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Adoção liberta e muda vida de homem trans

"Ser trans deveria ser legal, ser diferente. Mas no Brasil, é assinar todos os dias a certidão de óbito."

Victor Furtado / O Liberal

Danillo Pietro, de 21 anos, é um homem trans. Para quem ainda não compreende corretamente o termo, ele nasceu no gênero feminino, mas não se identificava com o corpo, gênero e identidade. Contudo, a família dele não aceitava. A vida era um constante desafio, mesmo dentro de casa. Vivia acuado, triste e isso atacou a saúde mental dele. Por vezes, se mutilava e teve pensamentos suicidas. Algo que, lamentavelmente, é a realidade de muitos LGBTIs no mundo.

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Há alguns anos, ele estava fazendo um curso profissionalizante. Conheceu a professora Andréia Craveiro, que era substituta no curso. De início, não se deram muito bem. Mas foi com ela com quem desenvolveu uma amizade cada vez mais forte. Com a família biológica, a relação seguia piorando. O curso um acabou. E quando foi escrever o nome no certificado, Danillo não usou o nome social — um direito soberano de pessoas trans —, o que chamou a atenção da professora.

Eles começaram a conversar sobre ele ser um homem trans. E sobre o que aquilo representava no dia a dia dele. A amizade se fortaleceu ainda mais. Andréia se tornou um dos principais suportes dele num momento em que enfrentava uma depressão severa. Numa visita à casa de Andréia, ela disse que se tivesse espaço, o chamaria para morar com ela. Danillo acabou, espontaneamente, perguntado se ela não gostaria de ser mãe dele. Foi um susto. Um susto passageiro.

Inicialmente, Andréia pensou em ser uma amiga que ajudaria a reconciliação com a família. Mas não deu certo. A proposta foi aceita e ela hoje é mãe dele da fato. Foi uma adoção que mudou a vida dele. O libertou. Com ela, não precisava se esconder e nem sentir medo, revolta... ele podia ser o que é, um homem trans. Um estudante de Administração da Universidade Federal do Pará (UFPA). E também tatuador, poeta, desenhista e trabalhador social voluntário. No braço, ele tatuou a palavra mãe em homenagem à ela.

Juntos, enfrentam o ódio há três anos. A chegada dele na família de Andréia iniciou um processo de transformações e mudanças. Danillo considera que era uma família preconceituosa e machista. Lentamente, está conhecendo os novos primos, avós e dando voz às pessoas LGBTIs.

"Ser trans deveria ser legal, ser diferente. Mas no Brasil, é assinar todos os dias a certidão de óbito. Nunca se sabe onde vai ser assassinado, se no banheiro, na rua, ao ser visto com seios ou com um jeito mais afeminado. As pessoas fazem questão de manter seus preconceitos. Ser LGBTI é complicado, mas ser trans é um pouco mais. Um gay, uma lésbica ou bissexual, só será conhecida se alguém quiser se relacionar. As pessoas nos julgam por nossas genitálias. Não existem pessoas, profissionais", critica Danillo.

Para o Dia Internacional Contra a LGBTIfobia, Danillo pede que as pessoas comecem a refletir sobre as "brincadeiras" preconceituosas e discriminações, principalmente as que se baseiam em religiões. "Isso pode levar pessoas ao suicídio. Enquanto as mulheres trans estão sendo assassinadas, os homens trans estão se matando. Não respeitar nome social, identidade... não somos obrigados a aceitar isso. Não vamos baixar a cabeça para essa sociedade hipócrita e preconceituosa", conclui.

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