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🏳️‍🌈 Mês do Orgulho: ONG promove ações de acolhimento a pessoas LGBTQIAPN+ vivendo com HIV/Aids

Coordenador da ONG Arte pela Vida, David Porteglio, fala sobre os estigmas do vírus HIV

Hannah Franco
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Dos mais de 200 milhões de habitantes do Brasil, cerca de 1 milhão de pessoas convive com o vírus HIV segundo dados do IBGE e do Ministério da SaúdeDavidson Porteglio é coordenador da ONG Arte pela Vida, que realiza ações de prevenção, informação, testagem e acolhimento para pessoas que vivem com o Vírus da Imunodeficiência Humana ou Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), principalmente entre a população LGBTQIAPN+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais/Transgêneros/Travestis, Queer, Intersexual, Assexual, Pansexual e Não-binários).

Como homem gay, David sente orgulho de fazer parte da organização. "Eu tenho muito orgulho de ser gay e me sinto extremamente feliz por estar em um projeto que me identifico, por trabalhar em prol do próximo. É exatamente onde eu queria estar", disse.

No Pará, foram registrados, em 2022, 1,2 mil casos de infecção, uma crescente quando se analisa a partir da última década: de 2007 a 2010, o número de registros foi de 831 casos de HIV no Estado. Os dados são do Boletim Epidemiológico de HIV/Aids, publicado em 2022 pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde. Trabalhar para mudar esse cenário é o maior objetivo da ONG Arte pela Vida.

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Trabalho social muda a vida de pessoas LGBTQIAPN+ que vivem com HIV

David conta que sempre teve o 'DNA do voluntariado', até pela educação que ganhou dos pais. "Minha mãe ensinou que a gente tinha primeiro que servir para depois se divertir e eu levo isso comigo até hoje". Ao lado de amigos, ele inaugurou uma casa noturna para o público LGBTQIAPN+ em Belém que durou 15 anos. Foi nessa época que David sentiu vontade de exercer um trabalho social fora do ramo de entretenimento. "Comecei a conhecer várias ONGs que me apresentaram o Comitê Arte pela Vida, que tem como pilares a dignidade e o respeito às pessoas que vivem com o vírus HIV, principalmente a população LGBT. Eu falei 'É aí que eu vou ficar' e eu devo estar chegando aos 25 anos nessa caminhada", conta o coordenador.

A ONG começou como comitê há 27 anos, quando um grupo de amigos decidiu se unir em prol de um artista que havia sido diagnosticado com HIV e precisava custear uma viagem para São Paulo, onde faria o tratamento. Os amigos realizaram um 'mega show' e conseguiram arrecadar o dinheiro necessário. David conta que eles perceberam uma procura muito grande de pessoas que também estavam passando pela mesma situação há quase 30 anos e precisavam de apoio.

"Ainda se acreditava que era uma doença voltada para o grupo LGBT, para o movimento gay, e a gente precisava descontruir isso. E assim começamos, através da cultura e da arte", disse.

Hoje em dia, a ONG Arte pela Vida trabalha pelos direitos humanos, principalmente às pessoas de extrema necessidade que vivem com o vírus HIV. "Nós trabalhamos imensamente com muitos projetos, dando apoio emocional às famílias e às pessoas, inclusive aos jovens de 14 a 29 anos. Nós não paramos nenhum dia", explica David sobre o trabalho diário do projeto, que conta com 120 voluntários. Entre as ações realizadas, a Arte pela Vida trabalha para arrecadar cestas básicas, medicamentos e itens básicos

image ONG Arte pela Vida conta com cerca de 120 voluntários atualmente. (Amanda Gaspar / OLiberal)

Hoje em dia, a ONG tem uma média mínima de 1.500 pessoas sendo atendidas aos domingos, dependendo da ação. "Às vezes nós atendemos muito mais. É uma extensão muito grandiosa, porque tem muita gente precisando", explica David. "Quando uma pessoa é positivada com HIV, muita das vezes não vem só a pessoa, vem um companheiro, vem a família, a mãe, o pai, vem toda a estrutura, porque às vezes ela é o principal pilar da família", ressaltou.

Pessoas que vivem com HIV podem precisar de todo apoio, como assistência social e acompanhamento psicológico. "Como é que você encara o teu irmão, a tua família, o teu pai e a tua mãe quando é diagnosticado com vírus HIV? É muito duro isso, por isso a ONG sempre tá preparada emocionalmente para abraçar, acolher essa família, acolher essa pessoa. Essa é a principal missão, o principal significado da ONG Arte pela Vida", disse.

Preconceito e desinformação afetam no diagnóstico do HIV

A epidemia da Aids já existe há mais de 40 anos, mas a falta de informação e estigmas sociais ainda são os principais obstáculos na hora de diagnosticar a doença. Ainda hoje, as palavras HIV e Aids são usadas como sinônimos, mas na verdade são condições diferentes: 

 

 

"As pessoas precisam ter conhecimento. O vírus HIV é tratado, tem medicação e pode ser indetectável. A pessoa só chega a ter Aids se ela não tiver o tratamento correto, porque aí vem as doenças oportunistas", ressalta David. "Trate seu HIV com amor, porque é ele que vai fazer você ficar bem. Não deixe seu HIV se transformar em Aids", alerta.

Ele diz ainda que as pessoas deixam de tratar o vírus por preconceito e medo da sociedade. De fato, segundo o programa das Nações Unidas Unaisds, 64,1% das pessoas que vivem com HIV/Aids já sofreram alguma forma de discriminação. A pesquisa é de 2019 e faz parte do Índice de estigma em relação às pessoas vivendo com a doença no Brasil. "É preciso que as pessoas não tenham medo e que a gente se desconstrua. O preconceito tem que ficar no final da fila e não no começo, porque se você não olha para essa discriminação e trata da sua saúde, você vai viver muito bem", acrescenta David.

Ações de inclusão auxiliam na redução do preconceito

A ONG Arte pela Vida trabalha para acabar com esse preconceito por meio de ações e inclusão. "Na ONG tem pessoas vivendo, tem pessoas não vivendo, tem artista, empresário, tem profissionais liberais, tem profissionais da saúde, é um projeto voluntário que quer mudar esse cenário, que quer lutar contra esse preconceito que mata as pessoas e que as leva ao anonimato", detalha.

Outro cenário recorrente é a transmissão através da gestação, quando a mãe que já vive com o vírus deixa de fazer o acompanhamento por conta do preconceito e julgamento da sociedade. "Tem casos que nos fazem pensar e nos chocam. Os que mais me deixam triste são as histórias de transmissão vertical, quando a mãe deixa de fazer o pré-Natal, deixa de fazer esse acompanhamento e a criança já nasce com o vírus HIV. Aí vocês já imaginam uma criança que veio ao mundo que já nasceu com o vírus HIV pelo medo, pela uma vergonha que a mãe sentiu de fazer o tratamento do vírus. Isso me choca muito como coordenador e como voluntário da ONG", diz David.

Uma das questões mais debatidas na luta contra a doença é acabar com a ideia de que pessoas com HIV/Aids ganham uma 'sentença de morte' ao serem diagnosticadas. David se emociona ao lembrar de um caso que marcou muito. "Um jovem de 18 anos, criado pela mãe, que sempre foi muito protegido, viaja sozinho pela primeira vez e tem sua primeira relação sexual, sem preservativo. Seis meses depois ele ouve 'burburinhos' de que a pessoa com quem se relacionou tem Aids. Então ele volta para Belém, faz a testagem para o HIV, dá positivo e ele se prepara para morrer", relembra o coordenador, pois o jovem não tinha o conhecimento do que era HIV e Aids. "Você já imaginou um absurdo desses pela falta da informação? A irmã então me liga pedindo ajuda e eu vi que a gente precisava cuidar desse caso com urgência. Resumindo, hoje ele está formado e vive bem, porque só o conhecimento leva à prevenção e ao cuidado", conclui.

 

 

A importância da prevenção e da testagem

Para tentar garantir a prevenção e uma vida saudável é preciso praticar o ato sexual de forma segura, conhecer o status sorológico do parceiro, buscar tratamento precoce (caso precise) e usar camisinha em todas as relações sexuais, seja ela interna ou externa, ainda é o método mais seguro e eficaz para a proteção contra o HIV e outras ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis). 

"Uma das melhores campanhas de prevenção é de que a pessoa tem que ter a conscientização do uso de preservativo, tanto masculino, como feminino. Você não consegue identificar se a pessoa tem uma IST pelo rosto, não existe beleza, você tem que se prevenir", ressalta David.

O diagnóstico precoce é fundamental, pois quanto mais cedo começar o tratamento, maior será a eficácia e menor será a chance da doença progredir para a Aids. Os testes estão disponíveis em unidades de saúde na Região Metropolitana de Belém, porém, caso não esteja preparado, a ONG oferece testes rápidos, que são autoexplicativos, além de ser um espaço de acolhimento para caso seja positivado.

David ressalta a importância de estar psicologicamente bem para realizar a testagem. "É muito importante que você esteja bem para não fazer loucuras e principalmente não achar que é o fim do mundo caso dê positivo", disse o coordenador.

A ONG Arte pela Vida distribui diariamente preservativos e testes rápidos de HIV na sede, localizada no Mercado Municipal de Carnes Francisco Bolonha, sala 33 no segundo piso

image A ONG e Loja Sustentável Arte Pela Vida fica localizada no Mercado de Carne Francisco Bolonha, no Ver-O-Peso. (Amanda Gaspar/OLiberal)

Apesar dos obstáculos, David se mantém otimista sobre o futuro e o avanço da medicina. "Eu espero que a gente esteja próximo de chegar a uma vacina de cura, de todo um trabalho que a medicina tá lutando nesses 40 anos. Já perdemos muitas pessoas brilhantes", lembra o coordenador. "Mas não há como mudar esse cenário sozinho. A sociedade tem que se perguntar: 'Sou empático com aquela pessoa? Como é o meu acolhimento com aquela pessoa?'. Só mediante esse questionamento nós vamos poder mudar esse cenário do estado do Pará", conclui.

 

Veja onde fazer o teste de HIV em Belém

Casa Dia

Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, 3371 - Bairro da Sacramenta
Telefone: (91) 3264-0517
Horário de Atendimento: Segunda a Sexta, 07h às 17h.

CTA - Casa de Testagem e Aconselhamento

Endereço: Travessa Rui Barbosa, 1059 - Bairro do Nazaré
Telefone: (91) 98568-4435
Horário de funcionamento: 7h às 12h ( coleta de exame até as 11h) e das 13h às 18h ( coleta de exames até as 16h)

Quer aprender mais sobre as pessoas LGBTQIAPN+? Assista o vídeo.

*(Hannah Franco, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Tainá Cavalcante, editora web de OLiberal.com)

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