Estudantes de Marabá criam armadilha sustentável contra mosquitos
Alunos do IFPA de Marabá o Projeto EcoLuz Trap e conquistam vaga entre os dez finalistas do Solve for Tomorrow Brasil, da Samsung
Com a chegada do inverno amazônico, as chuvas aumentam o número de mosquitos (ou carapanãs, como são conhecidos na região). Mas o problema não se limita a esse período: os insetos estão presentes o ano todo e continuam sendo um desafio para a saúde pública na Amazônia. Pensando em reduzir os riscos de doenças e criar uma solução acessível, estudantes do Instituto Federal do Pará (IFPA) do Campus Industrial de Marabá desenvolveram uma armadilha luminosa sustentável, feita com materiais recicláveis e sem uso de inseticidas.
O projeto, chamado “EcoLuz Trap – Tecnologia de Baixo Custo contra Vetores na Amazônia”, foi selecionado entre os dez finalistas da 12ª edição do Solve for Tomorrow Brasil 2025, iniciativa da Samsung que reconhece propostas inovadoras de estudantes da rede pública.
A iniciativa se alinha aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente o ODS 3 (Saúde e Bem-Estar), e reforça o papel da juventude amazônica na criação de soluções locais para desafios ambientais, tema que também está em destaque na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém.
Solução simples e de baixo custo
A equipe, formada por cinco estudantes do curso técnico em Controle Ambiental — Wilian Saraiva Silva, Cleiton Santos Costa, Lucyellen Carvalho Neres, Maria Clara de Souza Lima e Yane Katlen da Silva Lima — sob orientação do professor Riguel Feltrin Contente, criou um modelo que usa garrafas PET, luzes de LED azuis e ventiladores reaproveitados. A luz atrai os mosquitos, que são "sugados" e presos dentro do recipiente, sem uso de produtos químicos ou alto consumo de energia.
A ideia surgiu de uma experiência doméstica. Riguel conta que o ponto de partida foi um teste feito em casa. “A ideia surgiu em casa. Meu filho tinha um ano e sofri com o problema dos mosquitos. Pensei em usar inseticida, mas ele tem asma, e não era uma alternativa boa. Comecei a pesquisar armadilhas luminosas na internet e encontrei uma que funcionou muito bem. Então pensei: ‘Por que não adaptar isso para as casas das pessoas?’”, contou.
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A partir dessa experiência, ele levou a proposta aos alunos do IFPA. “Os estudantes relataram que a maioria mora em áreas periféricas de Marabá, onde o problema com mosquitos é muito recorrente, o ano inteiro. Então pensei que seria uma oportunidade de desenvolver um dispositivo de baixo custo, que usasse a luz para capturar os insetos, sem expor ninguém a produtos químicos”, explicou.
O professor, junto com outros docentes e técnicos do IFPA, decidiu aprimorar o conceito com materiais recicláveis.“Essa armadilha que comprei na internet custava cerca de R$ 100, hoje está em torno de R$ 120. É caro. Então buscamos reduzir o custo ao máximo. Conseguimos montar tudo com cerca de R$ 20”, relatou o professor.
Segundo Riguel, o objetivo era criar uma solução segura e acessível, sem exposição a produtos químicos e capaz de reduzir a presença de mosquitos em ambientes domésticos e urbanos.
A proposta também nasceu da observação da proliferação de mosquitos transmissores de dengue, zika, chikungunya e leishmaniose, doenças que também preocupam durante o resto do ano. O EcoLuz Trap se apresenta como uma alternativa simples e de baixo custo às armadilhas elétricas vendidas no mercado.
Inovação amazônica ganha destaque nacional
Desenvolvido com base no método STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), o projeto mostrou desempenho próximo ao de equipamentos comerciais, reforçando sua eficiência e potencial social. A equipe participará agora da fase de Mentoria para Finalistas, com acompanhamento técnico on-line e aprimoramento do protótipo antes da apresentação final.
Após a construção dos primeiros protótipos, vieram os testes. “A estrutura é simples, mas muito eficiente. A luz azul atrai os mosquitos e o ventilador, que é bem forte, consegue capturar uma quantidade grande. Os resultados foram surpreendentes”, contou Riguel.
“Agora estamos testando a eficiência das armadilhas. Construímos várias e estamos fazendo a contagem de mosquitos capturados. Também estamos comparando lâmpadas de cores diferentes — vermelha, verde, azul —, de forma mais sistemática, para uma análise estatística. Temos até uma estação meteorológica para cruzar os parâmetros ambientais com as capturas”, completou.
Mais do que um projeto de laboratório, o EcoLuz Trap tem caráter educativo. Os estudantes realizam oficinas e ações comunitárias para ensinar moradores a construir suas próprias armadilhas e discutir a importância do controle de vetores e da reciclagem.
Jovens aprimoram o projeto e se destacam na competição
Após a fase de mentoria do Solve for Tomorrow Brasil, o grupo aprimorou o projeto e desenvolveu novas soluções para ampliar o alcance da armadilha. Um dos avanços foi a criação de um circuito feito com base de papelão, alternativa pensada para comunidades com poucos recursos técnicos ou financeiros.
Segundo os estudantes, a placa de papelão é o componente responsável por ligar a armadilha à energia elétrica e alimentar os LEDs e o ventilador, parte essencial do funcionamento do equipamento. Além de eliminar a necessidade de soldas, o novo modelo mantém a eficiência da versão original e pode ser montado com materiais simples e reciclados.
“O que a gente mais quer é reduzir a proliferação de insetos que causam doenças e, ao mesmo tempo, promover a reciclagem. A armadilha é feita com materiais que seriam descartados de forma incorreta no meio ambiente. A gente deu uma nova utilidade a eles para promover saúde e cuidar do nosso meio ambiente”, contou Maria Clara.
Para Cleiton Costa, o projeto também representa uma resposta social em um contexto de vulnerabilidade. “Em 2024, a gente teve a maior crise epidemiológica das Américas. Então pensamos: como as pessoas, principalmente das periferias, poderiam se proteger da exposição a esses vetores? A armadilha é um método eficiente que causa impacto social e na saúde”, afirmou.
Orgulho e reconhecimento
A participação na final nacional foi uma experiência marcante para o grupo. “Foi gratificante, foi incrível. Acho que a sensação não cabe em palavras”, disse Yane Katlen. “A gente já ficou muito feliz quando entrou entre os 20 melhores, e agora estar entre os 10 é algo único.”
Na etapa final, cada estudante recebeu um smartphone Samsung como reconhecimento da participação. “Desde o início eu já tinha me interessado pela armadilha. Só de fazer parte desse projeto eu já fiquei muito feliz”, contou Lucyellen Neres. “Mas, como já diria um sábio: 'O que mais vale é o conhecimento'.”
“A melhor parte é saber que a gente está podendo levar nossa ideia para um espaço onde vai ter reconhecimento e ajudar pessoas com isso”, acrescentou Maria Clara.
Representatividade e incentivo à educação
Os estudantes também destacaram o sentimento de representar o Pará e a Amazônia no cenário nacional. “Infelizmente, o IDH do Pará ainda é muito baixo na educação. A culpa não é dos professores nem dos alunos, é do sistema. Mesmo assim, a gente luta. Representar o Norte e mostrar que, mesmo com poucos recursos, a gente consegue chegar longe é uma honra enorme”, disse Lucyellen Neres.
Emocionada, uma das integrantes deixou uma mensagem de incentivo aos jovens que sonham em seguir o mesmo caminho. “Não desistam dos estudos. Às vezes a gente pensa que não vale a pena, mas vale. Cada esforço e cada vontade de chorar se transformam em aprendizado. A ciência não é só para cientistas, é para todos, e qualquer um pode fazer ciência”, afirmou.
Orgulhoso da trajetória da equipe, o professor Riguel Feltrin fez questão de destacar o papel dos estudantes na construção do projeto. “Desde o começo, esse projeto foi introduzido pelos alunos. Eu fui mais um facilitador. Eles vieram com as ideias, eu trouxe uma semente, mas quem regou e fez a planta crescer foram eles”, disse.
Para ele, o maior resultado vai além do prêmio. “O mais importante no ensino público é trazer o aluno para a pesquisa. Quando isso acontece, ele melhora o desempenho acadêmico, não evade, e encontra motivação. O mais gratificante é ver o sorriso desses meninos, felizes, com garra e energia. Isso é o que me motiva.”
Sobre a premiação
A Samsung anunciou os dez finalistas da 12ª edição do Solve for Tomorrow Brasil, programa de cidadania corporativa realizado em parceria com o Cenpec. A iniciativa estimula estudantes e professores da rede pública a desenvolverem soluções inovadoras com base na metodologia STEM.
Nesta edição, as regiões Nordeste e Norte se destacaram entre os finalistas, com o Pará liderando em número de projetos, representado por equipes de Marabá e Mãe do Rio. A sustentabilidade é o tema central da edição de 2025, que também aborda saúde e construção civil.
Desde 2014, o programa já envolveu mais de 185 mil alunos e 8 mil escolas públicas em todo o país. Os três vencedores nacionais receberão prêmios tecnológicos da Samsung, como notebooks, tablets e televisores para as escolas participantes.
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