CRM-Pará lança canal de denúncia para computar casos de médicos vítimas de violência

“A maior demanda que tem é a agressão verbal, sofrida diariamente pelo médico dentro do seu local de trabalho”, diz a presidente do CRM-PA, Tereza Cristina

Dilson Pimentel

O Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) lança, nesta segunda-feira (22), o “SOS Médico”, para que a categoria denuncie ameaças e agressões sofridas no ambiente de trabalho. Segundo a presidente do CRM-PA, Tereza Cristina de Brito Azevedo, os médicos que atendem na rede pública e no setor privado não se sentem seguros no exercício da profissão.

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Eles são vítimas, principalmente, de agressões verbais. A própria presidente do CRM-PA foi vítima desse tipo de violência, em 2023, e registrou um boletim de ocorrência. “A maior demanda que tem é a agressão verbal, que sofre diariamente o médico dentro do seu local de trabalho”, disse. Isso ocorre pela falta de segurança, pela falta de estrutura, de insumos, de equipamentos e de medicação.

“Você tem uma demanda muito pequena de médicos atendendo, principalmente na área pública, e uma demanda muito grande de atendimento. Às vezes atende 75 pacientes durante 12 horas. É inadmissível”, contou.

O “SOS Médico” é um canal de comunicação para dar orientações aos médicos sobre como devem agir nesses casos de violência. A categoria não registra ocorrência policial. Muitos temem formalizar e acabar perdendo o emprego. Por isso os números são baixos.

De 2021 a 2023, foram formalizados, no CRM, apenas cinco casos de agressão verbal. “Esses números não refletem a realidade”, afirmou a presidente Tereza Cristina. O SOS, que vai ficar hospedado na página do CRM, também vai permitir criar uma estatística sobre essas ocorrências. A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) informa que não tem uma estatística específica de violência contra profissionais de saúde só por conta da profissão que exercem.

image O CRM-PA lança, nesta segunda-feira (22), o “SOS Médico (Igor Mota/O Liberal)

A médica Tereza Cristina diz que essas agressões são motivadas pela falta de condições necessárias para os profissionais exercerem suas atividades a contento. “Está faltando o insumo, está faltando algum aparelho que quebrou. E aquele paciente chega com situações pessoais também. Ele está com um filho pequeno e não está resolvendo, e desconta naquele que está à frente. E o médico ouve muita agressão verbal”, disse. “Isso eu posso te dizer porque eu sofri. Eu e uma colega no plantão sofremos agressões verbais. Então eu sei o que é isso. Eu tiro plantão. A gente fica à mercê. Eu tenho muito receio”, contou.

Nesses ambientes de trabalho, não há segurança, pois, na maioria dos casos, os vigilantes não usam arma de fogo. “Então, a equipe de saúde, de um modo geral, não só o médico, fica à mercê da própria sorte”, afirmou ela, que tira plantão na rede privada. Ainda segundo a médica Tereza Cristina, a demora no atendimento irrita o paciente. “Mas não é que não tenha médico. A demanda é muito grande. Aí o que acontece? Eles começam a falar alto, gritar, tem uns que quebram o vidro”, contou.

85% da categoria de enfermagem é formada por mulheres

A mesma realidade é enfrentada pelos profissionais de enfermagem, diz o presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Pará (Coren-PA), Antônio Marcos Freire, em que 85% da categoria é formada por mulheres. “Certamente essa relação de trabalho, num mundo que a gente ainda tem que é muito machista, acaba realmente trazendo informações do dia a dia de que essa violência contra os trabalhadores de enfermagem existe de forma considerável”, disse. Os registros não são oficiais, porque os casos não são formalizados.

“Elas não trazem informação oficial para nós, com elementos, para que possamos fazer a intervenção e combater esse tipo de mal contra a nossa profissão”, afirmou. Antônio Marcos disse acreditar que a Lei Maria da Penha inibiu, e muito, esses agressores. “Mas a agressão tem sido muito no campo verbal”, afirmou. O presidente citou principalmente os contratos em que há uma instabilidade das relações de trabalho. “A gente percebe que os gestores, aqueles que têm um poder hierárquico superior a esses profissionais, acabam ultrapassando os limites da boa relação e causam essas doenças.

É que, à medida que eles ofendem, e fazem esse tipo de comportamento agressivo, acabam prejudicando a saúde desses trabalhadores. A gente tem feito campanhas a nível nacional, em parceria com o Conselho Federal de Enfermagem, no sentido de orientar cada vez mais aos trabalhadores para que identifiquem de imediato qualquer tipo de agressão que possa levar a um estado extremo”, afirmou.

Há, também, o canal da Ouvidoria do Coren-PA, que está disponível para que o profissional que se sinta agredido possa, se não tiver condições de ir à sede, ou não tiver coragem de denunciar um ato que praticaram com outro colega, encaminhar informações suficientes para que sejam adotadas as devidas providências.

“E é importante ressaltar que, nesse item, a gente precisa de dados concretos, para que a gente tenha condições de agir. E há a opção direta de ir ao Conselho Regional, marcar com um dos conselheiros que fazem parte do plenário para que possam conversar e ver de que maneira a gente pode ajudar no sentido de combater esse tipo de violência”, afirmou.

O presidente Antônio Marcos Freire citou as dificuldades naturais da profissão: condições desfavoráveis de infraestrutura, jornadas extensas, salários que não são condizentes com a importância do trabalho realizado. “Queremos que os trabalhadores superem isso com um bom ambiente de trabalho, respeito, dignidade. É isso que nós estamos procurando desenvolver, implantar e vamos continuar fazendo em nome da categoria de enfermagem”, afirmou.

image Enfermeira Aline Dias, que trabalha em Belém (Thiago Gomes/O Liberal)

Enfermeira foi agredida em seu local de trabalho, em Belém

A enfermeira Aline Dias, 43 anos, que trabalha em Belém, conta que já foi agredida física e verbalmente. Isso ocorreu quando coordenava um posto de vacinação de covid-19 em faculdade particular. “Naquele período a vacinação estava designada ao público portador de comorbidades restritas e as listagens eram liberadas conforme portarias federal e municipal. Porém muitas pessoas tentavam burlar as designações apresentavam documentos que não eram aceitos”, disse.

“Quando eles recebiam as orientações, se voltavam contra os profissionais de muitas formas. Fui agredida com palavras de baixo calão, empurrões. Algumas pessoas que se diziam ‘autoridades’ governamentais solicitaram meu nome e crachá e diziam que “me colocariam em meu lugar’”, afirmou. Ela contou que, mesmo assim, procurou ser ética e profissional. “Sempre mantive postura e estava amparada pelas portarias que liberavam o público a ser vacinado. Porém, algumas vezes tive que acionar a Polícia Militar e a Guarda Municipal que, em muitos momentos, foram nossos parceiros e de presença fundamental para controlar ânimos muito exaltados”, contou.

Atualmente Aline trabalha dentro de uma instituição hospitalar, onde o acesso de pessoas é controlado, o que proporciona a ela um pouco mais de segurança. “O que não impede de, algumas vezes, ser desrespeitada por algumas pessoas que exigem condutas fora dos protocolos. E que, quando recebem uma negativa, se voltam principalmente contra o profissional de enfermagem. Que é o profissional mais próximo e que convive mais com os pacientes”, afirmou. Para dar mais segurança aos profissionais de saúde, Aline disse que ajudaria bastante se existissem leis para punir, com mais rigor, quem agredir profissionais de saúde, no exercício de sua função.

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