Entidades paraenses anseiam pela criminalização da LGBTfobia
STF julga nesta quarta-feira se a LGBTfobia deve ser considerada crime no Brasil

Apesar de ser o país que mais mata LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) no mundo, nenhuma violência que é perpetrada em função da orientação sexual ou da identidade de gênero é tida, hoje, como crime no Brasil.
Isso pode começar a mudar nesta quarta-feira, 13, data em que o Supremo Tribunal Federal (STF) irá julgar a criminalização da LGBTfobia. A grande expectativa do movimento LGBTI, que luta para que a LGBTfobia se torne um crime no país, é que a criminalização seja aprovada e que o crime de LGBTfobia passe a ser equiparado ao crime de racismo.
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Psicólogo e gerente da Gerência de Proteção a Livre Orientação Sexual (Glos) da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), Rafael Ventimiglia destaca que atualmente, sem a criminalização, "quando um LGBTI chega na delegacia para fazer uma denúncia, o delegado instaura um inquérito, faz um procedimento para apurar o fato, mas baseado no que é tipificado em lei". "Hoje, se uma mulher transexual, por exemplo, leva uma garrafada na cabeça por sua identidade de gênero, a delegada não tem como tipificar como crime de LGBTfobia, então ela vai tentar encontrar algo que seja equiparado à violência sofrida, que seria lesão corporal ou tentativa de homicídio" explica.
Ele ainda ressalta que, atualmente, "nenhum dos crimes contra a população LGBTI é tido como crime de fato, logo, não tem como tipificar, por não ter, ainda, uma legislação que abrange isso".
CONSEQUÊNCIAS DA NÃO CRIMINALIZAÇÃO
Para Ventimiglia, a falta de criminalização prejudica, principalmente, a implementação, ampliação e manutenção de políticas públicas, sobretudo de segurança para essa população. "Se a gente for fazer um parâmetro com o caso das mulheres, que existe a lei Maria da Penha, quando precisa de dados estatísticos para cobrar medidas do governo, esses dados existem, porque existe a lei, então tem como pedir ações de enfretamento, porque temos dados que corroboram com a nossa solicitação. Para a população LGBTI é diferente. A gente não tem esses dados para que a segurança pública possa repassar ou trabalhar junto com o poder executivo" avalia.
O gerente da Glos garante que há fortes expectativas para que a criminalização seja aprovada. "Talvez esse processo não termine hoje, porque algum ministro pode pedir vista (mais tempo para analisar os processos), mas a gente acredita que a criminalização será, sim, aprovada".
Ele ainda considera que, se aprovada, a criminalização deve impactar diretamente na diminuição de casos de homofobia e transfobia no Brasil. "A impunidade dá força para que essas pessoas continuem a cometer tais atos contra LGBTs. Quando você criminaliza, você faz com que eles pensem antes de cometer algo, pois sabem que terá punição grave, severa" opina.
Mulher transexual, militante da causa e coordenadora da Rede Paraense de Pessoas Trans (Reppat), Isabella Santorinne, 28, também afirma que as expectativas para o julgamento desta tarde são as melhores. "Estamos esperando que a criminalização seja aprovada para que o número de assassinatos e violência contra LGBTs diminua" diz, ao destacar que "mais do que um aumento de pena, isso possibilita que esses agressores, essas pessoas que fazem isso com a nossa população, sejam julgadas e presos em decorrência do crime que ela cometeu".
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"Os movimentos sociais pedem a criminalização de todas as formas de ofensa, individuais e coletivas, homicídios, agressões e discriminações motivadas pela orientação sexual e/ou identidade de gênero, real ou suposta, da vítima" conclui a coordenadora da Reppat.
O julgamento que discute a criminalização da LGBTfobia está marcado para às 14h desta quarta-feira e há a possibilidade de se estender por mais de um dia.
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