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Entidades relacionam resultado de eleições a aumento da violência no campo

Comissão Pastoral da Terra diz que clima favorece crimes, discursos de ódio e ameaças a direitos

Cleide Magalhães

A coordenação nacional da Comissão Pastoral do Campo e outras entidades brasileiras relacionam o aumento de crimes no campo em todo o País com os recentes resultado das eleições presidenciais de 2018. É o que afirma o padre Paulo Joanil da Silva, coordenador da Regional Pará da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Este sábado de manhã, após a notícia do assassinato de Gilson Maria Tampone, com três tiros à queima roupa, em Rurópolis, a entidade decidiu que ainda não vai se pronunciar sobre os crimes no Estado, em respeito às famílias e também para proteger lideranças e outros familiares que seguem sendo ameaçados de morte em todo o Pará.

Gilson Tampone, conhecido como Mineiro, liderava três assentamentos rurais em Placas, no Baixo Amazonas. Na última quinta, outro agricultor, Cleber Oliveira, foi morto em Santa Bárbara, em frente à família.

“No período pré e pós-eleitoral do segundo turno, houve um acirramento na violência contra os trabalhadores rurais, indígenas e quilombolas. O latifúndio está entendendo que o crime agora tem um cenário favorável para eles. Então matam, perseguem e destroem direitos, porque se sentem amparados pelo novo governante", afirma o coordenador regional da CPT no Pará, padre Paulo Joanil.

Segundo a CPT no Pará, esse clima propocia a "disseminação do ódio, incentivo às armas e à expulsão de indígenas de seus territórios", o que gera muita preocupação com as tensões no campo. "Isso é uma análise de conjunta, feita por vários analistas sociais, pesquisadores e entidades. Rezemos e trabalhemos para que os direitos sejam respeitados e os trabalhadores não sejam mais massacrados”, afirmou o coordenador da CPT Pará.

ASSASSINATOS

De acordo com dados da CPT, em todo o ano de 2017, foram assassinadas 71 pessoas no campo no Brasil. No Pará, foram 22 vítimas. A média de homicídios relacionados a conflitos por terra chega a um morto a cada quinze dias no Estado - e seis a cada mês no Brasil. A estatística é do estudo "Conflitos no campo Brasil 2017", um trabalho anual da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em mapear a violência nas zonas rurais do país.

O número de assassinatos só foi pior em 2003, quando ocorreram 73 casos. Só em 2017, mais de 11,8 mil famílias foram atingidas por 111 conflitos rurais em todo do Pará, estima a CPT.

Entre as vítimas do ano passado, aponta o estudo da CPT, estão 33 trabalhadores sem terras, 12 posseiros, 11 quilombolas, seis mulheres, seis indígenas, quatro assentados, três aliados, um ribeirinho e um pescador. Considerando os 1.431 conflitos registrados no Brasil em 2017, a média é de um homicídio a cada 20 conflitos.

A preocupação da CPT é que o número de assassinatos tem crescido: em 2016 foram 61 homicídios, enquanto que em 2015 foram 50 e 36 em 2014. Só que a violência no campo compõe outras estatísticas. No Brasil, em 2017, foram registradas 120 tentativas de assassinato, 226 ameaças de morte, 137 pessoas agredidas fisicamente e seis casos de tortura. Tudo isso foi praticado contra trabalhadores rurais, ligados ou não a movimentos sociais. Algumas vítimas eram empregados em busca de direitos, como um salário atrasado.

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