. Ela se descobriu portadora do Transtorno do Espectro Autista (TEA) neste mês, já adulta."Essa data me representa, sim, porque, agora, toda a minha trajetória, tudo o que eu consegui conquistar, apesar das minhas dificuldades, é um orgulho muito grande. Eu posso me reconhecer como uma pessoa realizada, apesar de nada ser preparado para a gente, nada ter o cuidado de envolver quem é autista. Eu tive muita sorte", enfatiza.

Sobre como foi descobrir o TEA já na idade adulta, Giza responde que "foi uma libertação, porque toda a minha vida fez sentido, os meus problemas, as minhas dificuldades, que eram coisas que eu achava que eram defeitos meus, que era falta de capacidade minha, na verdade tem um nome, é uma condição, e eu me senti livre, finalmente, para ser eu mesma".

Giza não observa ainda muitas mudanças na rotina dela. Considera que a descoberta foi recente, mas está trabalhando para mudar, em casa, no trabalho, com os amigos. "Na verdade, um pouco já foi mudado, eu já não sinto tanta vergonha, já não me forço a olhar nos olhos de ninguém para conversar, não fico me perguntando se aquilo que eu digo está no contexto ou não, se está certo ou se está errado e não me culpo quando as pessoas não entendem, porque eu acho que também precisa de um pouco de esforço de quem é neurotípico para as coisas darem certo".

Giza conta nunca ter sido uma das pessoas que associação a condição à infância. Ressalta que, quando mais nova, conheceu algumas pessoas autistas, "e sempre soube que elas iam crescer; então, quem é criança cresce, tem que ter autista adulto". Giza conta que o apoio da esposa dela foi fundamental para obter o diagnóstico sobre o TEA, porque, como frisou, no meio do caminho pensou em desistir. "Poucas pessoas sabem mas conseguir um laudo de autismo, principalmente quando você é uma mulher, é muito difícil. Mulheres só conseguem laudo de autismo depois de adultas e isso é comum; geralmente, as mulheres que têm filhos autistas descibrem o autismo dos filhos e, por consequência, descobrem o seu", pontua. 

No trabalho de Giza a recepção à descoberta tem sido muito boa, mas tudo ainda é recente para se ter uma conclusão, como frisa; na família dela, no começo "foi um abalo, mas agora já está voltando ao normal". No Dia Nacional do Orgulho Autista, Giza Carmona deixa mensagem de que "autismo é uma condição clínica, a pessoa já nasce autista; então, nunca olhe para alguém que já tem o seu laudo confirmado ou que está confirmando ainda e diga: "Ah, mas você não parece", "Ah, mas não tem cara". Não existe cara, não existe um jeito, não existe um padrão de ser autista; autismo é um espectro, e as pessoas transitam dentro dele, e discriminar uma pessoa autista é errado".

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