Dia da Consciência Negra: Cedenpa reforça luta antirracista na Amazônia
No Pará, o Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará (Cedenpa), uma das mais antigas e atuantes organizações do movimento negro brasileiro, reforça que a data é um marco não apenas político, mas também espiritual e civilizatório.
No Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, o Pará reafirma sua centralidade na luta antirracista na Amazônia. No estado, o Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará (Cedenpa), uma das mais antigas e atuantes organizações do movimento negro brasileiro, reforça que a data é um marco não apenas político, mas também espiritual e civilizatório.
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“O 20 de novembro é o dia em que reafirmamos que a história do povo negro no Pará não começa na escravidão. Ela é feita de resistência, de territórios sagrados, de cultura e de luta”, afirma Mãe Juci D’Oyá, Iyalorixá do Ilê Omo Oyá Odé Axé Omi Dáa Ofùurufu, baiana de acarajé e ativista do Cedenpa.
Segundo Mãe Juci, a data simboliza a presença viva da população negra na Amazônia. “Somos trabalhadores, mães de santo, ribeirinhos, quilombolas, artistas, juventudes, intelectuais. É um dia de denúncia, mas também de afirmação da força e da dignidade do nosso povo”, destaca.
Conexão com os movimentos negros
Essa perspectiva reforça a conexão entre o 20 de novembro e a trajetória histórica dos movimentos negros no Pará e no Brasil. No estado, o Cedenpa acumula mais de quatro décadas de enfrentamento ao racismo institucional e de incidência na criação de políticas públicas. Nacionalmente, a data celebra a memória de Zumbi dos Palmares, Dandara e tantas lideranças apagadas pela história oficial.
“É a afirmação de que continuamos em marcha, das quebradas às universidades, dos terreiros aos quilombos”, destaca a ialorixá.
Com a realização da COP 30 em Belém ampliou a presença e a projeção das pautas do movimento negro da Amazônia no debate climático global. O Cedenpa participa de mesas, articulações e incidências com delegações nacionais e internacionais, levando um recado direto, não há solução climática possível sem justiça racial.
“Estamos reivindicando que quem protege a Amazônia todos os dias seja ouvido: comunidades tradicionais, quilombolas, povos de terreiro, juventudes e mulheres negras”, explica Mãe Juci.
Discriminação no jogo do Remo x Avaí
O ano de 2025 também foi marcado por casos de discriminação racial no Pará, entre eles, o episódio de racismo envolvendo o jogo entre Remo e Avaí, amplamente denunciado e investigado. Para o Cedenpa, esses casos revelam a continuidade de um racismo estrutural que se tenta naturalizar.
“Quando esses episódios ganham repercussão, mostram aquilo que denunciamos há décadas, o Pará precisa de políticas efetivas, e não apenas campanhas simbólicas”, afirma Mãe Juci. Para ela, cada caso deve ser tratado com seriedade. “Cada caso exige resposta rápida, responsabilização e políticas que impeçam que se repitam”.
Para além do evento internacional, o movimento negro espera que governos, empresas e sociedade assumam compromissos concretos e permanentes.
“Espero ver compromissos verdadeiros com equidade racial, com a proteção de territórios sagrados, com o combate ao racismo ambiental”, destaca Mãe Juci. Ela também cobra responsabilidade socioambiental das empresas. “Que parem com o marketing e assumam ações reais”, pontua.
O legado esperado da COP 30, segundo o Cedenpa, é a institucionalização de políticas públicas que coloquem a justiça racial como eixo estruturante da agenda climática e do futuro da Amazônia.
Neste Dia da Consciência Negra, o Pará reafirma que a luta por igualdade racial não é apenas memória, mas construção cotidiana, nos terreiros, nas periferias, nas universidades, nas comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas.
Como resume Mãe Juci D’Oyá, “somos presença viva. Nossa história é feita de resistência e dignidade. O 20 de novembro é o dia em que lembramos isso ao mundo”.
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