Paraense que se juntou ao Estado Islâmico retorna ao Brasil após nove anos
Em abril de 2016, Karina saiu de casa dizendo que faria um trabalho da faculdade e desapareceu
A paraense Karina Aylin Rayol Barbosa, de 28 anos, voltou ao Brasil nesta quarta-feira (27), após passar nove anos no Oriente Médio. Ela é considerada pelas autoridades a única brasileira ainda viva que integrou o Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque. O caso tem repercussão internacional e volta a colocar Belém no centro de uma das maiores histórias de aliciamento do grupo terrorista.
Karina desembarcou no Aeroporto de Guarulhos (SP) em um voo vindo de Damasco, com escala em Doha, no Catar. A repatriação foi acompanhada por agentes da Polícia Federal e diplomatas brasileiros. Junto com ela retornou o filho de sete anos, fruto do casamento com um combatente do EI. Antes de se reunir com a família, a jovem prestou depoimento à PF.
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De estudante em Belém à guerra na Síria
Nascida e criada em Belém, Karina era estudante de jornalismo da Universidade Federal do Pará (UFPA) e sonhava em ser comentarista esportiva. Em abril de 2016, saiu de casa dizendo que faria um trabalho da faculdade e desapareceu.
A investigação da PF revelou que ela embarcou primeiro para São Paulo e, em seguida, para Istambul (Turquia). De lá, atravessou por terra até Aleppo (Síria), onde passou a viver no califado do Estado Islâmico.
Durante esse período, o EI chegou a dominar uma área do tamanho do Reino Unido e impôs uma rígida estrutura de poder a milhões de pessoas. Karina viveu boa parte de sua trajetória em Raqqa, a capital simbólica do grupo.
Conversão em Belém e redes de aliciamento
De família católica, devota de Nossa Senhora de Nazaré, Karina não tinha descendência árabe nem ligação prévia com o islamismo. O primeiro contato ocorreu em 2014, quando passou a frequentar cursos de árabe ministrados pelo marroquino Saif Mounssif, então imã do Centro Islâmico Cultural do Pará e professor da UFPA.
Pouco depois, converteu-se e começou a participar das atividades da mesquita de Belém. Investigações da PF apontam que a jovem foi atraída por redes internacionais de aliciamento, que exploravam propagandas nas redes sociais e contatos em mesquitas.
Impacto e repercussão
O retorno da paraense reacende o debate sobre como jovens brasileiros foram seduzidos pela propaganda terrorista e os riscos de redes de aliciamento ainda ativas. Para especialistas, o caso é simbólico porque mostra que até mesmo uma estudante universitária de Belém, sem histórico familiar ligado ao islamismo, pôde ser atraída para um dos grupos mais violentos da história recente.
Karina e o filho agora estão sob acompanhamento das autoridades brasileiras. O futuro da paraense que passou quase uma década no Oriente Médio ainda é incerto, mas o episódio marca profundamente a história recente do Pará.
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