Doação de órgãos ajuda a salvar vidas e reduz fila de espera para transplantes de órgãos no Pará
São mais de 230 transplantes realizados de janeiro a junho de 2025
De janeiro a junho de 2025, o Pará alcançou um marco significativo de transplantes, de acordo com a Secretaria de Saúde do Pará (Sespa). Neste período, foram feitos 231 procedimentos cirúrgicos que consistem na reposição de um órgão, como rim, córnea e fígado, por exemplo. Entre esses, destacam-se, nessa ordem, os transplantes de córnea (178), rim (33), medula óssea (14) e fígado (6).
A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) destaca que esse cenário positivo na área de transplantes resulta do esforço da rede pública de saúde no Pará, que oferece assistência integral e gratuita aos pacientes. O governo estadual tem feito investimentos contínuos para aprimorar os serviços, já alinhados ao modelo nacional de transplantes.
A Fundação Santa Casa do Pará já realizou 22 transplantes de fígado, com sobrevida superior à média nacional, desde o início no ano de 2023, quando iniciou o procedimento com o transplante de fígado no Pará, enquanto instituição pública.
Expansão dos procedimentos cirúrgicos
Em 2019, a Santa Casa expandiu o serviço para os transplantes renais pediátricos. Desde então, 39 crianças e adolescentes já passaram pelo procedimento. Atualmente cerca de 15 pacientes renais pediátricos aguardam pelo transplante no Hospital.
A primeira cirurgia de transplante de fígado, na Santa Casa, aconteceu em 26 de fevereiro de 2023, e beneficiou a assistente social Ana Gabriela Mesquita Alves (na época com 42 anos). O transplante foi um sucesso graças a dedicação profissional das equipes de captação e da área cirúrgica envolvidas. O fígado foi implantado na paciente, que tinha o diagnóstico de hepatite autoimune.
Ana Gabriela desenvolveu cirrose hepática, doença incurável, e só um transplante poderia salvar sua vida. Na época, ela estava inscrita na fila de transplante de fígado, e recebeu o órgão, por causa do gesto solidário de um casal que autorizou a retirada dos órgãos da filha de 14 anos, que faleceu devido a um acidente vascular encefálico (AVE).
Doação beneficia pacientes que sofrem de doenças graves
“Foram anos doente, dentro de hospitais e UTIs. Até fui para Fortaleza (CE) tentar o transplante, mas não consegui e voltei para Belém. Hoje, agradeço a toda equipe que tornou esse transplante possível, e à família da doadora. Uma parte daquela pessoa está viva dentro de mim. Por isso, é importante falar sobre doação de órgãos e conscientizar todos sobre o assunto, para a família autorizar e salvar outras vidas”, disse Ana Gabriela.
De acordo com Rafael Romero Garcia, coordenador da equipe de Transplante de Fígado da Santa Casa, “se tivesse doação suficiente, a gente poderia ter essa fila zero. Na região Norte, os índices de doação são muito baixos em relação ao restante do País. E sem doação não tem transplante. Não tem motivo a gente ter tudo o que tem aqui de equipe, material, equipamento. Investimento alto, mas se não tem a doação fica difícil. A gente só consegue funcionar se houver a doação”.
O cirurgião reiterou que “só há transplante com doação, e doação só acontece no Brasil se a família autorizar a retirada do órgão. Mas, para isso, as pessoas precisam falar e demonstrar o interesse de ser doador ainda em vida. Aceitar a doação é um gesto muito nobre. De certa forma, a vida continua, seja no fígado, no rim ou nas córneas de alguém”.
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Lutas diárias para a conquista de melhor qualidade de vida
Jefferson Assayag é professor de História, e foi transplantado em março deste ano, na Santa Casa. Ele contou que após ficar internado 39 dias no ano de 2020, em um hospital, terminou contraindo várias doenças, a mais grave foi a cirrose hepática e pulmonar.
“A cirrose hepática é um problema sério, porque o fígado é responsável por mais de 50 funções no organismo, e isso afetou a minha vida e da minha família, além dos amigos que perceberam que eu estava numa fragilidade imensa. E não é fácil você superar e ter que entrar numa fila de transplante esperando a oportunidade de alguém ter a solidariedade de doar seus órgãos e que a família empenhada também tenha naquele momento de luta, de dificuldade, ter que cumprir o desejo de alguém que estava vivo e que partiu, né?”.
“No decorrer de nossa luta apareceu uma pessoa que eu não conheço nem quem é e que eu tenho feito minhas orações agradecendo a ela, agradecendo a família dela por esse ato solidário da doação do fígado que recebi. Sei que não é fácil uma pessoa, no momento de dor, ainda ter que passar por essa experiência. Eu agradeço muito a esse ato de desprendimento e solidariedade humana. Neste sentido, faço um apelo para a importância da doação de órgãos que salva e que serve para outras vidas, para que outras pessoas continuem a sua jornada aqui na terra”, disse Jefferson Assayag.
'São profissionais competentes', diz paciente transplantado por equipe da Sta. Casa
O professor Assayag destaca a atuação de toda a equipe de hepatologia da Santa Casa, sob o comando do doutor Rafael. “É um departamento que realmente funciona. Um departamento necessário e que está atendendo a comunidade. São profissionais competentes que buscam salvar a vida de muitos pacientes. Tantas pessoas que eu conheço que já tiveram na fila, que já receberam os seus órgãos e que a vida mudou. Eu agradeço muito o trabalho dos profissionais da Santa Casa do Pará”.
Para o médico Rafael Garcia, a cirurgia de transplante é um marco profissional e pessoal. “É a realização de um sonho pessoal. Estudamos a vida toda para fazer isso. Foram anos de treinamento e preparação, e aqui, no Pará, na Santa Casa, a gente realiza esse procedimento. E com o engajamento de todas as áreas para que funcione bem. Ter esse Centro aqui no Pará, evita que a população tenha que sair do Estado. Ver esse resultado é gratificante”.
Em abril de 2022, foi publicada no Diário Oficial da União a Portaria 134, que autorizava a Fundação Santa Casa do Pará a realizar a retirada e transplante de fígado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Hospital tem capacidade instalada para realizar pelo menos um transplante por semana. Atualmente, há uma fila de 26 pacientes na área hepática ativos e mais de 30 no processo final de avaliação.
Sociedade precisa se sensibilizar
Érika Costa de Moura, nefrologista pediátrica da Fundação Santa Casa, destaca a importância do ato da doação. “Para falar de transplante a gente precisa ter em mente que só consegue a doação de órgãos com a autorização da família. Então é importante que tenhamos a consciência de comunicar nossos familiares, que nós temos o interesse de doação em vida mesmo, para que naquele momento difícil, naquele momento de dor, a família possa tomar a decisão de colocar em prática a vontade daquela pessoa que era ser doadora de órgãos”.
“Com a doação dos órgãos a gente consegue beneficiar até 8 a 11 pacientes, dependendo do local, como fígado, rins, córnea. A gente consegue contemplar esses pacientes. É importante lembrar que tem milhares de pacientes na fila e dessas centenas de crianças na fila no Brasil todo. E por mais que a gente consiga transplantar bastante, a gente também tem um incremento a cada ano. A cada mês de pacientes novos chegando, por conta das doenças renais crônicas”. Informa a médica.
Hospital Abelardo Santos reforço a captação de órgãos
Em apenas 20 dias do mês de maio, o Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), em Icoaraci, distrito de Belém, realizou oito captação de órgãos. Esse resultado representa um avanço na consolidação da unidade como referência na captação de rins e fígado no Pará.
“Oito pessoas tiveram uma nova oportunidade. É um processo minucioso, mas também nobre. Cada doação carrega consigo uma trajetória, uma família, uma escolha que transforma a realidade de quem aguarda por um transplante. A doação de órgãos não é apenas sobre salvar vidas, é sobre transformar a dor em esperança, e essas famílias entenderam que, mesmo no momento mais difícil, é possível fazer a diferença”, disse a enfermeira Dejenane Costa, presidente da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do HRAS.
No Abelardo Santos, os procedimentos seguem os protocolos do Ministério da Saúde, com exames clínicos e a avaliação da CIHDOTT do hospital, até a confirmação do diagnóstico de morte encefálica. As captações foram viabilizadas pela Secretaria de Estado da Saúde do Pará (Sespa), por meio da Central Estadual de Transplantes (CET), como parte das ações que fortalecem a política pública de transplantes no estado.
O médico coordenador da Central Estadual de Transplantes da Sespa, Alfredo Abud, ressalta que "as iniciativas para sensibilizar a sociedade, em geral, são fundamentais para manter o avanço na realização dos transplantes. Além disso, é fundamental que as famílias conversem sobre a doação de órgãos e manifestem essa decisão de forma clara. Esse ato ajuda a salvar vidas", destacou Alfredo Abud.
De acordo com o doutor Alfredo Abud, o objetivo é oferecer assistência integral e gratuita aos pacientes do Estado. “Os resultados positivos que estamos colhendo nos últimos anos são fruto de um esforço coletivo entre profissionais de saúde, governo e sociedade, promovendo esperança para quem aguarda por um transplante”.
Confira os serviços de referência em transplante na rede estadual de saúde pública:
- Hospital Ophir Loyola- HOL (rim adulto)
- Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará - FSCMPA (rim pediátrico e fígado)
- Hospital Regional do Baixo Amazonas – HRBA, em Santarém
- Hospital Regional Público do Araguaia, em Redenção.
- *Esses dois últimos hospitais regionais têm suporte para transplantes de rim.
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